A partir do romance “Carta à Rainha Louca”, de Maria Valeria Rezende, lançado em 2019, Ana Barroso desenvolve “Isabel das Santas Virgens e sua Carta à Rainha Louca”, com direção de Fernando Philbert. A personagem é real, viveu na segunda metade do século XVIII e, por conta de sua busca pela independência, foi condenada à prisão.
Ana surge com uma roupa atemporal que nos lembra exatamente um passado de trabalho, renúncia, simplicidade, sem qualquer sinal de vaidade. O cenário é repleto de folhas que nos lembram cartas antigas. Ana, falando de si, começa doce e suave. A partir daí, em uma atuação que nos lembra um delicado bordado, vai compondo a história de Isabel e todas as suas dificuldades e contradições. Fala de si, mas se refere à situação, ainda atual, das mulheres.
Ana, já Isabel, é uma narradora hábil e talentosa. Alterna as tristezas, as dificuldades, nos emociona, nos entristece, nos faz torcer com a voz e as mãos que também são espalmadas e contidas, a depender do que está sendo falado. Sem o cenário realista de beira de rio ou de cela de prisão, nos transporta para esses locais, apenas com a sua voz – tarefa rara de encontrar.
A direção de Fernando Philbert encontra o tom correto em uma história que poderia escorregar para os extremos da pieguice ou de agressividade. Fernando, na realização de Ana, nos faz pensar como, desde sempre, as dificuldades da mulher advém de querer encontrar seu caminho de escolha, de sua individualidade. Esse encontro entre querer e poder é que Ana realiza como atriz-idealizadora, e com total talento.
Serviço:
Espaço Abu (Av. Nossa Senhora de Copacabana, 249)
Sábado e domingo, às 20h
Informações: 2137-4183 ou 2137-4184
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“A Língua – Mãe”, uma lição exemplar
Em português, fala-se de dar uma lição moral ou fazer um sermão quando alguém que impor o seu pensamento. Em inglês se fala “dar uma conferência”. A peça “A Lingua Mãe”, monólogo de Juan José Millás, reflete sobre a linguagem, as palavras, A obra começa como uma palestra e, aos poucos, Monica Biel (atriz e tradutora) apresenta suas para questionar a nossa capacidade de sermos donos das palavras ou são elas que nos dominam no meio da algaravia que estamos vivendo.
Monica, sob a direção de André Paes Leme, se apresenta com um figurino, daqueles protótipos de uma pessoa professoral. Abre o dicionário, os óculos, consulta o texto da conferência. Tudo converge para alguém que, à primeira vista, nos parece dogmática. Mas a evolução da apresentação nos leva para os outros caminhos . Entra e sai do dicionário, dos papéis nos quais está o texto que deve falar.
A firmeza de Monica nos envolve, ao interpretar uma personagem que oscila o tempo todo entre o que está definido – as próprias regras da língua — e as suas sensações e as suas versões. A direção de Andre Paes Leme traz a leveza não necessária a um texto, absolutamente mordaz e crítico, que faz do jogo de palavras a capacidade de refletir sobre o que somos e o que pensamos.
Serviço:
Espaço Abu (Avenida Nossa Sra de Copacabana, 249)
Sexta (01/12), às 20h.