Além dos artistas, tem um nome na frente, no meio, atrás de grandes produções cinematográficas: o distribuidor e coprodutor Bruno Wainer. O amor ao cinema na vida desse empresário vem de longe, quase de criança, quando seu pai, Samuel Wainer, foi para o exílio durante a ditadura, e ele viveu boa parte da infância no exterior. Mas foi no Brasil que Bruno virou um grande nome na distribuição de filmes nacionais desde 1991, como sócio da Lumière. Em 2006, fundou a Downtown Filmes; desde então, foram milhões de ingressos vendidos e faturamento superior a R$ 1.9 bi apenas nos cinemas. E, na sequência dessa carreira crescente, em 2019, lançou o filme de maior público e renda da história do cinema brasileiro, “Minha mãe é uma peça 3”, com Paulo Gustavo (seu grande amigo, morto pela covid-19), com 11.7 milhões de ingressos vendidos e R$ 182 milhões de renda.
Pela Downtown, Bruno acaba de receber o Prêmio José de Alencar, da Alerj: “Modéstia à parte, homenagem merecida: foram 186 filmes brasileiros distribuídos, com 168 milhões de ingressos vendidos”, diz.
Mesmo sem queixas profissionais ou financeiras, a pandemia chegou com tudo, trazendo pânico generalizado – no caso de Bruno, muito medo, ansiedade e angústia. Nesse vaivém de sentimentos, foi parar num psicanalista. O passo seguinte foi a descoberta da meditação, dos livros e de documentários do gênero, natureza etc. Sentindo na própria pele os benefícios, resolveu levar a experiência pessoal para o lado profissional, surgindo assim a Aquarius, plataforma voltada para a espiritualidade, com um catálogo inicial de cem títulos, dirigida pelo seu filho, Gabriel Wainer; nesta segunda (26/06), no Estação Net, no Shopping da Gávea, acontece o primeiro lançamento exclusivo da nova plataforma: “Eu”, de Ludmila Dayer, sobre sua busca de autoconhecimento para superar a síndrome do pânico.
Depois das crises trazidas pela pandemia, meio que comum na vida de todo mundo, como você chegou à conclusão de que precisava de ajuda?
Eu tinha acabado de lançar “Minha mãe é uma peça 3”, o filme de maior sucesso da história do cinema nacional, quando a pandemia chegou. Eu, simplesmente, paniquei, uma angústia insuportável se instalou e um medo terrível da morte tomou conta de mim. Tive que procurar ajuda.
Como era sua vida antes da Aquarius e como é agora?
Para além da superfície de uma vida profissional e pessoal de sucesso, eu era uma pessoa estressada no limite, porém nem percebia. Agora continuo estressado (bem menos), mas, ao menos, eu percebo (rsrs). Brincadeiras à parte, hoje priorizo as coisas realmente importantes da vida: a saúde, os relacionamentos e uma vida com um propósito consciente.
Acha que, de alguma maneira, seus pais (os jornalistas Samuel Wainer e Danuza Leão) influenciaram nas recentes escolhas da sua vida?
Minha mãe foi uma pessoa maravilhosa, de grande inteligência e autêntica no seu pensamento, mas minha grande influência veio do meu pai, me identifico demais com sua vocação de empreendedor e seu otimismo inabalável no que está por vir.
O que mais o ajudou entre as alternativas oferecidas?
Terapia e meditação, com certeza. No processo, entendi que minha crise já estava instalada em mim muito antes; a pandemia a fez explodir. As duas principais lições quando você aprende a meditar é ter um propósito pra meditação e, ao final, compartilhar os méritos e benefícios da prática. Durante minha terapia, assisti a filmes incríveis sobre meditação, Budismo e autoconhecimento – filmes que chegavam a mim de uma maneira quase clandestina, links obscuros do youtube, filmes sem qualidade técnica, sem legenda. Um dia, tive o insight: reunir esses filmes numa plataforma com qualidade, como forma de compartilhar os benefícios que estava recebendo.
Como surgiu a Aquarius e qual a origem do nome?
O nome Aquarius é em homenagem à era de Aquário, que simboliza exatamente os valores e a mensagem dos filmes que estão na plataforma.
Depois dessa história, de produtor e distribuidor, você poderia ser o personagem principal de um filme sobre burnout, ansiedade, exaustão etc?
Que nada! Existem histórias muito mais dramáticas que a minha (rsrsrs).
À frente da operação, está seu filho, Gabriel Wainer, CEO da Aquarius. Qual a identificação dele com o projeto?
A Aquarius é um projeto que nasceu familiar. Minha mulher, Ana, é parceira desde o momento zero. Ela me deu a primeira pista pro insight de criar a plataforma, além de ser a designer de toda a sua identidade visual. Gabriel herdou a vocação empreendedora e, mais do que tudo, amplia minha visão e me traz para um mundo mais moderno e contemporâneo.
São 100 títulos iniciais e cinco lançamentos mensais programados, entre produções nacionais e internacionais… Como acontece essa curadoria para tanta coisa?
Gabriel trouxe para a equipe uma pessoa sensacional, o jornalista e diretor de teatro Luiz Felipe Reis, pra fazer a curadoria dos conteúdos. Ele tem uma cultura absurda, uma grande inteligência, curiosidade e faz um trabalho impecavel na busca, seleção e negociação dos nossos filmes.
De todas as categorias e títulos, qual você se identifica mais e por quê?
Todas as categorias e temas se inter-relacionam, mas eu gosto especialmente dos filmes que tratam de meditação, Budismo e contracultura. É pra mim a base da existência de Aquarius.
Pela sua experiência, as pessoas estão mais atentas com o outro, ou falta muito pra uma consciência coletiva?
A pandemia acelerou a percepção geral de que, se não mudarmos o rumo de como levamos nossa vida, a coisa pode ficar muito feia e de modo irreversível. Claro que há uma imensa jornada a trilhar, mas qualquer mudança de atitude, por mínima que seja, já causa um efeito enorme no Planeta – nem que seja um minuto apenas meditando ou desejando um simples e sincero bom-dia pro porteiro do seu prédio.
Foto: Pedro Curi