Quando um grupo de pessoas se une por meio de uma mesma cultura, costume, idioma ou história, criamos uma identidade artística. Essa arte vai muito além de um olhar puramente estético, mas histórico, conceitual. É extremamente sofisticado olhar essa arte espontânea e tribal com a mesma generosidade que a imensa diversidade cultural nos oferece. No Brasil, são 305 etnias que falam 274 idiomas.
Os povos indígenas deixaram sua marca na nossa cultura e formação e, por mais despercebida ou desvalorizada, a arte tribal se conecta com toda a nossa cultura, design e arte até hoje. Usamos folhas, palhas, redes, couro, piaçava, madeiras e cores muito inspiradas nessa arte.
Materiais, como bambu, os trançados de palha e até mesmo as aberturas em projetos (importante para a casa tropical), usam as técnicas como os índios.
A arte indígena começou através de tatuagens no corpo para identificar a posição social e a tribo com determinados desenhos geométricos, que, com o tempo, passaram para os objetos de palha, madeira, barro e esculturas. Cada desenho tem um significado espiritual e histórico.
Aparentemente, a arte tribal parece ingênua, pois as qualidades estéticas são muito menos valorizadas do que a dimensão espiritual de cada peça. Os colecionadores, artistas e curadores passaram a olhar essa arte não mais como um mero artesanato, mas sim como uma arte capaz de comunicar emoção, história e inspiração mística.
Na arquitetura, copiamos a oca até hoje, os tetos de palha, as alturas dos pés-direitos, as aberturas posicionadas com a posição do sol, a ventilação regulada e cruzada e os espaços amplos. Hoje, as pessoas antenadas e sofisticadas buscam, na arte indígena, suas referências básicas num mundo em que a tecnologia e a mutação de ideias ainda não foram corrompidas.
Vivemos um momento sensível nas comunidades indígenas, e ter o olhar para esses povos é extremamente importante para a consciência humanitária, arte, cultura e história.
Perguntamos à atriz e apresentadora Danni Suzuki, descendente de japoneses, alemães, italianos e indígenas, o que para ela é a relação com a arte tribal:
“Morei com índios no alto Xingu, com gueixas no Japão, ciganos na Europa e esquimós no Alasca. Entender culturas diferentes com forte significado histórico na formação da nossa sociedade sempre me interessou. Quando tive essa incrível experiência no alto Xingu, pouquíssimos índios falavam português e, mesmo como observadora, fiz uma conexão muito rica com as crianças e as mulheres da aldeia – desde o preparo das comidas, arte e a criação dos filhos. Fui convidada para a festa do encontro das aldeias do alto e do baixo Xingu. Foi lindo e muito significativo, pois pouquíssimas pessoas têm esse privilégio. Hoje vejo a arte indígena por um outro prisma: cada objeto conta uma história, tem um significado, uma conexão mística e carrega toda a dificuldade de uma execução inteiramente manual. Sem ferramentas ou pregos, a pureza e a beleza dessa arte estão em cada detalhe”.
E continua: “Sou a mistura dessa cultura e me sinto muito próxima. O sentido do coletivo é fundamental na cultura indígena: cada objeto é feito pela comunidade e para a comunidade. Comprar um objeto, dar valor e significado ajudam a manter fisicamente os índios, assim como, culturalmente, toda a comunidade, além de ser um importantíssimo resgate histórico para o nosso país. Ajudo a tribo ‘Mehinaku’ a divulgar suas peças e objetos. A beleza dessa arte vai do início ao fim, pois o valor agregado da venda ou do reconhecimento artístico é destinado inteira e unicamente para ajudar a manter a existência física e cultural de toda a tribo”.
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