Gustavo Reis Ferreira, o Tutuca, 43, subiu a escala na política fluminense e hoje está numa das secretarias estaduais mais importantes do estado: o Turismo. Ele esteve à frente da pasta entre 2020 e 2022, em sua primeira passagem pela Setur, responsável pela retomada do pós-pandemia, trabalhando em 12 regiões do estado; na sua gestão, foi criada a maior campanha publicitária, “O Rio Continua lindo. E perto!”
Desde então, o estado tem batido recorde sobre recorde na ocupação hoteleira, tanto na capital como no interior, juntando a isso, claro, o desejo ardente das viagens pós prisão covid-19, digamos assim. O RJ aparece em praticamente todas as estatísticas de plataformas de viagem como destino predileto dos brasileiros — e da maioria dos estrangeiros, ou seja, prestígio super em pé.
O turismo representa 5,49% do PIB do estado, e a meta da pasta é aumentar essa porcentagem. Em dezembro passado, também foi lançada a campanha “Apaixone-se pelo Rio”, com investimentos até 2032, para dar um gás nos turismos interno e internacional – neste segundo, a meta é elevar de 1,2 milhão por ano para 6,3 milhões de pessoas.
O hiato, antes de voltar ao cargo em janeiro deste ano, foi pelas eleições de deputado estadual – em seu quarto mandato consecutivo, com mais de 52 mil votos (os outros foram em 2010, 2014 e 2018). Pela Constituição, é possível a licença do mandato para exercer cargos no Poder Executivo, como o dele.
Tutuca nasceu em Piraí, interior no Sul Fluminense, com 29 mil habitantes, e sempre foi muito ligado à família – em seu perfil nas redes, o ambiente é 100% institucional, mas deixa claro: “Marido da Andrezza e pai de Gustavinho, Arthur e Vitória”. Formado em Análise de Sistemas e defensor de projetos de educação e inclusão digital, começou na vida pública em 2005, mas o incentivo do pai, Arthur Henrique Gonçalves Ferreira, o Tutuca (morto em outubro do ano passado), deve ter começado praticamente desde a primeira infância; foram quatro mandatos como prefeito de Piraí. “Foi com ele que percebi que a política séria, bem feita, muda a vida das pessoas”, diz.
Abaixo, a entrevista com as previsões de Tutuca para o turismo e “otras cositas más”.
O que é estar à frente do Turismo num dos estados mais visitados do mundo?
Uma responsabilidade enorme, mas também um prazer. O Rio é o principal cartão-postal do Brasil e tem sido também a principal porta para a entrada de turistas internacionais no País. Nosso desafio é alavancar ainda mais este ótimo momento do setor e consolidar o Rio como principal destino turístico do Brasil.
Você voltou à Secretaria Estadual de Turismo, para o carnaval grandioso de 2023, 100% sem restrições. Significa que uma grande equipe na sua pasta foi mobilizada para esse “rojão”?
Significa que há gestão e projeto de continuidade no governo Cláudio Castro. Quando deixei a Secretaria de Turismo para poder concorrer à reeleição para o quarto mandato de deputado estadual, meu sucessor, Sávio Neves, se preocupou em trabalhar pelo turismo, em dar prosseguimento às estratégias que desenvolvemos. E é assim que tem que ser. A secretaria tem uma equipe técnica muito capacitada, o que facilita o trabalho na ponta. Na minha primeira passagem pela pasta, fizemos um plano estratégico chamado “TurismoRJ + 10 Anos”, com iniciativas para reconduzir o Rio ao patamar de competitividade com outros destinos no cenário mundial, considerando valores de sustentabilidade, integração e vocação turística de cada região do estado. O TurismoRJ+10 vai nortear o trabalho do Governo do Estado no turismo pela próxima década.
Sobre reclamação, foram muitos furtos a celulares e golpes de cartão em blocos etc. Obviamente que a sua secretaria não é a responsável por segurança ou ordem pública, mas acaba resvalando na pasta, já que roubos e furtos são um problema crônico e um dos fatores de afastamento de turistas. Como melhorar isso?
Seja qual for o evento no Rio, a segurança é sempre uma responsabilidade e um dever do estado. Tivemos o melhor carnaval dos últimos anos também nesse quesito. O plano estratégico traçado pelo governo, com integração entre as forças de segurança, reduziu os crimes em que há emprego de violência em todo o estado e também na capital. O investimento em tecnologia, como câmeras corporais e barreiras com detectores de metal, no Sambódromo e principais blocos, foram fundamentais para que tivéssemos uma queda em diversos índices de criminalidade no período, por exemplo, roubo em coletivos (-87%); roubo a transeuntes (-58%); e roubo de aparelhos celulares (-48%). Tivemos também uma queda de 34% no número de ocorrências contra turistas estrangeiros na DEAT, comparado a 2020, com o carnaval em sua plenitude, ainda sem pandemia. Se levarmos em conta que em 2023 recebemos 20% a mais de estrangeiros, é fácil entender que a queda da violência foi ainda maior no período.
Qual seu desejo para os próximos quatro anos, os planos de turismo mais importantes, a meta da pasta, e o que você pretende deixar como legado?
Consolidar o Rio como principal destino turístico do País, tanto para o viajante doméstico como para estrangeiros. É o dever de casa que nos foi passado pelo governador Cláudio Castro, um trabalho contínuo, que não acaba nunca. Então temos que estar sempre buscando novas soluções e estratégias para nos mantermos no topo. Em relação ao legado que eu quero deixar, é um sistema de inteligência e análise de dados para o Turismo do Rio. Na minha primeira passagem pela pasta, nós identificamos esse gargalo, de falta de informações, de números. Desde que voltei, estamos estudando e viabilizando formas de termos essas métricas. Queremos disponibilizar isso para todo o trade turístico, para que as nossas tomadas de decisão sejam feitas com base em análise de dados.
O Rio (capital e interior) está sempre entre os destinos prediletos para feriados e, este ano, estamos com muitos deles. Mal saímos do carnaval e Rio Open, já entramos no Web Summit Rio, que vendeu todos os ingressos para a primeira edição, no começo de maio no Riocentro, e vai receber mais de 20 mil participantes, o Rio2C, fora outros grandes eventos. Qual o nosso maior defeito e maior qualidade nesse sentido?
O turismo de lazer sempre foi e sempre será uma vocação do Rio, mas, nos últimos anos, o estado tem se mostrado muito eficiente e uma ótima opção para o turismo de negócios. Os últimos dados do Rio CVB apontam que o segmento gerou R$ 1 bilhão em receita para o estado. Eu acredito que o jeito informal do Rio, que muitas vezes era visto como algo ruim, tem despertado uma paixão nas pessoas, principalmente depois da pandemia. A possibilidade de dar um mergulho no mar, fazer uma aula de beach tennis ou dar uma caminhada na orla antes de ir para um evento de negócios têm encantado as pessoas. E que lugar melhor para fazer isso do que o Rio?
Vemos uma reclamação geral também em mão de obra especializada, ou seja, somos destino, mas nos faltam atendimento e infraestrutura… O que pensa disso?
Penso que precisamos avançar cada vez mais. Recentemente, lançamos o programa Turismo Presente, que prevê obras de infraestrutura turística em todo o estado. O projeto inicial é da ordem de R$ 100 milhões, investimento que faz parte do PactoRJ, o maior programa de financiamento de ações e projetos da história do Rio de Janeiro. Esse projeto de intervenções na infraestrutura turística surgiu durante a realização dos Fóruns Regionais do setor, quando tivemos a oportunidade de perceber como incrementar cada região turística. Estamos estudando algumas possibilidades; uma delas seria criar uma “Escola Estadual de Turismo”, em parceria com a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia.
Um assunto que está aí é Santos Dumont Galeão. Qual sua posição? Segundo os números, o Santos Dumont está chegando ao limite de sua capacidade, contabilizando cada vez mais passageiros e, como consequência, voos atrasados e cancelados. É um formigueiro humano. Essa situação não é nada sustentável para a cidade. O que você acha que deve ser feito?
O Rio precisa do Galeão. O aeroporto precisa recuperar o seu protagonismo nos cenários nacional e internacional. O estado é o destino preferido dos turistas internacionais que procuram o Brasil e, se os visitantes tiverem dificuldade de acesso, a gente passa a enfrentar a migração dos viajantes para outros destinos, impactando negativamente a economia. O Galeão pode receber 37 milhões de passageiros por ano; em 2022, recebeu apenas 6 milhões. O Santos Dumont tem capacidade para receber 9,9 milhões e recebeu 10,1 milhões, ou seja, enquanto um está operando muito abaixo da sua capacidade, o outro está acima do limite. Um estudo recente da Firjan aponta que o Rio perde R$ 4,5 bilhões por ano com a falta de uma operação coordenada entre os dois aeroportos. Essa equação está sendo solucionada com planejamento e apoio das demais esferas de governo, além da sociedade civil.
Você acabou de voltar da WTM 2023, maior feira de Turismo da América Latina, em São Paulo, e o estande do Rio foi um dos mais visitados. E também, em março, da ITB Berlin 2023, considerada a maior feira de Turismo do mundo. Quais os seus balanços? E o que você costuma ouvir do Rio quando está fora do Brasil?
Participar dos grandes eventos de turismo tem sido de extrema importância para nosso trabalho de promoção do Rio. A proximidade com os operadores turísticos e as companhias aéreas facilita muito o trabalho, permitindo que a gente faça um grande número de reuniões num curto espaço de tempo. Assinamos, na ITB, em Berlim, uma carta de intenção com a empresa aérea alemã Condor, que quer retomar os voos para o Rio, partindo de Frankfurt, possivelmente ainda este ano. E na WTM, em São Paulo, fechamos uma parceria com a CVC, que realizará a convenção B2B da empresa no Rio, com apoio da Setur-RJ, fora outras diversas ações que estão em andamento.
Você é defensor das parcerias público-privadas. Cite alguns exemplos que tenha visto fora do País ou do estado que você pretende implantar ou que gostaria de ter por aqui.
A concessão dos parques públicos de São Paulo é um bom exemplo, um modelo que me agrada. Acredito muito nas parcerias público-privadas — é uma oportunidade de revitalizar o patrimônio público e melhorar a oferta de serviços e o atendimento à população sem onerar os cofres públicos. Além disso, permite que o estado concentre seus esforços onde ele é imprescindível: saúde, segurança, educação, dentre outras áreas.
Como fluminense, qual seu programa predileto no estado e na capital? E o que não faz de jeito nenhum?
Eu sou do interior do estado. Nasci e fui criado em Piraí, no Sul Fluminense, que faz parte da região turística do Vale do Café. Atualmente, passo a maior parte do meu tempo na capital, então sempre que posso fujo para o interior, para ficar com a família e rever os amigos. Gosto muito de ir a Paraty também, que é meu destino preferido de praia, mas não abro mão dos ótimos programas que a capital proporciona, como bons restaurantes, shows e os jogos do meu Fluminense no Maracanã.
Política é um ambiente hostil. Como sobreviver? O que mais adora no cargo e o que é mais difícil lidar?
Vivemos tempos de muita polarização, na política e nas opiniões, o que dificulta, muitas vezes, o diálogo, que é fundamental em tudo na vida. Sempre fui um parlamentar aberto a ouvir e debater com todas as frentes. Ter o diálogo como caminho é algo que aprendi com meu pai, o eterno prefeito Tutuca, e que levo pra minha vida de modo geral. Aprendi política dentro de casa com ele, e entendi, desde cedo, que a política séria e bem feita transforma a vida das pessoas. Costumo dizer que podemos ter adversários, mas não inimigos; essa rivalidade tem que ser restrita ao período eleitoral. Acabou a eleição, os representantes eleitos pelo povo precisam se unir, em todas as esferas: municipal, estadual ou federal.
Foram 100 dias do novo governo, qual o seu balanço em relação ao RJ?
O Rio vive um ótimo momento. E isso é reflexo do excelente trabalho feito pelo governador Cláudio Castro desde o mandato anterior. Ele retomou o diálogo com todos os setores do estado, pacificando as relações e trabalhando pelos 92 municípios fluminenses. Tenho certeza de que seguiremos em ascensão em todas as frentes. Falando especificamente sobre o turismo, já retomamos – e até ultrapassamos em alguns casos – o patamar pré-pandemia em diversos indicadores. Ao mesmo tempo em que estamos em diversos países, promovendo o Rio de Janeiro, seguimos próximo das 12 regiões turísticas do estado, trabalhando para consolidar o Rio como principal destino turístico do Brasil.
Por Dani Barbi