Foi uma festa de casamento em todos os sentidos, a começar, por exemplo, pela elegância do convite – bonito e clássico. Mas, por ser uma união gay, muitos não esperavam que assim fosse: contavam com uma certa informalidade, uma certa gracinha, uma certa descontração além do comum. Isso não aconteceu, de jeito nenhum!
Os figurinos dos convidados davam uma ideia da importância que o evento teve: todos vestidos para uma ocasião especial. Talvez o único homem sem terno tenha sido Boni de Oliveira, que não costuma usar o traje. O único detalhe gay foi a escolha dos garçons: todos muito bonitos; o talento físico certamente teve influência.
Ali, atrás de tudo, na cabeça dos noivos Carlos Tufvesson e André Piva (juntos há 16 anos), que se casaram no Museu de Arte Moderna, nessa segunda-feira (14/11), havia a manifestação ideológica, um ato político, um marco que venha a tornar natural um casamento gay. E, talvez, na cabeça de muitos outros, algo novo estivesse no ar, que pode não ter sido dito, mas muito percebido.
Não se pode negar que esse casal mudou o comportamento de inúmeras pessoas no Rio com relação à homossexualidade. Fala-se tanto no assunto que essa palavra, tão longa por si só, já parece até meio vencida. Foi trazida à tona sob outro ângulo, uma outra visão.
As palavras da estilista Glorinha Pires Rebelo, mãe de Carlos, deu um tom que muitos acharam que complementou o que era duvidado: “Pelo poder divino de mãe, eu os considero casados”. Tanto Carlos quanto André entraram de mãos dadas com suas mães, atravessaram os salões para um canto onde aconteceu a cerimônia de assinatura de união estável, testemunhada pela advogada AnaTereza Basílio e oito casais de padrinhos, gays ou não. Depois houve a troca de alianças – assinadas pelo joalheiro Ricardo Filgueiras. Ao fim, ouvia-se “Eu preciso dizer que te amo”, na voz de Cazuza.
Pensando em música, certamente todos vão lembrar por algum tempo da apresentação da Orquestra de Cordas mirim do AfroReggae – linda cena! Depois foi a vez de Rodrigo Penna, do tão famoso Bailinho e, finalmente, o DJ Luke Hope, vindo de Londres, onde mora.
A certa altura, uma jornalista pegou alguns copos de leite da decoração assinada por Edgar Octávio, e brincou: “Vou jogar o buquê”, ao que alguém ali perto respondeu: “Depois dessa noite de beleza e amor, melhor tomar cuidado: todas as “bees” vão voar em cima de você, querendo ser o próximo a casar”.
Alguns parecem ter mesmo se inspirado. Bruno Chateaubriand e André Ramos, por exemplo, pensam no assunto: “O André gostaria de um casamento assim, deve acontecer no Copacabana Palace”, disse Bruno.
Um baiano-paulista-autêntico, mirando o que até agora julgava improvável, dizia: “Depois de ver isso, quero morar no Rio”. Talvez se dê bem na sua intenção, afinal, na cidade carioca, os casamentos gays são, em média, muito mais longos que os não gays. Alguns exemplos: Gilberto Braga e Edgar Moura Brasil estão juntos há 29 anos; Ricardo Linhares e Lahire Neto, há 20 anos; Nando Grabowsky e Pedro Guimarães, há 19 anos; e muitos, muitos outros. Em recente evento, Toni Garrido comentou: “Se você quer um relacionamento estável, seja homossexual”. Homossexual ou não, a pista bombou até de manhã, com energia (aquela que não existe engarrafada) nas alturas.