O nome mais forte em decoração de festas no Rio, com passos em outros estados e em alguns lugares da Europa, Antônio Neves da Rocha, voltou a ter a vida pré-pandemia. Sua classe, da alegria e do entretenimento, esteve entre as mais penalizadas da pandemia. Depois dessa fase tenebrosa, praticamente com o dedo enfiado no oxímetro o tempo todo, de saldo, a covid comeu a sua memória; em compensação, adeus medo e neuroses. Não foi uma boa troca? No auge do coronavírus, ele disse que seu maior programa era tomar banho, se arrumar com uma roupa bem bacana, se perfumar e saber qual é a maior live do dia. E sair elogiando a torto e a direito. Hoje, o quadro é bem outro: agenda absolutamente lotada. Antonio tem dois livros publicados sobre o assunto: “As cores da festa” e “À mesa, com elegância”. Nesse mercado, não há dúvida, ele é uma grife, para festas na física e na jurídica. Toda a sua criatividade está em cena de novo. Mas o que mudou até aqui?
Leia sua entrevista:
Antes da pandemia, você chegava a fazer 10 festas por mês, podendo ser mais. Com a covid, esse número foi a zero, por razões óbvias. Como foi esse tempo e qual lição você tirou da pandemia?
Esse tempo foi trágico, apavorante, se ver sem saída, os meses passando e tudo ficando mais grave. Foi mais forte que tudo. A gente se via enrolado, mas, ao mesmo tempo, existiam pessoas em situações gravíssimas — uma tragédia sobre a outra. Eu pensava: isso vai se resolver de alguma forma, mas vai. Hoje sou muito mais espiritualizado.
Você movimenta uma cadeia de serviços terceirizados além da sua equipe – aluguel de mesas, louças, espaços, iluminação, garçons, catering, transporte, flores, mobiliário etc. A vida dessas pessoas mudou muito? Qual a situação atual?
Durante a pandemia, claro que mudou. A situação atual é a retomada aguardada, que veio abalando. As pessoas estão com sede de diversão, de encontros, de viagens.
Que mudanças importantes nós pedidos neste pós-pandemia?
Percebo que as pessoas seguram mais o dinheiro, questionam os orçamentos muito mais também. Mas quem me procura tem uma vida financeira mais tranquila, até porque quem não tem dinheiro querer dar festa já é delírio, merece ser internado. Observo também que as coisas encareceram muito. Tudo.
Aumentou a ostentação? Ou está fora de moda?
Eu prefiro acreditar que ostentar está fora de moda. Ostentar não é chique.
E o que está na moda?
Estar na moda é fazer o que pode, ser verdadeiro.
E a alegria, os gestos de amor e amizade?
Acho que todo mundo anda tratando melhor as pessoas; ao menos, deveriam tentar fazer um esforço pra isso. Depois de passar por esses anos dramáticos, teria mesmo de ter tido uma evolução. De gesto, lembrei-me de um cliente meu, por exemplo, bastante rico, que ligou pra fazer o depósito de 50% do valor da festa. Falei que não tinha nem data, não faria sentido e ele disse: o momento é de todo mundo ajudar todo mundo. Está decidido. Fiquei até engasgado. A festa ainda está por acontecer. E outra: ninguém que já tinha pago ligou, pedindo devolução de nada.
Quem é esse cliente maravilhoso?
Você acha que vou dizer?
Como você define essa nova realidade?
Momento de cada um fazer o melhor. Muitas festas grandiosas caíram definitivamente. Isso de remarcações, desistências, logo no início da covid, para três, para seis, desmarca, remarca e desmarca e remarca e remarca, foi ficando cansativo. Teve muito luto, doenças, problemas, aflições de toda ordem, e tudo foi mudando. Festa é pra comemorar só coisa boa; se tem clima ruim no meio, não tem sentido. Ficaram marcas. Tem gente que não quer nem mais nem falar sobre isso. E não dá pra insistir, são motivos humanos.
Comenta-se que a sua agenda anda atropelada com as remarcações.Como você está conseguindo ajustar tudo?
Problemas têm acontecido, como datas repetidas, coincidências de lugares etc. Com algum bom-senso e educação tudo, se ajeita. Vamos organizando para que todos saiam satisfeitos.