Em conversa com a coluna, sobre o “Tim Music Noites Cariocas”, que começa na sexta (18/03), no Morro da Urca, o empresário Luiz Calainho, com seus 35 anos de carreira, parece estar no primeiro projeto, tal sua inspiração. É uma energia organizada com emoção superlativa.
De novidade, além do festival, ele lança o selo “Noites Cariocas Discos”, com as gravações de alguns dos shows nas plataformas digitais em maio/junho, e vai reeditar o livro “Reinventando a si mesmo: Uma provocação autobiográfica”, lançado em 2013, onde fala de sua história. Duas das palavras mais usadas por Calainho podem definir sua vida: reinvenção e força espiritual.
A empresa L21Corp, com diversos negócios ligados à economia criativa — tem sociedades na Aventura Entretenimento, Instituto Evoé, Teatro Riachuelo, Teatro Prudential, Festival Noites Cariocas, Blue Note SP, Vírgula.com, Musickeria, Mix Rio FM e SulAmerica Paradiso FM —, não só passou quase ilesa pela pandemia como também cresceu. Suas rádios, por exemplo, tiveram, juntas, um crescimento de 27% no número de ouvintes; as visualizações das redes sociais dos teatros Prudential e Riachuelo passaram de 1.6 milhão para 33 milhões entre março e agosto do ano passado.
Agora, Calainho prevê um evento presencial, como ele diz, de “uma energia surreal”. O investimento foi de R$ 6,5 milhões: da Tim e parcerias com a HUB 777, Accioly Participações, do sócio Alexandre Accioly; e Bondinho Pão de Açúcar). Ele espera um público de 20 mil pessoas e outras 2,5 milhões nas plataformas digitais. O festival foi criado por Nelson Motta nos anos 1980, com uma segunda edição entre 2004 e 2009, produzida pelos sócios Calainho e Accioly, e agora volta com 14 atrações em quatro fins de semana, como Iza, Ney Matogrosso, Os Paralamas do Sucesso, AnaVitória, Capital Inicial e Diogo Nogueira, até 09 de abril, quando encerra com a estreia da turnê “Baby e Pepeu 140 Graus”, que completam 70 anos em 2022 e não sobem juntos ao palco há décadas. Pra você, na vida, o entusiasmo do Calainho.
Por que voltar com o “Noites” e como acredita que vai ser nesse momento sem máscaras no Rio?
Vai ser brilhante! Importante dizer que é o festival mais longevo na história da música brasileira, com 42 anos. Considero o Noites uma espécie de startup do gênero pop rock brasileiro porque, até os anos 1970, ele meio que não existia. Começa a pintar Barão Vermelho, Titãs, Kid Abelha, Paralamas do Sucesso, Léo Jaime, e o Nelson (Motta) teve a ideia genial de criar essa marca e inventar de fazer show lá em cima, no Morro da Urca. Estou na música há 35 anos; já estive em festivais nos cinco continentes e te falo, sem medo de errar: a experiência do Noites é completamente única. Primeiro, porque você está naquela pedra poderosíssima, naquela força espiritual; dali, você vê a alma do Rio, e isso tem um poder muito grande.
Como surgiu a ideia da volta?
Em maio passado, eu e o Alexandre (Accioly) entendemos que a pandemia ia começar a refrear, e nada melhor do que a gente voltar com uma marca emblemática para a música, como um grande retorno justamente na pós-pandemia. Seremos o primeiro grande festival no entre aspas pós-pandemia; ao mesmo tempo, somos o festival mais longo da história — olha essa confluência poderosa. Vai ser uma loucura, o Morro vai decolar. Vai ser uma injeção de adrenalina em cariocas, brasileiros e em quem estiver conectado conosco, porque as máscaras estão liberadas para as pessoas se abraçarem, se beijarem. Estou todo arrepiado!
E a escolha das atrações teve uma coerência?
Claro. Trabalhei com três grandes verticais: a primeira celebrando os gigantes, depois os artistas muito importantes da nova geração e também os artistas que não estão fisicamente aqui, mas a música e a arte estarão para sempre. Então chamamos Léo Jaime, Paralamas, Capital Inicial, Ney Matogrosso, Baby do Brasil e Pepeu Gomes, que não faziam show juntos há milênios. Ambos fazem 70 anos este ano, e estamos chamando “Baby e Pepeu 140 graus”. E, da nova geração, temos Diogo Nogueira, Iza, o baixista Fernando Rosa, o Baiana System, e as meninas Anavitória; a terceira convidamos três musicais para fazer pocket em homenagem a Tim Maia, Cazuza e Cássia Eller. Imagina o que vai ser? Uma absoluta redenção espiritual, e o Rio merece isso por todos os motivos do mundo. Vai ser uma ode ao sorriso, à música, ao abraço e ao beijo. Vai entrar para a história, porque, agora, outra pandemia, só daqui a 100 anos.
E de onde vem esse lado espiritual?
O lado espiritual é absolutamente fundamental na trajetória, independentemente da atividade. No fim do dia, o que está acontecendo dentro de você, do ponto de vista espiritual, é o que vai refletir na sua vida externa. Se você está fortalecido e conectado com a natureza, isso lhe dá força. Além de meditar, tomar banho frio, ter uma alimentação ultrabalanceada, faço exercícios físicos, uma série de procedimentos que levo para a minha vida, mas a conexão espiritual é fundamental.
Acredita que falta incentivo à cultura?
Para colocar de pé um festival desses, temos que ter o produtor, o poder público e as grandes marcas envolvidas. Aproveito para fazer uma convocação aos empresários do Rio porque, independentemente do poder público, a iniciativa privada é fundamental para o crescimento de um país. A economia criativa é fundamental no Rio — é uma vocação, então todos nós precisamos entrar nessa aliança do bem em prol da arte, da cultura, da economia, porque é um dos grandes caminhos para a volta do crescimento do nosso tão querido Rio.
Pretende seguir na carreira política?
Em algum momento, pretendo, sim. Trabalhando com economia criativa há tantos anos, precisamos ter um olhar específico, porque o Rio é um gerador gigante de receita. Você tem alguma dúvida de que Manhattan é o que é por conta da economia criativa? Broadway, museus, casas de shows? A gente tem potencial, e isso não está explorado com a magnitude que merece. Já tiveram algumas conversas, não entrei, mas garanto que isso vai acontecer em algum momento, com muita alegria e, sobretudo, pela paixão que tenho pelo nosso povo, pelo Rio e pelo Brasil.
Tem algum exemplo na política?
Eduardo Paes é um político que eu admiro. Ele não é perfeito, como todo mundo, mas tenho admiração pela energia, pela paixão e pela vontade que ele coloca nas coisas, e é um cara ligado em economia criativa.
O que a pandemia trouxe ou levou do Calainho?
Em 2013, lancei o livro “Reinventando a Si Mesmo”, que agora reeditei e vou lançar no segundo semestre. De lá pra cá, rolou muita coisa, então estou atualizando. Conto histórias, fatos e, na essência, defendo: procure se reinventar sempre, procure fugir da zona de conforto, até porque muitas vezes ela não está tão confortável assim. Quando o cara se liga, com 70/80 anos, a vida passou. A gente tem que se perguntar se estamos acomodados e se podemos melhorar. Isso vale pra tudo, para relação com a minha mulher (Larissa Gontigo), meu filho (João Calainho), o lado profissional e as amizades. Eu tenho uma ótima obsessão, sou obcecado pela reinvenção, que é pra mim uma prática diária. Veio a pandemia e, acredite se quiser, ainda que o setor da economia criativa tenha sofrido, porque no fundo nosso negócio é aglomerar, é juntar gente, saí muito melhor do que entrei. Obviamente, não queríamos todas essas mortes e celebro cada uma das famílias, mas fato é que foi um momento importante de reflexão. Hoje, os meus negócios estão muito melhores.
E sobre tempo pra si mesmo!
Procuro preservar o fim de semana com a minha família. Acordo muito cedo, levo e busco meu filho todos os dias na escola, por prazer. E pra mim, trabalho é sinônimo de prazer e paixão, mas eu consigo dedicar muito tempo para Larissa, minhas irmãs, minha mãe e meus sogros. Considero a família um pilar, sem qualquer questão religiosa, e quero aproveitar esse espaço aqui pra dizer que aqueles que, por algum motivo, ficam distantes das suas famílias que vençam isso com todas as forças, porque isso é o mais importante para seguir em frente.
Entrevista por Dani Barbi