Sou um dos sorteados duas vezes pelo coronavírus. Na primeira, em março de 2020, sofri tanto que a neurose passou a ser parceira, ao ponto de tomar chope de canudinho para não tirar a máscara. Criei anticorpos, tomei as três doses, e, mesmo assim, a peste me pegou de novo. Estou, há cinco dias, isolado em um apê emprestado por amigos. Se o teste de amanhã ainda der positivo, será mais tempo longe da família. É chato, mas a relevância é zero se comparável aos seis dias de UTI na primeira encarnação da doença. Na época, não havia vacina, e chamavam de gripezinha a doença que quase me levou para o beleléu; agora não tive sintomas. Descobri por acaso, e faço este relato como um alerta sobre a importância dos testes.
No Natal, levei minha filha dois dias à praia, e nadamos na água fria por mais tempo do que o razoável. Acordamos no domingo, com tosse e coriza levinhas, bem comum nessas situações. Só fiz o teste porque, como já expliquei, sou maluco. Se fosse “normal”, estaria transmitindo o vírus nas ruas, sem sintomas, como milhões fazem. A sorte é que nossos negacionistas são mais covardes do que os outros. À exceção de poucos extremistas, a população aderiu à vacina, que criou uma resistência incrível.
Todos na minha casa testaram negativo, inclusive minha filha, o que me faz supor que nem os leves sintomas que tive foram da covid, mas da estripulia na praia.
Nas farmácias dos EUA e Europa, começam a faltar testes porque as pessoas já entenderam que, com as vacinas, os sintomas podem ser imperceptíveis como uma coriza pós-praia. Por isso, testam a cada espirro com o objetivo de proteger os outros. Não sei se é o correto, mas é bom que os gestores públicos fiquem atentos para tentar evitar um apagão de testes. Eles podem salvar muitas vidas.
Aziz Filho é jornalista, especialista em Políticas Públicas e diretor da Avenida Comunicação. Foi diretor de Redação dos jornais O Dia e Meia Hora, chefe da IstoÉ no Rio, gerente da TV Brasil, repórter do Globo, da Folha de S. Paulo e do JB e presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio.