Para comemorar o “13 da Sorte”, o aniversário do blog, decidimos trazer de volta os personagens que sempre estão por aqui (ou estiveram).
Para inaugurar a série de 13 entrevistas já publicadas nesses anos, começando neste domingo (31/10), com Carmem Mayrink Veiga (1929-2017), porque elegância é atemporal e a gente está morrendo de saudades!
Essa entrevista com o maior nome social do País tem pouco mais de 10 anos, quando ela já circulava pela cidade em sua cadeira de rodas pela paraplexia tropical, o que acabou trazendo luz para o assunto, levando inúmeros lugares a instalar acessos com urgência. Na lembrança, o senso de humor, a sinceridade, a elegância.
UMA LOUCURA: Acho uma loucura essa invenção de que tudo é feito por máquina. Acabou o ser humano? Tudo vai virar robô? É tudo “ai”, ipad, iphone etc. Ai, ai, ai!
UMA ROUBADA: Roubada é comprar um sapato que é uma delícia na loja e, quando chega em casa, descobrir que machuca.
UMA IDEIA FIXA: Nunca tive uma ideia fixa porque sempre tive tudo na vida; então não precisava disso. Duas coisas que eu queria e não tive: ganhar a mega-sena por menor que fosse o valor e um jatinho Gulfstream, o mais bonito de todos. Só tive jatinho desses que todo mundo tem.
UM PORRE: Acho um porre ver alguém de porre quando você nao bebe. Outro porre é ar-condicionado e vento forte.
UMA FRUSTRAÇÃO: Frustração é que o filme “E o vento levou” não ter sido da minha época. Se fosse, eu teria feito a Scarlet O’ Hara — menos que isso, nada.
UM APAGÃO: Tenho uma memória inacreditável e não me lembro de nenhum apagão.
UMA SÍNDROME: Morro de pena quando vejo uma criança com Síndrome de Down e não posso fazer nada.
UM MEDO: Não tenho medo. Todos têm medo da morte. Eu nunca tive, afinal todos vamos morrer mesmo: você, eu, meus filhos, meus gatos. Nem de cobra, que acho um dos bichos mais lindos do mundo. Mas claro que eu não gostaria de dar de cara com uma dessas cobras que te comem inteira.
UM DEFEITO: Tenho vários defeitos, inúmeros. A minha pontualidade atualmente é um defeito, já que ninguém respeita isso. As pequenas delicadezas estão se acabando, o mundo está muito materializado.
UM DESPRAZER: O que é desprazer? Não tenho ideia. Lembrei: alguém pegar os meus jornais e ler antes de mim. Outro é se vou almoçar fora, deixo a roupa preparada de véspera, já que minha arrumadeira está velha e demora muito. Quando separo um figurino e, no dia seguinte o tempo muda, detesto.
UM INSUCESSO: Insucesso é nunca ter conseguido ligar nada eletrônico. Toda semana vem um técnico à minha casa ver a televisão, o computador… Quebro tudo, de mau humor.
UM IMPULSO: Deus me acuda, nunca teria impulso. A maioria dos que têm impulso faz parte daqueles que não tiveram uma boa educação. As pessoas mais impulsivas são as mais mal-educadas. Se você não tem controle sobre si, quem vai ter?
UMA PARANOIA: Sou paranoica com organização, gosto de tudo impecável. Até há certo tempo, fazia muita coisa, como arranjos de flores, por exemplo. Atualmente não faço nada, por viver numa cadeira de rodas, o que dificulta tudo. A vida realmente fica muito mais difícil do que se imagina, principalmente numa cidade como o Rio, onde os cadeirantes só faltam ser escorraçados. Os cariocas não têm preconceito, simplesmente porque eles não têm preconceito com nada. O que os cariocas têm é desrespeito contra quem vive em cadeira de rodas.