Inesquecível! Criança eu era. Nossa casa, na Rua David Campista, estava em construção; Jorge Hue a visitava periodicamente. Suas observações, orientações para os engenheiros eram por suas mãos transmitidas — meus olhos, fixos, nas danças de seus lápis e canetas no papel manteiga. Rapidamente, após os primeiros traços, apareciam os detalhes que o arquiteto imaginava.
Nada a falar. Lá estava tudo: ponto de fuga claro, cores, proporções perfeitas, detalhes curiosos e delicados. Dava quase para sentir a brisa balançando a vegetação estampada.
Jorge foi meu professor. Aprendi do colonial brasileiro, seus alpendres, muxarabis e treliças. Formou-me. Quantas obras! Quantos desenhos e pinturas! Foram mais de 60 anos. Eu, já adulto, ousei conversar com o mestre, desenhando. Ensinou-me a segurar de forma adequada o lápis. Conseguimos.
Ele cativava pelas artes plásticas, mas impregnava pelos conceitos, lógica, bom senso, cultura profunda que transbordava da tela para a oratória. Inebriava auditórios.
Quando da aquisição da casa da família Paula Machado pela Firjan, em 2011, na Rua São Clemente, já no outono de sua vida, inspirou-nos: a mim e à nossa equipe de profissionais.
Convidei-o para nos ajudar profissionalmente. Com seu sorriso de criança, declinou, dizendo que seu objetivo era ler, refletir e rezar. Em paz.
Tendo morado na Rua Dona Mariana, enquanto jovem, frequentado o Colégio Santo Inácio, e querido da família, conhecia tudo do imóvel.
Inesquecível sua visita à casa, junto com Maria Cecília Paula Machado, sua amiga de toda vida, logo depois da restauração. Naquele dia, que nunca vou esquecer, as pessoas lá abrigadas e outras frequentes nos salões ao longo do tempo reapareceram no diálogo, entre eles, Guilherme Guinle o grande líder empresarial. O Rio de Janeiro estava no seu ápice; ali era o centro econômico e político do país.
Em sua longa vida, Jorge nos ensinou a viver, a viver plenamente. Exemplo! Deixou-nos um legado de austeridade, integridade e dignidade.
Dizia-me lembrar-se diariamente de Lúcio Costa. Eu lembro. E me lembrarei, todos os dias, de Jorge Hue.
Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, engenheiro, industrial e arquiteto nas horas vagas. Presidente da Firjan. Aqui, fala sobre o grande amigo Jorge Hue, que morreu no dia 19 de agosto, aos 98 anos, reconhecido como um homem culto, elegante, generoso, sociólogo e grandicíssimo arquiteto.