A expressão “Petit Comité” nunca esteve entre as preferidas do empresário André Ramos, nem no Rio, nem em Paris, onde ele adora passar temporadas. Adorava, claro! Agora, imagina você, uma pessoa acostumada a dar festas e festas, de repente sem poder fazer nada há mais de um ano?
A realidade é isoladinho-em-casa, na Gávea, onde recebia dezenas ou centenas de pessoas. O último evento foi o réveillon de 2019, para ele até meio tímido, 150 pessoas (número oficial), com a contratação de 30 funcionários para a noitada — não se pode dizer que ele não movimentava a economia local. As histórias de alguns dos réveillons, contadas aqui neste texto — ele costuma apelidar de circuito “off Broadway”, com as pessoas que fogem do tumulto de Copa e das viagens de fim de ano.
Quando não eram mais de 100 pessoas, os encontros aconteciam todas as sextas, em volta da piscina, alguns seguiam na madrugada e, se tivesse alguma festa sábado, lá estava André, impecável, pronto para receber. Gosta tanto, que os arranjos de flores eram feitos por ele.
Veio a pandemia e, claro, ele jamais vai aparecer em alguma página policial ou rede social de denúncia, como tem acontecido tanto por aí, na catarse das festas clandestinas.
O valor das festas mudou de lugar pra você?
Mudou completamente. Não consigo encontrar motivos para comemorar — seria extremamente egoísta pensar em festejar, num período de tantas perdas e incertezas. Com o passar dos dias e meses, vai ficando mais difícil encontrar ânimo para diversão. Sou uma pessoa otimista e alegre, torço para que esse momento passe. A vida tem que voltar ao normal em algum momento.
Qual a principal adaptação para alguém que adora receber toda semana?
Sem dúvida nenhuma, as prioridades mudaram e nos forçaram a ter outro olhar sobre o que um dia foi importante. Os meios digitais nunca foram tão imprescindíveis pra mim, possibilitando de alguma forma estar perto das pessoas que gosto. A capacidade de adaptação do ser humano é surpreendente: o que antes era impensável se tornou um hábito, mas, com o passar do tempo, vai ficando mais difícil não ter saudades de como a vida era. Agora, com a vacina chegando, acredito que vamos entrar em um novo momento. Tenho muitos amigos profissionais da saúde e outros mais velhos que já tomaram as duas doses, mas acho que ainda temos um longo caminho pela frente.
A vida de quem vivia com gente por todos os lados e agora com a pandemia nem pensar, ficou mais insuportável do que para quem não fazia vida social?
Acho que ficou muito difícil para todos, as pessoas tiveram que se distanciar não só dos amigos que tinham convívio social, como das suas famílias. Mesmo as datas comemorativas quando todos estão juntos se deu de forma diferente. Tenho muitos amigos que entraram em um estado de ansiedade muito grande e até depressão, seja pelo covid ou pela crise financeira que veio junto. Independente de vida social, o que ficou insuportável foi conviver com as perdas diárias e o negacionismo.
Quais foram, digamos, os maiores percalços desse período?
Assim como outras pessoas, também entrei em um estado de ansiedade e nostalgia grande e tive que prestar muita atenção para não deprimir. O impacto da perda de amigos e conhecidos é arrasador. É um período de extrema reflexão, resguardo e empatia. É impossível não estar solidário com todo o sofrimento de milhares de famílias destruídas na pandemia. Durante esse período, que vem se estendendo há mais de um ano, revisitei muito as minhas prioridades. Hoje posso dizer que troquei confortavelmente uma noite de saída por um tempo de qualidade com o meu marido (o médico Gabriel Monteiro de Barros). Nossa família cresceu durante a pandemia inclusive, quando decidimos ter mais um cachorro; agora são três.
Quando for seguro, pretende retomar as festas? Já tem o réveillon em mente?
A gente se adapta mas não muda por completo, claro que está na minha essência ser uma pessoa festeira e que gosta de estar entre amigos e ter uma vida social intensa. Torço para que com o tempo possamos voltar a encontrar motivos para comemorar. Quando todos estivermos vacinados, acredito que vamos poder devolver a palavra festa ao nosso vocabulário. Para mim é muito precoce ainda pensar na virada de 2021. Durante 25 anos, fiz festa de réveillon, fosse na Atlântica ou na minha casa da Gávea, sempre foi minha data preferida. Estou otimista que na virada de 2022 para 2023 a gente comemore muito.