1. Por que a rainha Elizabeth usa bolsa?
Ela não precisa carregar as chaves de casa. Suponho que nunca tenha girado a maçaneta da porta de entrada de nenhum dos seus palácios e castelos (Nota mental: pesquisar, de novo, a diferença entre palácio e castelo). Se tem alguém que sempre sabe onde estão as chaves, é ela: as chaves estão com o porteiro, o segurança ou o mordomo.
Não precisa carregar identidade. Reza a lenda que sequer foi ao Instituto Félix Pacheco de lá para fazer uma. Não deve ter cartão de crédito (alguém a imagina puxando um Visa e dizendo “Parcela em três vezes, please”?).
Não leva dinheiro para despesas miúdas nem carregador para o caso de acabar a bateria. Primeiro, porque não deve saber o que são “despesas miúdas”; segundo, porque o que menos deve fazer é falar ao celular.
Balas de menta, sim. Talvez lencinhos de papel. Uma lixa para o cantinho da unha, que começou a incomodar. Fio dental. Aspirina. Luftal. Bandeide. Mas nunca usaria nada disso em público, e são coisas que uma dama de companhia poderia carregar.
Dizem que a bolsa serve mesmo é para mandar mensagens não verbais, como fazem os maçons. Se coçou a alça, “Interrompam a conversa”; mexeu no fecho, “Sirvam mais um gin tônica”; mudou de um braço para o outro, “Alguém da família aprontou alguma? ”.
2. Por que os atendentes da seção de frios do Zona Sul dão prioridade a fatiar queijo para pôr na prateleira, e não para quem espera, impacientemente, na fila? Pode ser uma forma de dizer “Por que diabos você não pega logo uma bandejinha de 500
gramas, pré-embalada? Ah, é porque quer 350? Pois eu vou pesar 480 gramas só para você passar a vergonha de ter que pedir para tirar 130. Isso na frente das 15 pessoas que estão aguardando atrás de você”. (Nota mental: parar de me incomodar com a fila na seção de frios, que eu já não frequento mais.)
3. Por que há cuecas coloridas? Cuecas foram feitas para ficar escondidas – ou na cesta de roupa suja. E, claro, no varal – de
onde saem para a gaveta, de onde voltam a ficar escondidas, no cesto, na máquina, no varal — num ciclo em que a cor não tem qualquer relevância.
Cuecas deveriam ser como peças de xadrez, filmes do Chaplin e fotos do Sebastião Salgado: sempre em preto e branco. (Nota mental: tentar me lembrar do onde eu estava com a cabeça quando comprei duas cuecas listradas – e coloridas).
4. Para onde vão os guardas de trânsito quando chove e os sinais param de funcionar?
5. Que plano de telefonia móvel têm os guardas de trânsito, que estão invariavelmente (exceto quando chove, claro) mexendo no celular?
6. Por que suco de laranja, que é só pegar a laranja e espremer, custa mais caro que um refrigerante, que leva água gaseificada, açúcar, extrato de noz de cola, cafeína, corante caramelo, acidulante ácido fosfórico, aromatizante, latinha e propaganda?
7. Por que a entrada do cabo USB é assimétrica?
8. Por que o que eu quero (seja lá o que for) nunca está na promoção?
9. O que leva um ser humano aparentemente normal a comer pimentão?
10. Tinha feito uma nota mental sobre uma questão (“Eram os deuses internautas?) ” e acabei esquecendo qual era mesmo a minha dúvida. Devia tê-la escrito. Mas quando a gente escreve uma nota mental, para não a esquecer, ela não deixa de ser mental?