Aos 22 anos, ele teve o título de delegado mais jovem do Brasil. Agora, aos 30 — no ponto alto do endurecimento das medidas restritivas para tentar conter o avanço da Covid-19 —, ele assumiu recentemente a Secretaria Municipal de Ordem Pública (SEOP). Brenno Carnevale é o homem do prefeito Eduardo Paes para pôr ordem na cidade. “Experiência e competência não têm a ver com idade”, diz o ex-candidato a vereador pelo Cidadania (nas últimas eleições), que tem no currículo uma imersão na SWAT, numa unidade do condado de Volusia, em Orlando, o que contribuiu para a experiência como especialista em segurança pública.
Ele lamenta que, apesar de tudo, infelizmente, a pandemia ainda seja desrespeitada por muitos negacionistas, que insistem em promover todo tipo de aglomeração, fazer festas, lotar praias e bares. No governo de Eduardo Paes, Carnevale inicialmente chegou a ser anunciado como subsecretário de Integridade Pública, mas bastaram algumas conversas com o prefeito, para o convite — e a, digamos, ascensão na carreira, acontecer. Nesta entrevista, ele fala dos planos para sua Secretaria em 2021, das dificuldades de gestão impostas pela Covid e aos que ainda insistem em desrespeitar as regras de ouro que facilitam a propagação do vírus.
Quais as maiores dificuldades da sua pasta neste momento de pandemia?
Recebemos a cidade do Rio totalmente abandonada no que diz respeito à ordem pública. A pandemia nos obriga a direcionar esforços da SEOP para a fiscalização e cumprimento das medidas de proteção à vida, visando à saúde da população. Paralelamente a isso, existe a questão da crise socioeconômica, que exige atenção e equilíbrio por parte da SEOP e suas ações. A pandemia é um desafio enorme na história da humanidade, e precisamos ter essa consciência na promoção de políticas públicas que sejam pautadas pela ciência e pela razoabilidade.
O que tem a dizer aos que insistem em desrespeitar as medidas de prevenção à covid?
As medidas de proteção à vida precisam ser uma agenda de toda a sociedade! Meu apelo é por mais empatia, respeito ao próximo e senso de coletividade. Seguiremos fiscalizando. Ressalto que a SEOP pautará suas ações na integração com outros órgãos, tanto Secretarias municipais quanto, inclusive, forças policiais.
A fiscalização aos bares, boates e demais estabelecimentos continua até o fim do verão?
Houve um decreto municipal específico para o período do calendário que abrangeria festas e aglomerações de carnaval, com regras mais rigorosas. Empregamos nossa capacidade máxima de efetivo para essa demanda. A SEOP já estava realizando ações de conscientização e fiscalização com base na Resolução Conjunta das Secretarias de Saúde do Município e do Estado. Essas ações seguirão acontecendo enquanto houver demanda científica, pelo cumprimento das medidas de proteção à vida, sempre com total integração com a Secretaria Municipal de Saúde.
O valor da multa aplicada, pouco mais de R$ 900, não é baixo?
Existem multas que possuem fundamentos diversos. O valor de pouco mais de R$ 900 se refere a multas relativas a alvarás de funcionamento de estabelecimentos. Outras multas, aplicadas pela Vigilância Sanitária, da Secretaria de Saúde, podem chegar a valores mais altos. Os valores das multas são frutos de normativas, leis, ou seja, existe uma questão jurídica que deve ser observada pelo poder público. Como responsável pelas ações de fiscalização, penso que a discussão sobre o valor da multa é válida e pertinente, pois pode realmente servir para desencorajar o descumprimento das regras.
Ao todo, quantas inspeções, infrações e interdições sua gestão à frente da SEOP intermediou?
Foram mais de 12 mil ações de fiscalização. Isso, só no período que abrangeria o carnaval, com mais de 7.500 infrações e quase 100 interdições. As ações contaram com a SEOP, Guarda Municipal, Vigilância Sanitária e com integração com outros órgãos de fiscalização. O balanço é positivo. É trabalho 24 horas por dia, literalmente. São muitas frentes de atuação e muitos desafios a serem superados. O cidadão carioca pode contar com uma SEOP firme, transparente e atuante. Não descansaremos.
Conta um pouco de você, até chegar ao cargo atual!
Meus pais me proporcionaram a oportunidade de estudar a vida inteira no Colégio Santo Inácio. Formei-me em Direito na PUC, com CR acumulado de 9,4. Sempre tive o sonho de ser policial, então já entrei na faculdade, estudando e pensando no concurso de delegado. Estagiei no Ministério Público do Rio, no Poder Judiciário e fui monitor de escritório modelo, dando assistência jurídica à população carente. Com 22 anos, ainda no último ano de faculdade, fui aprovado no concurso de delegado de Polícia Civil do Rio, que era meu objetivo profissional. Cheguei a ser considerado o delegado mais jovem do Brasil à época. Na polícia, minhas principais experiências foram na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense e na Delegacia de Homicídios da Capital. Nesta última, fui o responsável pelo primeiro núcleo de investigação de mortes de policiais e agentes de segurança e também por mortes provocadas por policiais. Especializei-me em Segurança Pública pela UERJ, fiz imersão na SWAT e faço pós-graduação em Pedagogia. Em 2020, fui convidado pelo Marcelo Calero a me filiar ao Partido Cidadania e me candidatar a vereador. Eu topei. Depois do segundo turno das eleições, Calero me convidou a ser Subsecretário de Integridade Pública, o que me deixou muito orgulhoso e entusiasmado. Mas, no final das contas, acabei assumindo o desafio de estar como secretário de Ordem Pública.
Qual seu planejamento para a SEOP em 2021?
Temos muitos projetos para a ordem pública. Estamos trabalhando no Plano de 100 dias, com foco no BRT, nos pontos turísticos e na revisão da rotina de trabalho da Guarda Municipal. Também focamos na questão do comércio ambulante, de construções irregulares e no efetivo ordenamento da cidade, que ficou abandonada. Tudo está sendo feito com estratégia, planejamento, sempre levando em conta dados e evidências científicas e técnicas. Acredito que não existem soluções fáceis para problemas difíceis, mas, em breve, teremos novidades sobre os planos da ordem pública para o Rio.
Com 30 anos, sua ascensão foi meteórica. O que tem a dizer aos que o julgam muito novo para o cargo de secretário?
Não ligo para esse tipo de julgamento. Na minha opinião, experiência e competência não têm a ver com idade. Já são sete anos de experiência na Polícia Civil do Rio, trabalhando sempre na ponta. Nunca tive problemas com as pessoas que trabalham comigo por conta da idade; pelo contrário, sempre fui muito respeitado. Minha resposta a esse tipo de indagação é continuar trabalhando com seriedade, coragem, lealdade e humildade. Com essa fórmula, entendi que é possível liderar, e não apenas ser chefe, independentemente da idade.
Por Acyr Méra Júnior