No final de janeiro deste ano, estava em um garimpo na França, com meu pai, Arnaldo, e assistimos a uma reportagem na TV, em um hotel de beira de estrada, onde falavam, sem muito alarde, sobre um tal de coronavírus. Recordo-me bem que, na ocasião, já havia um caso em Bordeaux, nossa base de trabalho; pouco se sabia sobre o assunto. Precisávamos voltar: peguei meu voo para o Rio, e algumas pessoas estavam de máscaras. Cordialmente, alguém que se sentou próximo a mim e me cedeu uma máscara, dizendo que seria melhor usá-la para evitar o contágio. Mesmo sem entender muito, achei melhor também.
De lá para cá, passou-se quase um ano. Vivemos coisas que nunca poderíamos imaginar que viveríamos. Tivemos que nos adaptar, superar-nos, reinventar-nos.
Experimentei sentimentos díspares, mas sempre guiada por uma palavra: coragem — palavra essa que certamente me define. Foi preciso muita coragem em 2020 para seguir em frente, para. seguir acreditando em uma luz no fim desse túnel tão escuro. Em todos os momentos da minha vida, quando precisei acreditar e ter esperanças, fui sempre guiada pela certeza, não pela dúvida. Era hora também de fazer acontecer! Em um mês, levantamos um ecommerce, pois não havia previsão de voltarmos ao presencial. Um antiquário na era virtual precisou nascer, e assim foi. Parecem coisas tão opostas, mas posso garantir que não. Fiz duas colaborações onde o “Tempo” foi protagonista: uma exposição com o fotógrafo e artista plástico Beto Gatti, chamada “Marcas do tempo”, e uma parceria com a Granado, na qual manifestamos nosso apreço pelo passado na criação de dois produtos em comum. Acredito que, em momentos paralisantes, precisamos mover-nos, ressignificar a nossa forma de trabalhar o tempo, a casa, as relações… dar mais valor ao simples, tão esquecido cotidianamente, em que o complexo e o exagero parecem prevalece.
Tivemos uma grande lição em 2021: não esquecer tudo que vivemos e o que aprendemos, ou seja, conservar na memória que, um dia, usamos máscaras, não somente para nos proteger, mas também para proteger o outro. Que, no próximo ano, um abraço simbolize a trégua, um encontro com amigos, uma gostosa demonstração de afeto, e que um espirro seja somente um espirro.
Espero você em 2021!
Paloma Danemberg é antiquária. Viaja todo ano por toda a Europa, com seu olhar treinado, em busca de relíquias.