Fui casada durante 55 anos com Zé Hugo (Celidônio). Vivíamos muito bem, graças aos restaurantes e ao trabalho dele como chef. Fiquei viúva há dois anos; entrei com pedido de pensão no INSS, conforme a lei manda, e contava com isso para viver. Depois de oito meses, recebi a resposta: o benefício foi indeferido — não reconheceram nosso casamento. Entrei com o recurso e pessoalmente entreguei, no INSS, as provas pedidas, inclusive o documento da união estável que eu tenho, fotos de mais de cinco décadas juntos, assim como recortes de jornais e revistas, tentando provar o que já está documentado. Desde então, espero ao menos uma satisfação, que nunca veio.
Quando eu consigo falar com o INSS — quando consigo, porque é difícil —, a resposta é sempre a mesma: “está em análise”. Você pode perguntar o que quiser, que eles não sabem mais nada; só que está “em análise”. Quando virá a resposta, eles não sabem dizer.
Ninguém pode imaginar quantas vezes eu liguei. Por isso, eu gostaria de mandar um recado ao Sr. Leonardo Rolim, para quem não sabe, o presidente do INSS: “Então, Sr. Rolim, teria como dar ao menos uma informação concreta a essas mulheres? Nós, que não estamos recebendo o que nos é de direito? Se vamos receber e quando? Eu estou falando em nome de milhares de mulheres da minha geração que viviam do salário dos maridos e agora não têm dinheiro nem para comer.”
Posso dar um exemplo: vivo nesse apartamento há anos, e o prédio está entrando com uma ação na justiça, porque não tenho dinheiro nem para pagar o condomínio, podendo até perder o único apartamento que tenho e morei com meu marido a vida inteira. Nem sei quando paguei o último condomínio. Estou passando por isso na minha idade: 82 anos! Têm muitas outras coisas para as quais eu dependia desse dinheiro porque, afinal de contas, nós vivíamos da profissão do Zé Hugo — ele trabalhava, ele tinha o salário, ele tinha restaurante.
Agora, não tem o Zé Hugo, nem restaurante, nem salário, nem nada; não tenho mesmo como pagar nem as contas mais básicas. Eu estou vendendo as minhas coisas: de roupas a objetos; é assim que tenho vivido. Na minha idade, penso em começar a trabalhar de novo, pela sobrevivência.
Marialice foi casada por mais de cinco décadas com o chef Zé Hugo Celidônio, por anos, nome importante na gastronomia do Rio. Durante esse longo tempo, o casal fez parte do roteiro-do-charme-carioca, digamos assim.