Fomos pegos de surpresa? Que a pandemia estava vindo, já sabíamos. A história nos lembrava, mas, mesmo assim demoramos para reagir. Na Escola Nova, corremos e fizemos tudo o que estava ao nosso alcance no primeiro momento. Conseguimos imaginar famílias perdendo renda e nos apressamos a tranquilizar nossos alunos, dando um desconto que poderia, de fato, ajudar. Também, nossa equipe pedagógica reinventou-se. Já no primeiro dia sem aulas presenciais, começamos a trabalhar online.
Existem regras e pré-requisitos para o ensino à distância. O que aconteceu foi diferente: nossos professores não tinham essa formação específica. Estudamos e aprendemos juntos; já fazia parte do nosso trabalho toda a formação e certificação Google; já tínhamos o classroom na nossa rotina. Também estamos começando nosso primeiro ano IB online.
Passamos a depender das habilidades dos nossos mestres e da tecnologia da casa de cada um; eram condições e capacitações variadas. Isso nos aproximou muito — tempo de muita ajuda e muita parceria. Hoje, todos completamente aptos. Também, sobre os alunos, tivemos algumas dificuldades: conseguir conquistar e mostrar a importância desse trabalho. Não sabíamos, e ainda não sabemos, sua duração. Quando voltarmos, a escola será diferente.
O domínio de tanta tecnologia vai nos tornar mais ativos no processo ensino/aprendizagem. A autonomia que foi conquistada é praticamente a cereja do sundae deste tempo de ensino à distância. Mesmo assim, nada substitui os encontros dentro da Escola. Conhecer verdadeiramente amigos, papos divertidos pelo corredor, esperar chegar a hora do recreio para encontrar pessoas queridas. Escola é mais do que matérias e projetos pedagógicos — é lugar de formação de caráter, formação de personalidade e, principalmente, de começar a escrever sua história pessoal.
Milhões de dificuldades iam surgindo. Era, e ainda é, uma batalha diária para acertar e fazer o melhor possível. Fico sentida pelos alunos do último ano, terceirão, como eles mesmos se chamam. Último ano na Escola: projetos, encontros, viagens… Planos adiados ou mesmo perdidos. Vamos pensar em como compensar. Professores somados à pandemia são emotivos demais.
Alfabetizar online emociona, e tem choradeira diária. Cada aluno que tem o insight da leitura deixa a equipe toda emocionada, muito prazer nessas horas. Eu não sei como está o mundo lá fora, mas a parceria das famílias aqui dentro da Escola faz toda a diferença. Isso vai passar, mas a solidariedade, o interesse e o respeito pelo outro não podem passar também.
Temos que ter cuidado para não sermos os mesmos, não esquecer que melhoramos de várias maneiras. Sinto saudades da Escola, das pessoas, dos sons e dos momentos de encontros tão queridos. Não tem lugar melhor e mais acolhedor. Tive experiências maravilhosas no meu tempo da escola. Fui muito feliz. Agora é hora de devolver.
Verinha Affonseca é educadora formada pela PUC-RJ, fundadora e diretora da Escola Nova, na Gávea (considerada entre as melhores do Rio). Foi das primeiras, no começo da pandemia, a sugerir uma redução no valor das mensalidades.