Minha rotina era muito puxada: ginástica das 6 às 7h, três vezes por semana; depois, centro cirúrgico, quase diariamente, seguido do consultório, pelo menos até as 8 da noite. Nos fins de semana, ponte aérea para São Paulo e cirurgias que lá aconteciam, geralmente aos domingos.
Amo meu trabalho, e essa dinâmica, que, para alguns, poderia ser considerada exaustiva, para mim era muito prazerosa porque, além de tudo, adoro avião e hotel. Quando estava muito cansado e sem energia, programava umas férias por uma semana e visitava amigos no Brasil e no exterior, para relaxar. Em fevereiro, estive em Miami e Nova York, para um congresso, e, no carnaval, fui a Madrid e Londres. Só faltaram a China e a Itália, para fazer o circuito coronavírus.
Quando vi as medidas de isolamento chegando cada vez mais rápido, decidi que não poderia mais trabalhar com cirurgias eletivas, e fiquei em casa, como recomendado. Passei a ir ao consultório três vezes por semana, por poucas horas, para atender a emergências, revisões pós-operatórias e pagamentos, muitos pagamentos, que, infelizmente, não param de chegar.
Neste período de quarentena, acredito que todos fazemos um momento de imersão na nossa vida – o que consideramos bom, e as nossas insatisfações, que escondíamos, vieram à tona, com toda a força. Descobri uma energia interior e uma determinação que estavam adormecidas: ajudar as pessoas mais necessitadas — que estão passando tão mal nesta situação — foi um pensamento constante. Além da ajuda econômica, claro, também sou médico. Entretanto, já muito afastado do ambiente da clínica médica e sendo do grupo de risco (já fiz 60 anos), melhor não atrapalhar e me resguardar.
Nesta quarentena, percebi que houve um aumento de pessoas enviando fotos e e-mails querendo tirar dúvidas sobre possíveis cirurgias. Todos os dias, respondia a várias mensagens; então tive a ideia, para ocupar meu tempo, de fazer videoconsultas para já ir avaliando os casos de possíveis cirurgias.
Achei isso prático e útil porque me aproximou dos meus pacientes. Decidi cobrar um valor simbólico de R$100 por esse primeiro contato. Vou doar para caridade, começando pela escola Dom Cipriano; depois quero fazer essa doação para diferentes instituições ligadas a todas as religiões: evangélica, budismo, candomblé, judaísmo, espírita, hare Krishna etc.
O Brasil é sinônimo de respeito, liberdade e pluralidade de crenças; ao final das contas, Deus é um só. Quando tudo acabar, as pessoas, depois de se avaliarem tanto em casa, vão saber todos os defeitos e tudo o que as incomoda, e passarão a investir mais em si mesmas. Acredito que a plástica vai ter um papel importante na restauração da autoestima. Sempre digo que, entre fazer um investimento em você ou comprar uma peça cara, o resultado de uma cirurgia plástica é para usar todos os dias, para toda a vida.
Paulo Müller é carioca, nome forte da cirurgia plástica. Possui consultórios no Rio e em São Paulo. Marcação pelo WhatsApp (21) 97217-0358.