Estamos numa fase difícil de virada, de mudança de valores, prioridades, e, a cada dia, está aumentando a dualidade – o luto pelas pessoas que fomos, pelo que éramos e pelos que estão indo. E, ao mesmo tempo em que o vírus do medo se espalha lá fora, o vírus da empatia toca nossos corações. Fiz máscara pra mim, meus vizinhos e pessoas próximas; o amor de cada um e em cada máscara vai nos protegendo. Estou em casa, desde dia 15 de março, cuidando dos meus filhos como se estivesse no filme “A vida é bela“. Exceto pelos deveres de casa exaustivos que fazemos, brinco o tempo todo, e os ponho pra fazer Yoga e meditação comigo.
Aqui, a conexão com a espiritualidade e com a arte é nosso antídoto pra tudo. Tédio do filho? Montamos teatro, foguete, pintura, dança, plantamos, fazemos bolo, trapézio, tocamos percussão. Todos os espaços da casa são aproveitados, reinventados e revisitados. Acampamos, pegamos onda, tudo com a ajuda de um cobertor, por exemplo. Tristeza? Ponho todo mundo pra meditar. Fizemos como apanhador de sonhos, e os mantenho muito conscientes de que tem gente sem emprego e sem condições, então eles têm doado brinquedos e estão entendendo que sujou, bagunçou, eles mesmos resolvem.
Estão entendendo autorresponsabilidade. Sei de pessoas conhecidas ou que moram no meu bairro que continuam saindo; a crise mostra os canalhas e os heróis. Há muitos jovens onipotentes ou pessoas que acham que não devem mudar sua vida porque acham que são muito superiores, e eu digo: ou tão inferiores que não são capazes de “se privar de nada“. A esses que continuam surfando, curtindo a cidade, viajando, fazendo pequenas festas, enquanto estou com meus filhos em casa, por eles e pelo Planeta, peço por eles em oração. Karma chega aos preguiçosos ou aos que não se comprometem com o coletivo.
Quem não entendeu como sairemos de tudo isso e por que estamos onde estamos, não tem como se relacionar comigo. Graças a Deus, os valores estão mudando. Quem é espertinho, onipotente e não se compromete com o coletivo, não me vê nem no Instagram, WhatsApp, nem nada mais, no dia a dia cortei relações. E eles sabem. Talvez eu seja hipercorreta porque meus bisavós maternos faleceram com a gripe espanhola e bisavós paternos, no Holocausto. Tenho em mim um compromisso com a força coletiva e com a regra, ou porque sou uma pessoa muito consciente — não sei. Sei que há muita oportunidade de nos conectarmos com muito amor, e há muita oportunidade de crescimento nisso tudo. É nossa chance de honrar estarmos na Terra. E faço a minha parte.
Antonia Galdeano mora no Leblon, é psicóloga e professora de Yoga, mãe de duas crianças.