A pandemia de coronavírus tem provocado efeitos colaterais na saúde. O confinamento forçado desperta sensações, como angústia, medo e, sobretudo ansiedade e estresse, afetando as relações sociais e familiares. Dentro de casa, muitos adultos e crianças experimentam a sensação de viver como animais enjaulados. Existe ainda o temor de contaminar outra pessoa, seja um parente, amigo, seja um desconhecido. O próprio isolamento social — uma condição essencial para evitar a propagação do vírus — tem levado a sentimentos conflitantes no ambiente doméstico. Isso sem contar o tédio, as tensões familiares e a solidão.
O diálogo e a capacidade de escuta são cada vez mais importantes nos dias de hoje. Tenho dedicado os últimos dias a interagir com o público nas redes sociais, para explicar formas de se adaptar aos novos tempos. Em lives no Instagram, tenho abordado as tensões e dificuldades dos relacionamentos em família, por conta do coronavírus. Aponto a busca da empatia e do diálogo como formas de buscar a harmonia e o equilíbrio nestes tempos difíceis.
No cenário atual, precisamos, mais do que tudo, de empatia; todo mundo vai passar por uma situação difícil em algum momento. À medida que a crise avança, as tensões em casa tendem a aumentar. Confinados no mesmo ambiente, pais e filhos, irmãos e irmãs precisam reaprender regras de convivência: dividir espaços, respeitar horários e a privacidade alheia. É inevitável que as discussões ocorram.
Algumas famílias já enfrentam problemas financeiros; outras correm ao mercado para estocar alimentos. Existe ainda uma situação complexa, que é o temor do contágio no próprio lar. Como reagir quando um filho ou irmão precisa sair de casa para resolver um compromisso de trabalho, por exemplo? Ao voltar, será que vai transmitir o vírus para nós? O que fazer quando há pessoas idosas em casa, mais vulneráveis à ação da Covid-19? Nessas horas, o coração, muitas vezes, fala mais alto que a razão.
São decisões difíceis porque contrapõem o afeto aos cuidados com a saúde e outras necessidades muito básicas. Acima de tudo, é preciso respirar e manter a calma, dialogar, ouvir o outro com atenção e buscar o consenso. Muitas pessoas não enxergam essa possibilidade porque lhes faltam ferramentas. E quando realmente não há consenso possível, é importante que cada um tome suas decisões de forma consciente, e não automática ou sob efeito da emoção. Em seguida, que assuma as responsabilidades e consequências das decisões que tomou.
Existem pais que ficam com pena dos filhos porque estão entediados em casa e querem sair a todo o custo; alguns permitem que eles saiam. Todas essas situações geram estresse e podem afetar o convívio familiar. Além de respeitar os alertas das autoridades de saúde, é preciso compreender as necessidades alheias antes de tomar uma decisão. Quando é necessário impor limites e dizer “não”, isso também pode ser feito de forma educada e respeitosa. Toda mudança de rotina gera estresse — o que afeta diretamente nossos relacionamentos.
Ainda mais em casos extremos, como esse. A Covid-19 testa a nossa capacidade de adaptação e de sobrevivência. O equilíbrio emocional é peça-chave para superar as dificuldades, ainda mais em casos extremos, como estes que vivemos hoje. A Comunicação Não Violenta torna-se fundamental para a boa convivência em família. Criada nos anos 1960, pelo americano Marshall Rosenberg, a CNV ajuda as pessoas a se expressarem e ouvirem o outro com empatia.
Toda mudança na rotina de vida gera tensão e estresse. Nesses casos, a comunicação tende a piorar. Com a CNV, aprendemos a lidar com nós mesmos e com os outros, aceitando as diferenças de opinião e pontos de vista. Ela é fundamental para que ouçamos com atenção e também possamos ser ouvidos. Assim como os cuidados com a saúde, a empatia é uma ferramenta poderosa para superar a crise atual.
Marie Bendelac Ururahy é especialista em Comunicação Não Violenta e Empatia. Nascida na França, escolheu o Rio para viver há 11 anos. Possui duas pós-graduações no currículo, incluindo o curso de Science of Coaching Psychology na Universidade de Harvard.