O paulistano José Victor Oliva ficou conhecido como “rei da noite” nas décadas de 1980 e 1990, e, como sabido, um apelido nunca morre, mas pode evoluir; hoje, talvez possa ser mais adequado o “rei dos negócios”. Em 1988, Oliva criou a Holding Clube, o maior grupo de marketing do País — a marca administra seis agências, entre elas, o Banco de Eventos, responsável pelo Camarote Nº 1, que, este ano, faz 30 anos.
E são algumas novidades para 2020: depois das reclamações de superlotação, o terceiro andar, onde fica a boate, será duplicado, e as frisas também vão ser ampliadas; o layout é novo, e todo o conceito desenvolvido pelo cenografista Carlos Pazetto, além de Oliva passar parte da administração para o filho Antônio Victor, que é DJ e dono da boate Antonella, em São Paulo.
Inquieto, ele inventou mais um investimento para este ano, o “Réveillon Nº 1”, primeiro lançamento do novo projeto, a “Plataforma Nº 1”: cinco dias de festa para quatro mil pessoas em Itacaré, Bahia, começando no dia 28 e terminando 2 de dezembro. A intenção é atrair R$30 milhões para a economia local e dar um impulso daqueles no turismo.
Nos dois palcos montados na praia de Itacarezinho, 30 atrações, entre nacionais e internacionais: Ivete Sangalo, Jorge & Mateus, Kevinho, Durval Lelys, os DJs Alok, ZehPretim, Sunroi, DreGuazzeli, Aline Rocha e BlackOut, além do duo ONA Beat (do filho, Antônio, e Fernando Arruda) e do trio Rooftime. “Não adianta fazer pequeno porque daria o mesmo trabalho que fazer grande. Fizemos um contrato com a Prefeitura de 10 anos”, diz.
Diante disso, talvez seja o caso de concluir que, na vida do Victor, número 1 é apenas a sua marca; no mais, vale o plural!
Por que Itacaré?
Eu não tenho nenhum empreendimento em Itacaré. É uma região central, perto do Rio, Salvador, São Paulo, Belo Horizonte, Vitória. Uma cidade linda, com restaurantes maravilhosos que podiam estar em qualquer capital brasileira. É zona de cacau, então tem chocolates incríveis, bares com caipirinhas de cacau, e os visitantes podem fazer todos os esportes radicais, surfe, escalada, canoagem… Tem programas de todo tipo. Nós, que trabalhamos com eventos, gostamos de ser os melhores, de receber elogios.
Muitos cariocas interessados?
O Rio é sempre o segundo ou o primeiro lugar em vendas de qualquer coisa que eu faça, porque, em primeiro lugar, a cidade tem um alto poder aquisitivo e o público jovem, de 16 a 45 anos, gosta de festa, de praia. Nossa lista de atrações é muito poderosa, quase um Rock in Rio; então fica fácil. O Rio tem o melhor réveillon. Copacabana é o filé mignon do mundo, mas é uma festa popular, não é como a nossa com open bar — tem uísque, vodka, gin, cerveja, tudo importado. São coisas distintas. O meu réveillon é para o público que gosta de balada, de bagunça mesmo.
Qual o investimento e o retorno?
São R$ 12 milhões, e acredito que volte em dois anos. A gente não investe só na festa, mas no lixão, numa estrada para chegar lá, saneamento; conversamos com ONGs que vão pegar os lixos, e encaminhar a uma espécie de miniusina que vamos fazer, selecionado e prensado, para que possamos doar esses dejetos para cooperativas de reciclagem. Estamos treinando funcionários locais (Ilhéus, Itabuna etc.) porque queremos que tenha a cara de Itacaré, e não de São Paulo ou Rio. Não adianta pegar e fazer o hot dog da Av. Paulista. Tem que fazer o acarajé, a coxinha de R$1, e estamos sendo muito bem recebidos. O prefeito (Antonio Damasceno) apoia bastante, e é engraçado, porque ele é do PT (Oliva é antipetista declarado), mas é superparceiro. Todos abraçaram a ideia. Algumas pessoas ficaram preocupadas com barulho, mas a gente explicou que réveillon é isso mesmo e, se eles quiserem silêncio, não é a data exata para isso: vai para o Lapinha (spa médico no Pará), ou sei lá onde.
O óleo que atingiu o Nordeste foi uma preocupação?
A maior delas, só que a Itacaré, por alguma razão que não sei qual, não chegou uma gota. Então foi uma sorte. A gente monitorou, e as praias estão lindas e limpas.
Você sentiu a crise? Está confiante com o governo atual?
Sentimos uma queda de euforia das pessoas no começo do ano, mas isso já passou; agora vamos acelerar. O País está melhor, chegou a hora de a gente ser otimista, parar de reclamar e trabalhar. Eu sou confiante. Sou pró-governo. Se Jair Bolsonaro ganhou, a gente tem que estar junto. Quando o Lula ganhou, eu também fiquei junto e acreditei. Um camarada (Bolsonaro) que teve quase 60 milhões de votos é o presidente legítimo, e todo mundo tem que apoiar. É inteligente querer que o governo vá bem e, não, o contrário.
Uma vez, você disse que as pessoas normais não fazem o que você faz. Como assim?
Sou uma pessoa diferente. Costumo brincar que sou exibido, exagerado e gosto de correr riscos, fazer coisas que ninguém faz. Se fosse para ganhar dinheiro no primeiro ano deste réveillon, não teria feito.
Trinta anos de Sapucaí. Como vai ser essa comemoração?
O Nº 1 está totalmente novo, com layout diferente, dobramos o último andar de tamanho, onde fica a boate, aumentamos a frisa, e a cenografia vai ser feita pelo Carlos Pazetto, que é o melhor do Brasil. Vai ser muito mais luxuoso e confortável que no ano passado. Não temos o line up para passar porque ainda não foram fechados – só o DJ Alok, mas sempre trazemos grandes nomes. E Sabrina (Sato) de musa, que é uma pessoa extraordinariamente maravilhosa; ela é tudo, a maior sambista do Brasil. Sabrina é bonita, simpática, a mais gostosa. Seria difícil arrumar outra. Na minha opinião, em 30 anos de avenida, tiveram apenas duas assim: Luma de Oliveira e Luiza Brunet.
Este ano as pessoas reclamam muito de lotação…
Vou dizer uma coisa: quando está mais vazio, dizem que está ruim; quando está cheio, ou com mais homens, mulheres ou gays, reclamam. Sempre tem alguém dando palpite, mas eu não tenho nenhum problema com isso. A gente procura acertar, mas não impeço ninguém de comprar convite; não temos bola preta e bola branca – as pessoas compram e vão. Temos segurança, open bar e open food, e tudo funciona.
Como fazer para driblar os pedidos de convite na época do carnaval?
Não dou — faço o camarote para vender e ganhar dinheiro. O propósito do camarote é ser de gente bacana, alegre e todo mundo igual. Se vai uma grande celebridade, tem que se comportar, lá dentro, como qualquer um. A gente não fica preocupado se é artista, jogador de futebol… Mas tem gente inconveniente, que você convida por alguma razão e leva 10 pessoas; daí não deixo entrar mesmo. Eu tenho uma lista de convidados de que gosto, quero que esteja comigo, e alguns são artistas. Não tem essa de ‘vipão’, só na época da Ambev, que tinha um cercadinho para colocar Gisele Bündchen, Jude Law, Madonna, que as pessoas enchiam o saco para tirar foto e autógrafo. Hoje, não tem mais isso; o que temos são uns lounges vips para as empresas comprarem.
Quais momentos marcantes você destaca?
Um deles foi num ano em que a Velha Guarda da Portela não conseguiu entrar na Sapucaí porque tinha acabado o tempo. Fui lá embaixo, e os convidei para subir; eles ficaram lá e curtiram muito. O outro divertido foi a história do ex-Presidente Itamar Franco com a menina sem calcinha, a Lilian Ramos, que tiraram foto da perereca e saiu no mundo inteiro.
De uns anos pra cá, o carnaval está fraco de atrações internacionais. Alguma razão?
É porque tem tanta gente bacana no Brasil, tanta mulher bonita… A Laís Ribeiro, que veio nos dois últimos anos, é modelo da Victoria’s Secret. Elas são brasileiras e lindas, então por que vou convidar uma americana? Não preciso mais de publicidade. A gente já recebeu a mulher do George Bush (Laura), Robert de Niro, Maradona, enfim, dezenas. O camarote já está bacana de nome e todo mundo conhece o ‘Box Nº 1’. Agora eu recebo todo mundo muito bem. Às vezes eu ajudo alguns convidados com hotel, algo nesse sentido, mas não fico preocupado em pagar passagem, hospedagem e cachê porque não preciso disso.
Você é chamado de inovador, visionário e também de autoritário. Como lhe cai tudo isso?
Muito bem. Eu sou mesmo. Eu trato todo mundo muito bem, mas, na hora em que estou trabalhando, estabeleço as regras e as pessoas têm que cumprir – minha empresa não é uma democracia; ao contrário, é cheia de normas e regras – se não fizer, está na rua, e acabou.
numero:13 Você já poderia se aposentar e viver bem o resto da sua vida…
Nem pensar! Meu custo de vida é alto. Segundo, porque eu tenho filhos (João Victor e Antônio Victor, do primeiro casamento, com a jogadora de basquete Hortência Marcari; e Maria e Manoela, com a mulher atual, Tatianna Oliva, casados há 17 anos), vou ter netos e porque quero sempre me sentir jovem, moderno, ousado. Não tenho nada a ver com aposentadoria. Sou igual à Fernanda Montenegro: quero morrer no palco.