Na visão do empresário Ricardo Bellino, qualquer um deveria ser um fodido. “Para mim, fudido e fodido não são a mesma coisa. Ser fodido é ser foda! É algo irado, poderoso! Já fudido é completamente o contrário. Não tem nenhum significado fodástico”, explica o autor de “Ninguém é f#dido por acaso”, recém-lançado e sucesso de vendas, uma espécie de guia prático anticoitadismo, em que ensina estratégias para sair da mediocridade (ou do buraco). Foi o que ele fez à risca.
A vida de Bellino, 54 anos — ele nasceu em Petrópolis, mas foi criado no Rio, morou em São Paulo, Miami e atualmente vive em Portugal —, não só parece, como vai virar o documentário “Acelerador de pessoas”, com lançamento nas plataformas digitais até o fim deste ano.
Aos 21 anos, ele pensou em trazer a agência de modelos americana Elite Models para o Brasil, sem falar inglês nem ter um tostão no bolso. Com ideia fixa, abandonou a faculdade de Economia, mudou-se para São Paulo e começou a trabalhar como courier no serviço postal de entregas rápidas da multinacional DHL. Agendou um encontro com John Casablancas numa das entregas em NY. Resultado: trouxe para o País a agência que revelou Fernanda Tavares, Isabeli Fontana, Ana Beatriz Barros, Gisele Bündchen, dentre tantas outras.
Aos 38 anos (2003), o empresário encarou seu maior desafio: vender uma ideia a Donald Trump em uma reunião que deveria durar apenas três minutos. Conseguiu não só a atenção do atual presidente dos EUA como também virou amigo e sócio do americano na criação do Trump Realty Brazil. Da experiência, escreveu o livro “3 Minutos para o Sucesso — como vender sua ideia como um verdadeiro aprendiz”. Ele também é autor de diversos outros títulos.
Agora, Bellino tem um novo projeto, a “Escola da Vida”, em alusão à “School of life”, fundada em 2008, em Londres, onde planeja compartilhar o conhecimento pessoal (ele nunca se formou) e capacitar jovens empreendedores e ensinar, na prática, lições sobre negócios, gestão e de vida.
Como surgiu a ideia do título?
Surgiu da minha observação de que o sucesso não é um golpe de sorte. O insucesso e o fracasso não acontecem causalmente. As pessoas têm um comportamento e atitude desconstruída, negativa que as faz assumirem uma postura de coitadismo para justificar todas as suas incapacidades nos outros, no governo, na conjuntura. O jogo da velha do título (#) substitui a palavra, com u ou o, dependendo do caso. É para que as pessoas reflitam o poder da vogal que pode fazer você ser um cara fodido ou fudido, aquele que não tem cura e, se não mudar de atitude, vai continuar fudido.
E qual o primeiro passo para deixar de ser um fudido para se tornar um fodido?
Aceitar que você está fudido é o primeiro passo porque, se você viver na negação, nunca vai sair desse estado de fudência. É mudar a atitude para mudar a realidade. Tenho a plena convicção de que atitudes corretas, positivas, senso de humor e perseverança fazem você se tornar um fOdido.
Todo homem de sucesso, um dia, já foi chamado de louco. Isso é bom?
É importante a diferença entre um louco de sucesso e um mitômano, um mentiroso patológico que acredita na sua mentira. Todas as vezes que sou chamado de louco, estou no caminho certo. Todas as vezes que batem nas minhas costas, dizendo que sou um gênio, fico preocupado porque passa a banalizar o conjunto de comportamento de atitudes arrojadas e destemidas que eu desenvolvi para atingir o sucesso sem medo de encontrar alguns desafios e fracassos na minha jornada. A diferença é ser um louco lúcido, entusiasmado, desprendido e corajoso.
Todo homem poderoso gosta de pessoas audaciosas?
Indiscutivelmente. Gostam dos que têm coragem de enfrentar o que aparentemente seria impossível e aterrorizante. Cito a experiência com Trump: em vez de sair correndo, chorando, reclamando ou dizendo que ele era um cara arrogante e mal-educado, enfrentei o desafio. A atitude valeu todo o resto e os 15 anos de amizade e respeito, e como autores de uma história publicada em 15 países.
Como fazia para se destacar na multidão? Sempre foi bom de conversa?
Ao contrário do que parece hoje, eu era tímido e inseguro e achava que tudo daria errado na minha vida. A mudança desse comportamento foi aceitar que eu tinha que transformar os defeitos em atitudes. Nada é impossível — a falta de recursos, a capacitação técnica ou domínio de línguas, seja lá o que for, são suficientes para que me impedisse e pudesse ter a ambição, sonhar grande para fazer projetos grandes, além de uma boa dose de cara de pau, que eu tomo sem comedimento, sem moderação.
Você conviveu com muita mulher bonita, no meio da moda, bebidas, drogas, sexo e rock’n’roll, não necessariamente nessa ordem. Como fazer para manter o foco sendo tão jovem? Em algum momento deu uma pirada?
Onde se ganha o pão, não se come a carne. Felizmente tive a lucidez de não me deixar entorpecer por esse glamour e focar no lado empreendedor. Jamais tive contato direto ou interesse por drogas, a não ser um bom vinho e muito champanhe; mulher bonita não faz mal a ninguém, e efetivamente gosto de conviver próximo a elas. Foi um prazer trabalhar nesse ambiente e conseguir superar as tentações e ganhar o respeito dos meus sócios, que apostaram num moleque de 21 anos, sem nenhum predicado ou promessa de que daria certo. A confiança deles me permitiu criar a história do conto de fadas do cara que tinha tudo para dar errado, e deu certo. Não foi sorte: foi postura, atitude e responsabilidade.
Acredita que o brasileiro ou as pessoas arrumam muitas desculpas para justificar os erros e a preguiça? Existe conserto para o coitadismo?
Não acredito que o coitadismo se limite aos brasileiros, mas existe um grande número que se conforta e anda de muletas e cadeira de rodas invisíveis, para justificar sua paralisia, a covardia de tentar fazer algo para mudar sua realidade. A mentalidade tira você da mediocridade. Tem que ter coragem e estar preparado para os altos e baixos; a impermanência que eu aprendi no budismo faz com que a gente evolua e com que nossos saltos sejam mais altos. Tudo na vida tem conserto — basta acordar e não se conformar com a situação, ter uma atitude destemida e corajosa. O problema do brasileiro é a tendência ao jeitinho, de achar uma solução, um mecanismo para encurtar o caminho e ter riqueza fácil e rápida. Isso faz com que ele perca as oportunidades e não seja reconhecido pela seriedade e competência, mas pela malandragem. Enriquecimento rápido não existe, mas não estigmatizaria os brasileiros; existem pessoas que dignificam nossa sociedade
Qual a importância de um fracasso?
“O sucesso me inspira, mas só o fracasso me ensina”, já diria Roberto Civita (1936-2013), que foi presidente da Abril). É um dos grandes lemas da minha escola da vida. Tive alguns fracassos, mas não me deixei abater. O fracasso é fundamental para um sucesso consistente e duradouro. Não existe almoço de graça. O grande segredo do sucesso é não cair na mediocridade e perder para a concorrência.
Como é o Trump longe da Casa Branca?
Ele é uma pessoa incrível, de uma inteligência fantástica, com senso de humor, obstinado, com visão, foco e criatividade. Se o chamam de louco é porque não entendem a história, e são pessoas com pouca visão e entendimento do que é o poder da mente e determinação de uma pessoa que, mesmo sem ter trajetória política, conseguiu vencer a corrida à Casa Branca e deixar a sociedade perplexa. Ele está fazendo os EUA viverem um dos melhores momentos da sua história. Ele é um verdadeiro CEO de uma empresa chamada América S.A.
Como acha que estão tratando o Rio, o País? Nunca pensou em ser político?
Não consigo pensar numa agenda política, não tenho essa ambição e quero ficar distante. Tenho uma agenda que me dá a liberdade de ir e vir, o que é impagável, e não quero me colocar dentro de uma gaiola de ouro ou numa estrutura que me dificulta isso. O Rio, lamentavelmente, está no desleixo pela falta de organização, especialmente na segurança. Tenho ido cada vez menos e lamento muito por isso — esse descontrole absoluto —, mas sou um otimista patológico. O Brasil tem um potencial gigantesco, com pessoas fantásticas, de uma alegria incomparável. Entendo que não há milagres e que a gestão pública não pode fazer uma transformação profunda depois de anos de descasos.