Você consegue imaginar Hélio de la Peña ser chamado de idoso? Ah, para! O humorista, ex-Casseta, acaba de entrar para o time dos 60tões, no último dia 18 de junho: “Mas com corpinho de 40 e cabeça de 20”, comenta uma amiga. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), sim, ele é idoso, tem direito a passe livre em transportes públicos, furar fila no banco, ter atendimento prioritário, vagas exclusivas nos estacionamentos etc.
No entanto, a perspectiva de vida do brasileiro aumentou (76 anos) e, com isso, a idade é um dado que fica no RG. Sei! Com tudo em cima, Hélio diz que está melhor do que nunca — há 12 anos, começou a nadar na praia de Copacabana e, todos os anos, participa de competições de natação. Talvez, juntando a isso, amar e ser amado (vive um casamento feliz com a fotógrafa Ana Quintella, ao contrário da maioria – rs), sexo frequente, ausência de afetação com presença de frescor diante da vida, humor acima de tudo e outras coisas subentendidas vindas daí!
Você acaba de entrar para o “time dos idosos”, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Como se sente?
Me sinto muito bem. Estou no melhor da minha forma física, tenho disposição, preparo, pratico esportes, tudo certo até agora. Estranho me associar à palavra “idoso”, mas vou pegar meu cartão de idoso. A lei não diz que preciso estar caquético pra ter direito.
Isso mudou alguma coisa pra você?
Não tenho por que omitir ou me envergonhar da minha idade; pelo contrário, tenho o maior orgulho. Faço natação em águas abertas, nado longas distâncias, algo que muito garotão marombado em academia não faz.
“Os 60 são os novos 40”, faz algum sentido?
Faz, sim. Eu me lembro dos 60tões da minha época de garoto: me pareciam muito mais velhos que eu. Diria que os 60 são os novos 40 com mais idas ao banheiro à noite.
Que vantagens você espera tirar dessas seis décadas?
Experiência, ter mais tranquilidade pra saborear as conquistas e serenidade pra enfrentar as adversidades.
Sabemos que existe aquele chavão de que os homens mais velhos são como vinho, ficam melhores com o tempo. Verdadeiro ou falso?
Verdadeiro. Conversamos melhor, somos mais observadores, mais atentos. E quando o corpo apresentar as falhas naturais da idade, ainda temos a indústria farmacêutica trabalhando por nós. Agora, melhor consumir antes que vire vinagre.
Na comédia, existem as piadas de tipos clássicos, o gay, o velho etc. Hoje, os humoristas têm que pensar 10 vezes em fazer brincadeiras para não ser processado ou linchado nas redes. Tudo tem mais peso. Paulinho da Viola não pode mais cantar “Amélia” e coisas do gênero. O que você acha dessas mudanças?
As mudanças acontecem. Estão aí — ou você se adapta, ou se isola. É só não levar as coisas para um radicalismo ridículo e burro. Não pode deixar o bom-senso de fora. A gente pode se tornar pessoas melhores; não dá pra ficar saudosista “bons tempos aqueles em que eu podia ser homofóbico”. Mas tem brincadeira que pode rolar e que é aceita numa boa, ou a vida fica um saco velho e enrugado.
Não sei se já ouviu falar em “ageísmo” (preconceito contra a idade, julgar alguém porque é velha). Um exemplo prático é o lançamento do novo álbum de Madonna, aos 60, com parcerias com jovens, clipes ousados etc. Depois disso, ela sofreu críticas pesadas de que estaria muito velha para fazer determinadas coisas. Por que você acha que Mick Jagger e outros homens mais velhos não sofrem a mesma crítica?
Tem que ter carcaça pra aturar essas bobagens e passar por cima. A mulher é associada ao mito da beleza eterna, mas o coroa que insiste no rabo de cavalo, mesmo sem ter a cabeleira da juventude, o que mantém a sunguinha independente do barrigão, também é alvo de piadas. A melhor mensagem aos jovens, nesses casos, é a do Nelson Rodrigues: “Envelheçam”. Hoje vejo que ele tem razão. E, convenhamos, a alternativa a envelhecer é péssima.
Foto: Marta Azevedo