Quando fui convidado pelo secretário de Cultura André Lazaroni, em março de 2017, para assumir a direção da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, ouvi de um amigo que eu entraria numa roubada com o nosso estado falido. Sabia que era uma escola sem dinheiro e sem perspectiva, com 60 professores e quase 500 alunos. Foi aí que pensei o contrário; era a minha chance. Mesmo naquela situação, eu sabia que era possível. Fiquei desafiado e, naquele momento, veio em meu pensamento: liberdade bem utilizada explode.
Sempre fui um apaixonado por tudo que tem a ver com artes plásticas. A arte contemporânea entrou na minha vida há mais de 16 anos, quando comprei o primeiro trabalho da minha coleção, hoje com mais ou menos 400 obras. Sempre gostei desse meio e adorei ser convidado a integrar alguns conselhos, entre eles, o projeto de residência Capacete, o New Museum/NY e o conselho de aquisição do MAM. Sou formado em Economia, tendo trabalhado em alguns bancos; o último foi o Credit Suisse. Quando saí, resolvi dar uma virada radical: queria trabalhar com arte, estava claro pra mim.
Peguei pela frente uma crise maior que imaginava na EAV: salários atrasados há três meses, e a Secretaria de Cultura não tinha dinheiro para aplicar na escola. Sempre investi no que acredito, mesmo seguindo na contramão do que está posto. E assim fui. De lá pra cá, a trajetória tem sido intensa e emocionante. Travamos uma cruzada contra a censura e reabrimos a Queermuseu, através do maior financiamento coletivo do País que, entre outras coisas, bancou uma reforma nas cavalariças. Ganhamos apoio de artistas como Caetano Veloso, Marisa Monte e Ney Matogrosso. Criamos o Parquinho Lage no segundo semestre de 2017, quando recebemos 650 crianças, sendo 35% com gratuidade; em 2018, multiplicamos em muito esse índice.
Ando aprendendo muito nesse caminho e pessoalmente passei por uma transformação – acho que na mesma dimensão da escola, mas ninguém pode imaginar o tamanho do meu retorno: como é grande! Trabalhando 10 horas por dia, sempre quero me superar; é como a endorfina pra mim: quero fazer cada vez melhor. Meu bem-estar passou a depender disso. Vindo do mercado financeiro, foi aí que descobri que dinheiro não é tudo, vendo essa perspectiva profissional que me dá muito mais tesão. Precisamos reclamar menos e trabalhar mais, independentemente do Governo que esteja. E mesmo ganhando muito menos, é o que acredito e sabe por quê? Minha essência está nesse trabalho. Atirei-me de cabeça no escuro e, quando vi, virou uma potência de realização profissional. Quando temos, de maneira sincera e clara nossos objetivos, as pessoas se sensibilizam, e não tem como não dar certo.
Fabio Szwarcwald é diretor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage