E chegavam as datas importantes na vida de todo mundo. Menos na nossa. Na fazenda não comemorávamos Natal, jamais. Para meu pai essas datas, como Dia das mães, Dia das crianças, eram apenas datas comerciais. Defendia que o espírito da festa deveria ser para o ano todo. Nunca considerou as emoções a elas vinculadas.
Só fui saber o que era uma noite natalina quando fui morar na cidade com minha tia, para estudar; aos oito anos, o que significava que na idade em que Papai Noel estava saindo da vida de muitas crianças, estava entrando na minha. E qual não foi a originalidade do presente que o “velhinho” me deixou: uma mala.
A maior viagem que eu fazia era de uma fazenda pra outra de um parente qualquer, ou da roça para a cidadezinha. E não costumava levar roupas para esses lugares, tinha algumas em todos eles. Lembro-me de que quis tomar satisfações e saber se ele era como gente que não sabe quase nada. Minha mãe respondeu: “Sei apenas que ele adivinha os desejos e é rico, já que compra tudo o que quer e roda o mundo numa noite”. Adivinha os desejos? Então entendi que dentro de pouco tempo eu iria precisar daquela mala, o que significava ir embora pra mais longe ainda, deixando minha família cada vez mais distante. Quase enlouqueci minha mãe, precisava devolver a mala. Cada vez que olhava pra ela, ficava com vontade de chorar. Ao sentir que era impossível voltar atrás, entrei em pânico. Os dias passando e eu com medo do próximo Natal.