Ainda menino, Paulo Sergio Niemeyer não tinha noção da grandiosidade do nome do seu bisavô Oscar Niemeyer, citado em livros didáticos na escola, principalmente pela construção de Brasília. Muitos anos depois, tornou-se arquiteto – a exemplo não só do “bisa” como também dos pais, Walter Makhohl e Ana Elisa Niemeyer (neta de Oscar). E desde então, em parceria com o bisavô – trabalhou com ele por 20 anos -, desenvolveu grandes projetos, como o Caminho Niemeyer, em Niterói; o Memorial Luís Carlos Prestes, em Porto Alegre; e o Auditório São Paulo, em SP. Em 2012, também estreou como designer de móveis, em 2012, na Suíça, com a Chaise Rio, inspirada no Pão de Açúcar e com os traços curvilíneos de “Seu Oscar”. Neste sábado (15/12), Dia do Arquiteto e do aniversário de Oscar (111 anos), Paulo Sergio acaba de inaugurar a mostra “Niemeyer – A arquitetura onde o passado e o futuro se completam”, no CasaShopping, com gravuras inéditas que farão contraponto às do bisavô.
Como foi o processo de criação dessas gravuras e como elas farão contraponto com as gravuras do seu bisavô?
O processo de criação dessas gravuras foi até engraçado. Como eu convivi e estive com meu bisavô diariamente e por um longo período, sempre levei muito em consideração todo comentário que ele fazia, os ensinamentos, às vezes, indiretamente, sutilmente. Era necessário querer ouvi-lo, e eu queria. Uma vez, ele me disse algo muito interessante: foi a questão de o arquiteto, principalmente, ter a necessidade de desembaraçar a mão, e que todos deviam desenhar sem regras acadêmicas, e sim o que têm vontade; que essa liberdade, ao desenhar, fosse como a de uma criança. Então, tenho a preocupação em tentar abstrair e desenhar sem nenhuma pretensão artística. E, claro, fico testando, como aprendizado pessoal, maneiras de me expressar e criar coisas e formas que possam refletir o que penso e gosto. Nessa ideia, está o contraponto entre nosso trabalho e também nas gravuras que estarão expostas.
Você concorda com a frase do seu bisavô “o importante não é a arquitetura, mas a vida, os amigos e esse mundo injusto que devemos modificar”. Por quê?
Claro que concordo. Apesar de não parecer, a arquitetura também é efêmera, e, daqui a 100, 200 anos ou mais, pode ser que sua obra não esteja mais aí, por alguma guerra ou simplesmente pelo fato de o progresso tornar necessária sua demolição, ou até mesmo pela ignorância de alguns. O Oscar também tinha como mantra pessoal a ideia de sermos esquecíveis e perecíveis, como gostava de afirmar na célebre frase ‘a vida é um sopro’. Um fato muito pessoal que presenciei em sua fala, lá pelas tantas, antes de irmos dormir, era essa preocupação constante que tinha com todos e quando falávamos sobre questões pessoais nossas – ele sempre preocupado em como não perder a capacidade de ajudar o próximo e encontrar os amigos. Daí, inclusive, surgiu um de seus croquis mais bonitos e famosos e que fará parte da exposição como gravura de minha coleção pessoal.
Qual é a importância do Fórum Mundial Niemeyer e quando será o próximo?
Foi imensa, pois se criou um fato inédito, internacional, envolvendo países importantes, como Portugal, França, Espanha, Colômbia, dentre outros. As discussões foram riquíssimas e o legado, maior ainda, com mais de 30 palestrantes brasileiros e internacionais.
No mesmo dia da mostra, serão comemorados o Dia do Arquiteto e o aniversário de Oscar, além do lançamento do Prêmio Global Niemeyer, a Escola Niemeyer e a assinatura da Carta Niemeyer, baseada no conteúdo debatido durante o Fórum Mundial Niemeyer. Muita coisa, né?
Sim, muita coisa. E quanto mais eu faço, mais vontade de realizar novos projetos me dá. Nesse sábado, fizemos uma homenagem ao meu bisavô com o lançamento da Escola Niemeyer, um projeto idealizado e que teve seu início com o Oscar. Daremos seguimento a esse legado. Tanto o Prêmio Global Niemeyer e a Carta Niemeyer terão eventos de lançamento próprios no início de 2019.
Cite uma curiosidade, um fato que ninguém conheça sobre seu bisavô.
Existem várias curiosidades que muitos não conhecem porque ele era muito reservado. Uma curiosidade que acho interessante era o fato de ele querer estar sempre com os amigos; para isso, comprou um piano logo depois de ter ficado fascinado pelo concerto na inauguração do Centro Administrativo de Minas. E passou a fazer saraus em seu escritório, onde cantávamos e conversávamos a noite inteira.
Em sua opinião, qual o trabalho mais emblemático do Oscar Niemeyer?
Ele mesmo não gostava de dizer qual era, mas, em minha opinião, todos são – cada um tem uma peculiaridade. Atualmente considero, como uma das obras mais emblemáticas, a do memorial Luís Carlos Prestes, em Porto Alegre, que ele fez com muito carinho. Foram três versões, muito tempo de projeto (desde 98), e ele sempre se esmerando pra fazer com toda a sua criatividade. Essa obra tem inovação singular; é bonita, as paredes, autoportantes, em curvas sinuosas, contando a história triste do cárcere de Prestes. Pela primeira vez, essa obra está exposta com fotos e plantas. Inédita.
O fato de sua família ser de arquiteto o influenciou? Se não fosse arquiteto, qual seria sua profissão?
Difícil. Pensei em tentar outra profissão para ver se assim podia criar um novo ambiente pra mim, pois já tinha algum medo do reflexo que seria estar ligado à arquitetura e ao Oscar, mas, com o tempo, esse medo passou; o que era medo tornou-se real. Hoje é difícil me ver desligado da influência da marca, do nome; naturalmente, não vi outra opção, inclusive como aceitar e trabalhar esse legado. Com certeza, teve a influência da minha família – lembro-me, desde pequeno, de estar envolvido com a arquitetura de alguma forma, visitando obras com meu pai, que, além de ter desenvolvido muitos trabalhos com meu bisavô, também foi sócio do Ruy Ohtake. Minha mãe, também arquiteta e atuante; então, quando chegou o momento de escolher a profissão, não vi outra opção que não fosse a de arquiteto. Porém, se não o fosse, seria músico.
Às vezes cansa da arquitetura? Se sim, como foge do tema?
Sim, e muito. Não tenho como fugir, mas consigo, às vezes, me desligar, ouvindo uma boa música.
Quais os próximos passos do Instituto?
O Instituto Niemeyer está com grandes e importantes projetos e parcerias. Agora está na hora de consolidar toda essa conquista e, em breve, traremos novidades. Como o próprio nome, Instituto Niemeyer de Políticas Urbanas, Científicas e Culturais, Arquitetura, Urbanismo e Design, nossa atuação vai muito além da arquitetura. Precisaríamos de uma entrevista só para falar da atuação e projetos.