Quem circula pela vida carioca sabe que Sérgio Mattos está sempre rodeado de gente linda e jovem, muito jovem. Ele faz isto há 30 anos: reconhece modelos que podem ser a próxima Gisele Bündchen. Serginho foi booker da própria modelo entre 1994 e 1999, quando ainda trabalhava na agência Elite. “Fui babá dela durante sua primeira viagem internacional, mas quem descobriu o potencial foi John Casablancas (fundador da Elite, morto em 2013)”, diz ele. Agente desde 1988, ele abriu agência própria em 2004, a 40 Graus Models, hoje com uma cartela de 200 modelos e 40 atores, novo investimento que vem com tudo no próximo ano.
E para comemorar essas três décadas, ele reuniu uma espécie de acervo para montar a exposição “30 anos de moda – Sérgio Mattos”, com 50 fotos, cartinhas de ex-pupilos, portfólios e composites, a ser inaugurada neste domingo (16/12), no HUB RJ, espaço multicultural na Zona Portuária. Produziu também um desfile para acontecer durante o show da banda 1 Kilo. “Só pra não passar em branco esses anos todos”. A lista de modelos e atores descobertos é grande: Cauã Reymond, Isabeli Fontana, Carol Ribeiro, Raica Oliveira, Paulo Zulu, Ana Beatriz Barros e Alessandra Ambrosio. E, para o próximo ano, tem mais: estão em fase de produção um livro e um documentário.
Como surgiu a ideia da exposição?
Tenho um acervo muito grande de fotos raras, que ninguém nunca viu porque ainda não existiam as máquinas digitais e celulares. Peguei as melhores e emoldurei em painéis. Hoje, isso não existe mais; e um painel só com polaroids que eram as fotos que mandava para as agências de Nova York, Paris e Milão.
Quais as principais mudanças na moda nesses 30 anos?
Tudo, né? E olha que acompanhei várias gerações; o formato da moda mudou. Quando é que eu ia imaginar ter modelo plus size na minha agência? Nunca. Agora a tendência são pessoas mais ‘normais’. E tem essa coisa das redes sociais, que pulverizou muito tudo. Antigamente eu tinha que procurar; hoje, as meninas é que vêm até mim. Uma loucura, batem aqui na porta, recebo uns 200 e-mails por dia. Meus workshops estão bombando.
Mas você gosta dessa inclusão?
Acho legal porque tem essa coisa do poder feminino, e as pessoas têm que aceitar as diferenças, assim como da moda. As pessoas agora estão gritando, ‘eu existo e não tenho 88 centímetros de quadril, mas estou aqui e sou feliz’.
Você tem contato com esse povo todo que ajudou a lançar?
Cauã tenho bastante, Gisele mora em Boston e só quando nos encontramos, afinal fui babá dela na primeira viagem internacional; sempre vejo a Raica (Oliveira) no backstage, e olha isto: na última semana, eu bookei (palavra muito usada por agentes para ‘vender’ uma modelo para um desfile) a Georgia Wortman. Agora, a moda também está pedindo modelos antigas na passarela – estão querendo isso.
E como lançar uma pessoa?
Acho que a primeira coisa é fazê-la acreditar nela mesma. Foi assim com a Ana Beatriz Barros porque ela era muito tímida. Eu pirei quando vi essa menina, tanto que ela ganhou o concurso Look of The Year de 1996. Foi assim com Isabeli (Fontana), Fernanda Tavares, Cauã, Márcio Garcia…
Já brigou com algum deles?
Já aconteceu de eu dar a maior força e a pessoa ir para o concorrente. É normal, faz parte, e já me acostumei, assim como aquela música do Capital Inicial, ‘já me acostumei com o que vai’ (risos), vai uma, vem 20 e bola pra frente. Mas nunca quis brigar com ninguém; acho que, se a pessoa quiser, ela fica com você porque quer. Sou muito mais fada-madrinha mesmo, que dá aquela força inicial. Depois que você fizer a primeira capa, meu amor, qualquer um pode ser seu booker. Colocar na capa é que é difícil.
A coisa mais chata e mais bacana no mundo da moda?
O chato é que o meio tem muito picareta hoje em dia, com as redes sociais. Várias agências e perfis fakes ficam chamando as modelos, fazendo propostas, e é tudo uma furada. E o melhor de tudo é dar oportunidade para as pessoas, como meninas de favelas do Rio, do subúrbio, que conseguem ajudar as famílias.
Tem apostas para 2019?
Meu departamento de atores está muito legal – estou apostando todas as minhas fichas nisso porque agora eu fico com esse olhar não só pra moda – quero também lançar pra TV. Vejo que a pessoa tem aquele olhar de protagonista, uma Paolla Oliveira ou Ana Paula Arósio, que não têm tanta altura, mas tem o rosto expressivo… Daí invisto em interpretação. Também montei um grupo de poesias chamado ‘Era uma vez um poeta’, e tem um livro e documentário em produção. Então é isto: temos que nos reinventar e agora posso dizer que tem muita gente aí na fila para ser a nova Gisele.