O cara que sentar na cadeira presidencial no dia 1º de janeiro vai ter muito trabalho pela frente. Antes disso, porém, as pessoas estão com o espírito armado nas redes sociais, nas ruas e na vida, deixando de falar com a própria família, amigos, conhecidos e bloqueando a rodo – no virtual e no real.
Seis cariocas notáveis esclarecendo os motivos de suas escolhas – em ordem alfabética (um número maior que esse as opiniões acabam se repetindo):
Anna Sharp (terapeuta): “Voto no Bolsonaro, ele sim, porque não podemos mais sobreviver à nossa própria omissão durante décadas, sendo espoliados, roubados e destruídos através de uma esperança impossível, trazida por pseudolíderes carismáticos e desonestos, engolindo uma apologia contendo uma total inversão de valores, verdadeiros reféns numa terra de ninguém! Ele sim, porque ficamos assistindo ao nosso povo ser manipulado, sobrevivendo na miséria do slogan Paz e Amor, presenciando, atônitos e paralisados, a tortura diária de milhares de pessoas nos corredores e nas portas dos hospitais, vítimas passivas da violência desenfreada causada pela total ignorância e desespero dos desesperançados. Ele sim porque finalmente uma voz solitária e desconhecida levantou-se, clamando por justiça, estampando diante de nossos olhos atônitos as imensas cifras recebidas em propinas por aqueles que se consideravam donos de nossa moral e dos frutos de nossa terra, nossa mãe gentil. Ele sim porque, diante de tamanha riqueza engordando a empresa sediada nos palácios e adjacências governamentais, as portas das prisões se abriram para os que se julgavam deuses inatingíveis do Olimpo. Ele sim porque, subitamente, um sussurro surgiu nas entranhas das velhas raposas, se transformando rapidamente num verdadeiro urro de revolta reivindicando o direito a usarmos nossa própria voz! Ele sim porque nos despertando do sono letárgico, reuniu um país inteiro numa só prece: Brasil acima de tudo. Deus acima de todos!”
Maria Eduarda de Carvalho (atriz): “Voto no Fernando Haddad não por uma questão partidária, mas, sim, humanitária. Assim como Cid Gomes e Mano Brown, tenho inúmeras críticas ao PT, mas o que está em jogo, neste segundo turno, é a permanência dos nossos direitos mais básicos de existir como cidadãos em nosso país. Me choca profundamente que um candidato que tem o discurso de um ditador esteja sendo eleito democraticamente pelo povo brasileiro.”
Maria Raquel Carvalho (antiquária): “Voto é Bolsonaro, sim. Voto contra todos esses anos de corrupção e muita demagogia. Estamos sem segurança e sem saúde graças ao PT.”
Michel Melamed (ator): “Voto no Fernando Haddad, mesmo não querendo votar no PT, porque jamais votaria em um nazifascista. Como judeu, tenho um compromisso histórico com a memória das vítimas do Holocausto. Esses são os meus mais profundos sentimentos.”
Victor Fasano (ator): “Voto no Bolsonaro. A razão principal da minha escolha foi que me comprometi a votar num candidato ficha limpa. Foi por isso que eu lutei junto às novas medidas contra a corrupção esse tempo todo; então essa foi a minha primeira escolha. Eu, que lido muito com meio ambiente, foram 16 anos de retrocessos, em que aconteceu a construção de várias barragens de forma arbitrária, em que Belo Monte existiu, assim como São Mateus e outras no Mato Grosso existiram, sem a parte que é necessária para os peixes subirem o rio, e hoje eles são triturados nas turbinas das duas hidrelétricas. Num governo em que aconteceu a tragédia de Mariana e nada foi feito, um governo em que existiu um segundo código florestal. E, nesse segundo código florestal renovado, nenhuma medida foi implantada para que as pessoas pudessem, ao menos, respeitar esse segundo código florestal. Não quero investir de novo num governo que já se provou corrupto, com manias corruptas, com ações corruptas, e isso em 16 anos já deu pra qualquer entender qual é o funcionamento disso. Prefiro pensar e arriscar num candidato novo, num candidato que não tem tempo de televisão, que não tem recursos, que não tem um apoio de outros partidos, coisa inédita nas eleições brasileiras, e que tem principalmente o apoio do povo, como mostram as pesquisas. Isso é democracia: quando a população define quem ela quer para presidir o País, é porque a democracia está funcionando, e ela não pode ser discutida como uns dizem por aí, porque ela é soberana. A velha política não tem mais lugar no Brasil, e o povo percebeu isso; essa velha política já acabou.”
Viviane Mosé (filósofa):”Voto no Fernando Haddad por duas razões: primeiro, por uma razão positiva, que é por afirmar a sua competência e capacidade pra ocupar a Presidência da República, tendo em vista o excelente trabalho tanto de gestão quanto conceitual que ele fez no Ministério da Educação – um trabalho extremamente bem-sucedido, como podem mostrar nossos índices internacionais. Foi durante a gestão de Haddad, entre outras coisas, que o Brasil teve acesso a educação, jovens, crianças, adultos, por uma série de políticas inclusivas e pelo fortalecimento de uma educação voltada pra autonomia, pra inclusão, pro desenvolvimento da liberdade e da responsabilidade. Por uma questão negativa também, eu não votaria jamais no candidato Jair Bolsonaro por tudo que ele representa: uma política de confronto, de enfrentamento, numa sociedade extremamente esgarçada, polarizada, o que pode ser altamente nefasta. Além de representar um retrocesso em muitas conquistas brasileiras, Jair Bolsonaro representa o que nós chamávamos, na década de 80, de reacionário, e uma reação ao que a juventude, as mulheres e os pobres têm conquistado no mundo. É contra essa política que eu me posiciono.”