Dando continuidade ao “Especial Eleições 2018”, a entrevista deste sábado (29/09) é com o candidato Marcelo Trindade (Novo). Já foram publicadas as entrevistas de Eduardo Paes, Garotinho e Indio da Costa.
Por que se candidatar ao governo do Rio?
Começou quando eu fui apresentado pelo Armínio Fraga ao João Amoêdo e ao Bernardinho, que poderia ser lançado candidato a governador pelo Novo. Ajudei a elaborar o plano de governo, mas ele decidiu não ser candidato; resolvi, eu mesmo, mergulhar porque acho que só um projeto novo, com pessoas novas, pode tirar o Estado dessa enorme crise criada pela má gestão, incompetência e corrupção da velha política. O Novo é a única alternativa real de mudança, e tem que ser uma mudança radical. Lu, nós não vamos resolver os problemas do Estado repetindo os erros do passado nem com as pessoas do passado. O Rio já sofreu demais e agora precisa de um governo que administre o presente e pense o futuro de maneira moderna, diferente, autêntica. Amo o meu Estado, e ser candidato a governador por um partido livre de todos os vícios é uma honra sem tamanho.
A fazer aliança com algum dos seus concorrentes, qual seria? Por quê?
Não somos contra alianças, mas, entre os princípios e valores do Novo, está não usar recursos públicos, como os fundos eleitoral e partidário. Nenhum partido toparia se coligar conosco porque, para isso, teria de abrir mão desses recursos, além de só lançar candidatos ficha limpa. Isso não significa que governaremos sozinhos. Se eu for eleito, faremos alianças com bons quadros da Alerj – haverá muitos deles – e conversaremos com todos que entendam essa mensagem dos eleitores. Só não faremos política com bandidos – desses, vamos manter distância sempre. Se depender de mim, vão para a cadeia.
Das tantas tragédias atuais na vida dos cariocas, qual a que mais o comove?
A perda de tantos jovens para o tráfico e nossos inadmissíveis níveis de evasão escolar. É preciso conjugar o combate à violência, que ameaça a todos, e ao desemprego, outra fonte de sofrimento muito intenso das famílias do Rio de Janeiro, com um intenso programa de combate à evasão. É preciso fazer um governo íntegro, 100% ético e técnico, que gerencie com eficiência os serviços de Educação, Saúde e Segurança e melhore o ambiente de negócios para atrair empresas e investimentos.
Qual a ordem de prioridade pro senhor: educação, saúde e segurança?
Os três temas têm que ser tratados em conjunto, dada a situação de calamidade em que se encontram, mas o desafio da Segurança Pública também tem impacto nas outras duas questões. Sem segurança, não há educação de qualidade porque a violência interfere demais na rotina da comunidade escolar, tanto de professores quanto de alunos. A falta de segurança afeta também os profissionais de saúde, dificulta ações de saúde preventiva em territórios controlados pelo crime organizado. Prejudica o desenvolvimento econômico e os empregos, reduz a arrecadação de impostos, necessária para a prestação de bons serviços de Saúde e Educação.
O senhor colocaria um filho numa escola pública no Rio? Por quê?
Sou contra o proselitismo e a demagogia com o eleitor. Todo pai quer para o seu filho o que existe de melhor. Quem pode pagar uma escola de alto padrão para os filhos, como é o meu caso, fará isso. Não significa que não existam excelentes escolas no sistema público, graças à dedicação de professores e profissionais de Educação que são verdadeiros heróis. Conheço também experiências fantásticas de escolas que recebem ajuda da iniciativa privada e que estão mudando o paradigma do ensino público, como o Projeto Nave, na Tijuca. É uma escola de primeiro mundo e ficaria muito feliz de ter um filho lá.
Quais as três primeiras providências se eleito?
Temos decretos e projetos de lei prontos de corte de despesas, e vamos assegurar a estabilidade nos comandos das polícias, realizar um diagnóstico da situação física nas escolas, organizar as unidades de saúde em torno de hospitais de referência e tomar muitas medidas de contenção de gastos para tirar o Rio de Janeiro do buraco e começar a reconstruir o futuro. São muitas medidas, muitas necessidades.
A filha do Eduardo Cunha é candidata, o filho do Sérgio Cabral é candidato, o filho do Jorge Picciani é candidato; todos presos – o que existe de tão atraente na política que não intimida esses jovens nem nessas circunstâncias?
A lógica da velha política é a da luta pela perpetuação no poder; é o poder pelo poder, o que leva o ser humano, muitas vezes, a perder o bom senso e até a noção de ridículo. Mas este tempo está chegando ao fim, se Deus quiser, e o surgimento do Novo, com a força que estamos vendo crescer nas ruas, é um sinal dos novos tempos.
O que pretende deixar de mais importante ao fim de seu governo?
Com investimento em inteligência policial para desbaratar o crime organizado, prender bandidos e produzir provas para mantê-los na cadeia, vamos reduzir muito a criminalidade no Estado. Espero cumprir todas as metas do meu plano de governo, assim como iniciar projetos e obras para que os meus sucessores concluam. Isso, em si, já é uma revolução. Hoje, os políticos só se animam com projetos que podem concluir em quatro anos, antes da eleição seguinte. É por isso que obras de longo prazo, como a despoluição da Baía de Guanabara, não são tocadas. Eu quero deixar um Estado menor e muito mais inteligente, prestando serviços de qualidade em Educação, Saúde e Segurança. Quero lançar concessões de obras de transporte e logística, novas rodovias, uma malha ferroviária mais ousada, transporte marítimo com empresas competindo entre si por preços baixos e serviços melhores para a população. Tem muita coisa boa para se fazer no Rio, e eu acho que tenho capacidade de gestão para não fazer um governo tímido. O Rio precisa de um governante ousado e corajoso para fazer as coisas como elas têm que ser.
Que cidade citaria como exemplo? Por quê?
São Paulo. É um estado complexo como o Rio de Janeiro e tem uma taxa de homicídios por 100 mil habitantes 4 vezes menor que a nossa; tem bem menos da metade de nossa evasão escolar; tem 49 das 50 melhores estradas do País; cobra um ICMS menor e tem uma taxa de desemprego muito mais baixa. Eu não admito que nosso estado, dado nosso potencial, se compare com nada menos que o maior estado da Federação.
Qual o seu apreço ou desapreço com a prefeitura do Crivella?
Representa um jeito antigo de fazer política, com pouca eficiência e pouca transparência nos critérios de distribuição de recursos públicos. Reproduz práticas de alianças políticas que não valorizam a indicação de técnicos capacitados para os cargos de gestão. É verdade que ele recebeu uma herança bem complicada do ex-prefeito. Eduardo Paes teve todo o dinheiro do mundo, em função das Olimpíadas e dos repasses dos governos do PT, e poderia ter deixado a cidade em uma situação bem melhor.
E a vida cultural como anda? Qual a última peça, o último filme, o último livro?
Podemos voltar a falar sobre teatro, filme e livros depois da eleição? (risos). Tenho lido muito sobre gestão pública, problemas do Rio de Janeiro e do Brasil, e uma quantidade imensa de contribuições de pessoas muito competentes com sugestões para o nosso governo.
Sabemos que a União retém quase a totalidade dos impostos arrecadados no Estado do Rio, deixando o governador, digamos, de pires na mão. Qual seria sua proposta para evitar essa romaria a Brasília, cada vez que mais dinheiro é necessário?
A revisão do pacto federativo vai necessariamente ocorrer com a reforma tributária, que todo e qualquer presidente vai ter que fazer. Em paralelo, temos que fazer uma boa gestão, cortar o que for preciso, desenhar um estado mais eficiente. Vou respeitar o plano de recuperação fiscal, que inclui a privatização de estatais como a Cedae, e ainda cortar R$ 9,2 bilhões de despesas em quatro anos. O financiamento de novos projetos só poderá ser feito, neste período, por agências multilaterais internacionais e, naturalmente, pelas muitas empresas privadas que esperamos atrair ao criar o melhor ambiente de negócios do Brasil.
numero:13 O que o senhor acha de políticos que mentem?
Acho que estão com os dias contados.