Algumas perguntas fazemos desde que começamos a nos entender. Quem sou eu? Onde estou? Você sabe quem eu sou? Eu sei quem é você? Como o tempo passou e não percebi? Em torno dessas questões – que vivemos, e não conseguimos responder –, é que se centra a trama de “Uma Espécie de Alasca“, do Nobel Harold Pinter, em cartaz na Caixa Cultural.
Na trama, Yara de Novaes interpreta Débora, mulher em coma há 29 anos, após contrair a doença do sono (encefalite letárgica) e que acorda com a mente de 16 anos de idade. Durante todo o tempo em coma, Débora foi cuidada por sua irmã Paulinha e seu cunhado, o dedicado médico Hornby, vividos por Miriam Rinaldi e Jorge Emil.
Pinter inspirou-se no livro de ficção “Awakenings“, pois a fonte do livro é a mesma em que o autor bebe para a sua dramaturgia: a sensação de que o tempo passado nunca pode ser quantificado com precisão, ou totalmente recapturado. Os recursos cênicos, como a concepção audiovisual de Luiz Duva, a trilha sonora de Luisa Maita e Jam da Silva e os figurinos de Débora Falabella contribuem para reafirmar que a busca é impossível.
“Uma Espécie de Alasca” reformula a fábula da “Bela Adormecida“: alguém preso num mundo de gelo, frio, distante, que deseja encontrar o que deixou: pai, mãe, cachorro, a própria juventude encerrada agora nas profundezas de um corpo de uma mulher de meia-idade. Como todos nós, que ficamos congelados no passado e cujo retorno se dá sem o beijo salvador do príncipe. (Fotos: LeekyungKim)
Serviço:
Caixa Cultural Rio
De sexta a sábado, às 19h
Domingo, às 18h