O canal de Felipe Neto no YouTube tem números inacreditáveis: depois de bater os 12 milhões de inscrições, alcançou, nos últimos 30 dias, mais de 160 milhões de visualizações. É, atualmente, o 5º maior canal do YouTube brasileiro, atrás de Whindersson Nunes, do Canal Kondzilla, de Júlio Coccielo e do Porta dos Fundos – mas ganhando deles no mês de julho como o youtuber que mais cresce em número de inscritos.
Porém, o mais impressionante é o Felipe real, muito diferente do que aparece no vídeo – não é à toa que ele conta ter crescido no mundo artístico. Fora do personagem que muda constantemente a cor dos cabelos, fala muito palavrão e bobagens, o carinha de 29 anos, criado na Zona Norte do Rio e namorado há três anos da estudante de Odontologia Bruna Gomes, é articulado, tranquilo e sério. Sincero, reconhece seus pecados do “passado”: foi esquerdista extremado – teve até uma fase petista – e homofóbico. De mudança pronta para a Barra, o morador do Flamengo, dono de uma conta bancária hoje considerável, diz que está numa fase muito feliz com seu canal: “Adoro besteirol e fazer rir”.
Numa entrevista recente você deu nota 3 para o Porta dos Fundos, que estão em 4º lugar em número de inscritos no YouTube do Brasil. O que não te agrada no humor deles? Fazer sucesso na internet tem alguma lógica?
“O ‘Porta dos Fundos’ teve uma importância muito grande nos anos 2012, 2013, era um novo momento do YouTube. Dei a nota três por questão mesmo de gosto pessoal, não é o meu estilo de humor e porque eles não se reinventaram e acabaram perdendo um público muito grande. Mas tenho certeza de que eles podem bombar de novo.
Quanto ao sucesso na internet, é importante compreender como o entretenimento funciona nos veículos digitais no Brasil e no exterior. Muitas das vezes um canal dá certo mais por um acaso, porque alguém inovou no formato, mas depois tem dificuldades em manter o público. Vale a pena gastar um tempo estudando os formatos como eu fiz para voltar com o meu canal, no ano passado”.
Uma das pessoas que você mais critica é o pastor Malafaia, sobretudo por causa da cruzada dele contra os gays. O que te faz ser tão solidário com os gays?
“Cresci num ambiente artístico, faço teatro desde cedo, tive muitos amigos gays ao longo da vida, mas minha educação foi muito conservadora em casa, frequentava a Igreja Católica e tinha uma visão meio deturpada do que era ser homossexual, embora não desejasse o mal de ninguém. Achei importante me engajar nessa causa contra o Malafaia justamente porque eu já fui bastante homofóbico e considero esse um movimento importante pelo tanto de sofrimento e dor que o preconceito gera. Fiz vídeos em 2010 em que gritava ‘viadinho’ e zoava os LGBTs com piadas. Para me redimir, procuro dedicar um pouco do meu tempo tentando esclarecer os meus seguidores não só sobre os LGBTs, mas também contra o machismo, há ainda uma rejeição forte contra os direitos da mulher”.
Ter 12 milhões de inscritos no seu canal pesa como responsabilidade? Você se sente obrigado a conseguir muitos “likes” ainda hoje?
“Penso que eu tenho sempre que me cobrar, não importa o número de seguidores, para ser mais criativo, inovador. É uma cobrança muito mais interna,de ficar feliz com o conteúdo que está no ar. No momento estou muito feliz, depois de três anos que deixei meu canal muito de lado, para cuidar das empresas”. (Nota do site: Felipe foi o fundador da empresa “Paramaker Network”, a primeira de network no YouTube brasileiro, que acabou sendo vendida para a a francesa Webedia em 2015. Neto ficou um tempo como o responsável pelo núcleo criativo e depois se desligou. Atualmente, sua empresa é o seu canal).
Você tem uma ideia nítida de como é o seu público? Pretende falar para o jovem ainda por muitos e muitos anos?
“Meu canal tem 12 milhões de inscritos e 160 milhões de visualizações por mês, é difícil definir o público nesse universo, tem gente com mais idade também, mas o público jovem é essencial para mim e só vou parar de me dirigir a eles quando sentir que não está mais no meu DNA, quando me sentir um velho forçando a barra”.
Ter nascido na Zona Norte do Rio serviu para o quê na sua vida? (rs) Você se tornou mais pé no chão por causa disso?
“Vivi no Engenho Novo e acho que ter vindo de uma condição social menos favorecida dá um valor diferente a cada conquista, coisas que você não presta atenção quando tem acesso naturalmente a uma boa escola, uma boa faculdade. Essa sensação de recompensa pelo esforço, enxergar a vida como recompensa, é uma coisa que pretendo passar para os meus filhos”.
Agora que você conquistou uma boa posição financeira na vida já teve alguma paranoia de achar que as pessoas se aproximam por causa do dinheiro?
“Mas essa é a realidade! As pessoas são atraídas pelo status, até mais do que pelo dinheiro, porque você faz sucesso no YouTube etc. A gente tem que saber filtrar quem está do seu lado pelo que você é daqueles que estão pelo que você representa”.
Do Lula você não livra nem a cara por ter criado projetos sociais como o Bolsa Família?
“Tenho certeza de que se os projetos sociais tivessem sido melhor formulados e executados o país não estaria nessa situação catastrófica em que está. Não entendo de economia, mas pelo que acompanhei, o resultado social desses programas ficou mais na maquiagem de números do que num benefício real – quantas dessas pessoas não estão voltando para a linha de pobreza? É o mesmo que dizer que um objetivo errado, de resultado de curto prazo, é uma coisa maravilhosa. O PT sempre teve uma conduta de governar pelo poder e não pelo povo. Lula foi uma figura maligna para o país, mas também não tolero o PSDB. No momento, nenhum político me representa”.
Como é seu dia a dia, tem horários definidos para reuniões e para a criação dos vídeos? Você se inspira também em livros?
“Não tenho uma rotina muito fechada, tenho reuniões geralmente à tarde e reservo o fim de tarde e a noite para a gravação dos vídeos. Deixo o resto da noite para assistir a filmes, séries e escrever. Tenho o hábito de leitura muito forte, não faço distinção de gêneros, mas tenho lido mais ficção ultimamente, para me distrair”.
Além de fazer vídeos, o que você mais curte na vida?
“Ir ao cinema, jogar futebol toda terça à noite, assistir ao Botafogo e sair para comer tudo o que faz mal: lanches, sanduíches, pizza, tudo o que não presta”.
Você mesmo pinta seus cabelos? Não tem medo de ficar careca com tanta mudança de tintura?
“Tenho uma cabeleireira, a Carol Duque Estrada, que faz um trabalho muito bem feito. Se eu mesmo fosse pintar, já estava sem cabelo!”.
numero: 11 Para quem você liga o seu “foda-se” no momento?
“Para quem quer falar mal, causar problemas, criticar. Estou num momento tão positivo que não dá mais tempo ou vontade de responder a coisas sem sentido. Tô bem tranquilo”.