O cantor, compositor e ator Eduardo Dussek foi o convidado do mês na série Depoimentos para a Posteridade. Cantarolando muito animado, um verdadeiro showman, chegou ao museu em seu Fusca conversível – uma de suas grandes paixões -, com a amiga e cantora Leiloca, também sua entrevistadora no debate. Ali já estavam os jornalistas Artur Xexéo, Bernardo Araújo e o produtor cultural Haroldo Costa, para a sabatina de quatro horas.
Infância: “Sempre fui uma criança metida. A verdade é que demorei 40 anos para deixar de ser metido. Hoje sou modesto, apesar de loiro. Mesmo criança, eu já bebia. Sei que é politicamente incorreto dizer isso, mas é verdade. Meus pais são europeus – sou filho de uma húngara e um tcheco e, na Europa, é tradição oferecer, aos domingos, vinho misturado com água e açúcar para crianças. Por isso, desde os 6 anos eu já bebia.”
Madame Satã: “Quando tinha 11 anos, fui com minha irmã a um bar de uma uruguaia na Lapa. As pessoas dançavam, tinha muita cantoria. Eis que chega uma pessoa diferente no salão. Começou um burburinho no ambiente e, quando perguntei quem era, foram logo dizendo que se tratava de Madame Satã. Aquela figura me encantou de cara. Eis que ela veio em minha direção e me chamou para dançar, em par. Era todo ‘boyzinho’. No final da dança, recebi até um beijo na mão. E pensar que até hoje me perguntam quando saí do armário, mas, lá em casa, era closet, sempre.”
Encontro com músicos e artistas: “Fui morar em um apartamento na Rua Álvaro Ramos, em Botafogo, com Luiz Fernando Guimarães. Roque Conceição e Luiz Fernando de Castro, nos anos 70. Ali era uma rua onde só vivia gente do cinema. Fazíamos encontros com apresentações artísticas, onde, no final, passávamos o chapéu para arrecadar uma grana. Gil apareceu para me ver, pois começaram a comentar pela cidade sobre nossas apresentações. Eu, todo maquiado, com um salto enorme, bem David Bowie, e ele, de macacão largo, bem Gil. Depois vieram Gal e toda a baianada da música.”
Carmen Miranda: “Minha primeira composição foi aos 11 anos, ‘A baianinha’, uma marchinha carnavalesca em homenagem a Carmen Miranda. E foi justamente, aqui no MIS, em uma exposição sobre ela, que vim visitar com minha mãe, que fiquei encantado com a Carmen. Quando voltamos pra casa, compus esta canção da forma mais natural possível. Acho que Carmen me guia até hoje, em todos os meus trabalhos.”