Costuma-se dizer que família é bom no porta-retrato, mas, felizmente essa máxima pode não acontecer. “Brimas” conta como as relações com avós, pais e sobretudo com a mãe podem ser altamente transformadoras, cheias de histórias incríveis. São capazes de nos impulsionar e de serem veículos de amor. E que podem virar arte.
“Brimas” é a história de duas amigas de vida toda – uma, judia (Esther), e outra, “turca” (Marion), interpretadas, respectivamente, pelas atrizes e autoras do melhor texto de 2015, Beth Zalcman e Simone Kalil. As duas, enquanto cozinham, trocam lembranças, vivências e, sobretudo, o que está difícil de encontrar: valores morais e éticos baseados em amor, lealdade e amizade. Um cenário inteligente de Toninho Lobo, com mobilidade de malas para mostrar que o tema são trajetórias, e, com um incrível jogo de projeção, é a moldura de um espetáculo com direção extremamente cuidadosa de Luiz Antônio Rocha.
Para a autora e atriz Beth Zalcman, falar de sua avó é falar de identidade construída pelo afeto, pelo cheiro e sabores da comida, pelos gestos, pela voz, pelas histórias vividas e sentidas. E esse afeto se desenrola na utilização dos elementos cênicos e nos lindos quadros vazados que ludicamente constroem o tempo do relacionamento.
Amigas, com tudo para serem inimigas, envolvidas numa cultura muito semelhante, cada uma representando um lado da moeda. Yin e Yang, água e azeite, branco e preto. Mas entenderem o papel da mulher em um determinado contexto só faz crescer a sensação do que pode nos mobilizar: o sentimento de procriação. Criam juntas, cozinham juntas, falam juntas e se amam juntas e junto ao mundo.
Serviço:
Sala Baden Powel
Quintas e sextas às 20 horas
Foto: Guga Melgar