Renata Sorrah é um caso especialmente à parte na dramaturgia brasileira: além de ser uma atriz de TV admirada e popular, ela desenvolveu uma carreira no teatro muito respeitada, cheia de prêmios e clássicos no repertório.
Essa flexibilidade a carioca levou também para a vida pessoal, a ponto de manter sua privacidade. Com a segunda reprise da novela “Senhora do Destino” em cartaz, atualmente no Canal Viva, a vilã Nazaré Tedesco voltou a dar altos pontos de audiência e suas caras e bocas expressivas reaparecem em vários memes, usados até por internautas no exterior – ironia do destino, Renata nem ter perfil nas redes sociais. A conexão com o mundo vem da sua energia e de uma curiosidade intelectual espontânea. Renata sempre foi ela mesma e os fãs amam seu jeito e seu incrível frescor. Sobre o colega de profissão, José Mayer (denunciado por assédio sexual à figurinista Su Tonani), Renata prefere não falar do ator em si, mas comenta o caso. Leia a entrevista:
Renata, qual a sua explicação pessoal para o sucesso até hoje, da Nazaré Tedesco, de “Senhora do Destino?”
“A primeira coisa que penso é que a novela era muito bem escrita e quando foi ao ar, que sucesso! E não só pra Nazaré, mas para todos os personagens. À época, eu estava fazendo Medeia no teatro, portanto, estava preparada e veio aquela personagem – vilã, sim, mas com humor! – e isso é um trunfo. As coisas para a Nazaré nunca davam certo e isso a humanizava. Já foi mesmo muito querida na época e hoje em dia bomba nas redes sociais. Recentemente, esteve entre os maiores memes do mundo, pela eleição do Donald Trump”.
A Susana Vieira declarou que, à época, chegou a ter inveja do seu sucesso, mas disse que não teria a mesma coragem e desprendimento. Você acha que foi corajosa na criação do personagem?
“Não fui corajosa, não, eu tinha era muito prazer em fazer, eu amava, e sem nenhuma censura e sem absolutamente nada de ética. Ela fazia tudo e vinha naturalmente – ficou epidérmica em mim”.
Quantas daquelas expressões divertidíssimas que a Nazaré falava, como “alucicrazy” são contribuições suas? Você usa na sua vida alguma?
“Nenhuma dessas expressões eram minhas, nada, todas do Aguinaldo (Silva, o autor), que tinha como parceiro o Felipe Miguez, que também escrevia pra mim. Não uso nenhuma na vida”.
A personagem vai voltar na novela “O Sétimo Guardião”, do Aguinaldo Silva?
“Ainda não sei se a personagem vai voltar – sei que eu vou fazer a novela”.
Você sempre conseguiu manter sua vida meio que distante da curiosidade do grande público. Como consegue essa façanha?
“Isso é uma escolha, é para quem gosta de mostrar – eu não tenho nem redes sociais. Tirar uma foto da minha comida, onde estou, onde vou? Não passa por mim fazer isso. E nem tenho essa coisa de celebridade, isso não faz parte da minha vida”.
O que você faz para manter um corpo bacana?
“Tenho uma genética que ajuda. Só comecei a malhar depois que a Mariana, minha filha, nasceu – em 1981. Meu pai era alemão, sempre gostou de andar, de fazer caminhadas. Subíamos a Floresta da Tijuca com frequência. Por esse lado, tive uma vida esportiva muito ativa. Atualmente faço musculação e pilates, cinco vezes por semana”.
A vida vai bem?
“A vida vai muito bem, tenho filha, tenho netos (Miguel e Betina), tenho trabalho, tenho amigos. Me apaixono, me desapaixono, como sempre fui. E, sobretudo, consigo manter a chama acesa. É preciso vontade de viver, interesse no mundo e interesse pelo outro”.
Fala sobre o caso José Mayer…
“Do Zé Mayer em si não quero falar e sim do que se alastrou depois do que aconteceu. A história tomou a maior importância, dela saiu um movimento muito interessante que, de alguma maneira, foi impulsionado por ele, a favor do respeito, da igualdade para nós mulheres, que começa a se ampliar, contra o assédio moral e cívico, contra a violência. Contra, por exemplo, esse homofóbico, racista e machista do Jair Bolsonaro. Esse Bolsonaro tem que ser preso”.