O que distingue um grande artista é sua capacidade de pegar um fato, transformá-lo em metáfora, emocionar o público e fazê-lo refletir e levar na alma, na mente e no coração a sua mensagem. No aclamado texto “Galileu Galilei”, Bertold Brecht altera o final três vezes até a versão a que assistimos agora, que é de 1945. Conforme o nazismo avança, até a sua derrota, Brecht compõe o caráter de seu personagem. Como os artistas alemães que adotaram o nazismo ou apenas renegaram seus valores como forma de sobrevivência, Galileu se submete à Inquisição.
Em um espetáculo com montagem carnavalizada, onde humor e música permeiam a história real da vida de Galileu, a dramaturgia coube a quatro mãos: Christine Röhrig, Cibele Forjaz (diretora), Denise Fraga e Maristela Chelala. Destaca-se o desempenho de dez atores: Ary França, Lúcia Romano, Maristela Chelala, Vanderlei Bernardino, Jackie Obrigon, Luís Mármora, Silvio Restiffe, Daniel Warren e Théo Werneck, que tocam diversos instrumentos e cantam músicas originais de Lincon Antônio e Théo Werneck .
“O que eu espero é divertir as pessoas com um espetáculo festivo e fazê-las sair do teatro pensando em qual será a nossa alternativa para escapar desta areia movediça. Espero reiterar a fé na ideia de que o conhecimento e a razão humana ainda são os melhores instrumentos de luta contra a repressão, a injustiça, a miséria e o único caminho possível para o avanço social.”, diz Denise Fraga, que interpreta Galileu.
É difícil, quase impossível, a situação do criador em tempos de repressão. Foi o que aconteceu na Inquisição, na Ditadura brasileira, no Nazismo. Essa é uma situação perversa que quer impedir, sobretudo, as liberdades individuais e o bem-estar do povo. Porém o que Brecht aponta é que não há nada – nem a morte, nem 500 anos – que possa impedir a estupenda força da obra criadora. Assim foi com Galileu e com qualquer artista que tenha coragem de driblar a repressão.
Serviço
Teatro João Caetano
Sextas e sábados, às 19h30
Domingos, às 17h30