A querida atriz Marília Pêra, de 72 anos, morreu em casa, em Ipanema, na manhã deste sábado (05/12), depois de ter descoberto um câncer há dois anos. Uma das artistas mais completas do País: interpretava, cantava, dirigia, produzia, além de ser bailarina e coreógrafa. Trabalhou em mais de 50 peças, mais de 20 filmes e cerca de 40 novelas, minisséries e programas de televisão. Um dos últimos trabalhos foi sua participação na série “Pé na Cova”, da TV Globo. Ela deixa os filhos, Ricardo Graça Mello, Esperança Motta e Nina Morena, e o marido, Bruno Faria. O velório vai ser no Teatro Leblon, sala Marília Pêra (Rua Conde de Bernadote, 26 – Leblon), a partir de 13h.
Segue na íntegra, seu depoimento para o livro “Tudo que eu já fiz por dinheiro”:
“Na maior parte da minha vida, o dinheiro foi muito escasso. Comecei a trabalhar aos 4 anos para ajudar meus pais. Sou de família de artista, e antigamente era muito raro a gente ganhar dinheiro. Eu adorava estar com eles e fazia qualquer negócio para entrar em cena. Uma vez em Natal, na Companhia de Henriette Morineau, meu pai tinha recebido todo o salário dele e da minha mãe, mas, não sei como, acabou perdendo tudo. Isso era tudo que tinha para vivermos seis ou oito meses. Ficamos arrasados. Não tínhamos dinheiro nem para pagar o hotel. E sabe quem salvou a família? Eu. Com a pontinha que fazia e pelo pouquinho que recebia por ela. Isso aos quato anos. Desde essa época, ficava com o meu olho voltado para as coisas boas da vida. Quando a gente viajava com a Dulcina – na minha opinião, a grande dama do teatro -, ela fazia peças chiquérrimas, e eu me acostumava com aquele mundo rico. Quando as temporadas acabavam e voltava para o meu apartamento do Rio Comprido, ficava arrasada. Não queria aquela vida pobre, queria uma vida abastada como no teatro. Passei a ganhar dinheiro há bem pouco tempo. Fui a primeira que deu certo financeiramente na minha família. Quando vou fechar um contrato, aviso logo que não pode ser baratinho porque, além de não ter quem me sustente, tenho quem precise de mim, sou arrimo de família. Nunca fui casada com homem rico. Às vezes se aproximam de mim pessoas que têm dinheiro, mas normalmente não me interessam. Pode ser preconceito ou pura coincidência. Claro que existem homens ricos interessantes, mas esses nem olham pra mim. Quando bate uma coisa forte, pode se certificar: não deve ter um tostão. Minha relação com o dinheiro é muito desprendida também. Gosto de todos os prazeres que ele oferece: boas roupas, restaurantes bacanas, viagens, entre tantos outros. Não tenho pena de gastar, mas às vezes me sinto um pouco culpada. Quando vou comprar uma coisa caríssima, por exemplo, paro e pergunto: será que é pecado?”