Você já conheceu alguém assim: chato, imaturo, bobo, sem talento, e que se acha – acha que sabe mais, acha que é mais bonito, se acha mais inteligente. Na verdade, nada sabe, é meio esquisito, pensa e fala de forma rasa. Esse é o eixo de “Será que a gente influencia o Caetano?“, com texto de Mário Bortolotto e dirigida por Marcello Gonçalves.
Encenada pela Companhia Tartufaria de Atores, a peça apresenta Andrey Lopes (Beto Virgem) e Fábio Guará (Mário). Beto é um jovem mimado, preso em casa, estudante medíocre de Jornalismo que se acha um poeta maior. Mário se diz um amante de rock, um revolucionário, mas, quando está só, só ouve pagode. Dessa dicotomia, vemos, em dez cenas, os dois irem se afastando de um final de adolescência com uma dose gigantesca de esperança, até a vida adulta, quando os dois estão enterrados em empregos medíocres e sem perspectiva alguma.
“Essa é a história de dois babacas, esses caras que a gente está cansada de ver aí pela cidade; só há diferença para o resto porque eles se pretendem poeta e músico. E não podem ser. Acham que podem revolucionar a música popular brasileira. E eles tentam. A pretensão é tanta que eles acham que um dia influenciarão Caetano”, disse Bortolotto na primeira encenação do texto, há 30 anos, quando foi diretor e autor.
É visível o talento de Andrey e Fábio, que conseguem andar no fio da navalha de um texto que explora a contradição, que joga as antíteses num tabuleiro no qual o tom da comédia esconde o enorme drama das pessoas comuns cuja vida é um soma de fracasso. Um sim que é pois sim, pois tudo é não na vida de Beto e Mário. Não são os melhores amigos como aparece, não têm nenhuma possibilidade de acerto como dizem e, muito menos, são revolucionários. Mantêm a vida na linha única da sobrevivência.
SERVIÇO:
Quartas e quintas-feiras às 21h
Espaço Tom Jobim – Galpão das Artes