Os impasses são cotidianos. Pequenos fatos, pequenos amores, pequenas presenças. Enormes distâncias. Dissabores gigantescos. A vida de faltas e de falhas segue em câmera lenta. Como é cruel viver assim, de Fernando Ceylão, retrata um Brasil para o qual nos esforçamos em dar as costas. Mas esse Brasil corre, fica à nossa frente e nos sacode.
A peça abre com um homem, Vladimir (Marcelo Valle), contando para a mulher Clívia (Letícia Isnard) uma cena deprimente que havia visto rua: uma mulher aleijada vendendo comida e as pessoas não lhe dando importância. É assim, dentro do ambiente da lavanderia herdada por Clívia,que instados por Regina (Inez Viana), resolvem planejar um sequestro, com auxílio de Primo (Álamo Facó), o melhor amigo de Vladimir .
“A peça fala de ‘loosers’, que querem o respeito e o reconhecimento rápidos, não importando os meios que utilizam para isso. Acredito que muita gente hoje em dia se encontra em situação parecida, diante da necessidade de realizar algo independente das próprias vontades. Existe uma pressão para que se seja bem-sucedido”, contextualiza o diretor Guilherme Piva.
O tom é de comédia e ri-se muito das confusões, das voltas do texto, das observações nonsense. Mas o elemento que mais retrata a confusão das almas, o fracasso das tentativas, é o cenário de Aurora dos Campos, que mistura casa, trabalho, tudo meio sujo e meio largadão. Como sujo é o borrão de vida que levam. E como largados foram pelo destino os quatro personagens.
Serviço
Teatro Laura Alvim
Quinta a Sábado: 21h
Domingo: 20h