Vem chegando o verão, e é hora de falar das tendências da estação.
Muita coisa que era in ficou out (acho que falar em “in” e “out” já é out, né? Enfim), e é bom a gente saber o que é trendy e o que se tornou inapelavelmente cringe (“cringe” também ficou cringe, né? Difícil acompanhar…). Vejamos o que é um must e o que é demodê (mais demodê que “demodê” não existe, né? Deixa quieto).
Abandone de vez o amarelo e invista tudo no vermelho. Vermelho é a cor da paixão, da emoção, da sensualidade, do prejuízo e das notas baixas na escola.
O que seria do vermelho se mais de 50% gostassem do amarelo, não é mesmo?
Falácias também voltam com tudo nesta temporada. Vem com força total a releitura de “E o Aécio?”, agora repaginada. É fácil de usar e combina com qualquer situação. Por exemplo:
— Lula não devia ficar aceitando carona em jatinho de empresário condenado e que teve que pagar 200 milhões por corrupção…
— Ah, mas e a cocaína no avião da FAB?
Repare que não é preciso haver conexão alguma entre o comentário inicial e a resposta. Aliás, quanto menos lé tiver a ver com cré, melhor.
— Se o teto de gastos for sistematicamente estourado, a inflação deve voltar, o que prejudica os mais pobres.
— E a propina na compra das vacinas?
O importante é não permitir nenhum tipo de crítica, não aceitar qualquer ponderação, não abrir o flanco a nenhum questionamento. Só fascistas fazem isso e os fascistas saíram de moda na primeira quinzena de novembro, lembra?
A temporada 2023-2026 marcará o fim do politicamente correto (que já deu o que tinha que dar) e o hit será o politicamente revisto, corrigido, consertado e aperfeiçoado.
Todas as expressões idiomáticas poderão (e deverão) ser problematizadas, revelando alguma toxicidade oculta – que cabe a você, pessoa progressista, antenada e moralmente superior, revelar e esfregar na cara dos que ainda acreditam em história, etimologia, essas besteiras.
“A mentira tem perna curta” é capacitista.
“De pequenino é que se torce o pepino” é ofensiva aos veganos.
“Apressado come cru” envolve preconceito contra os frugívoros.
“O que não mata, engorda” é pura gordofobia.
“Seguro morreu de velho” é etarista.
“Cada macaco no seu galho”, “Caiu na rede, é peixe”, “A cavalo dado não se olha os dentes”, “De grão em grão a galinha enche o papo”, “Em boca fechada não entra mosca”, “Gato escaldado tem medo de água fria”, “Mais vale um pássaro na mão que dois voando”, “Não cutuque onça com vara curta”, “Não ponha a carroça na frente dos bois”, “Quem não tem cão caça com gato” são todos especistas.
E tudo (mas tudo mesmo!) pode se tornar racista. Basta inventar uma narrativa envolvendo escravidão e… pronto.
Isso já foi moda em outras temporadas, com “meia tigela”, “nas coxas”, “criado mudo” etc, mas em 2023 a tendência é você mesmo/a/e criar seus racismos pretéritos.
“Devagar com o andor que o santo é de barro” é racista porque… (invente algo como “porque os africanos escravizados não podiam fazer santos de ferro fundido ou de aço inoxidável, e tinham que fazê-los de barro, que se quebrava facilmente”).
“Escreveu, não leu, o pau comeu” é racista porque… (invente que os senhores de escravos — a elite branca patriarcal capitalista falocêntrica da época — mandavam para o pelourinho os negros que não fossem alfabetizados).
“Não adianta chorar pelo leite derramado” é racista porque… bem, você já captou a proposta. É só colocar a imaginação para funcionar e depois sair lacrando na internet.
Aproveite que, graças à sua empáfia nesta temporada que está por começar, pode ser que o que foi top entre 2018 e 2022 volte a ser show em 2027. Só depende de você…