Em priscas eras, minha professora chegou à aula e falou: “Vocês precisam ver uma apresentadora linda, competente, jovem, radiosa”. Ainda na TV Rio. A partir daí, na medida do que pude, nada perdi o que fazia a carioca Irene Yolanda Ravache Paes de Melo. E reencontro todos os adjetivos que a professora Dona Lúcia lhe colou em “Alma despejada”, peça com que Irene Ravache comemora seus 80 anos.
Ver Irene no palco, com todo aquele talento, energia, a capacidade rara de falar de cor todos os milhares de palavras (todas serem perfeitamente compreendidas e captadas), sua expressão corporal com gestos amplos, comedidos, discretos, expandidos, meneios da cabeça — que fazem do seu trabalho uma atuação de tal ordem superior, emocionante —, a vontade é ficar no teatro, só desfrutando do encantamento que acabamos de ver.
A direção do experiente, premiado Elias Andreato é sob medida para ressaltar todo o material que está no palco. As caixas do cenário de Fábio Namatame, de todos os tamanhos, ajudam a ressignificar o que se passa: a vida embutida em objetos de todos os tipos não tem importância. Estão ali como um fraco e desimportante testemunho de uma vida, aparentemente comum, uma trajetória retilínea, pois o que vale são os fatos, as relações, as perdas e os ganhos da vida de Teresa.
Irene vem do grego “eiréne”, que significa paz. Ter um nome de origem grega, da pátria do teatro, é como selar um destino. Irene é uma atriz completa em todos os quadrantes, com a modéstia daqueles que os deuses do teatro elegeram para dar o melhor às plateias. E como profetizou Caetano, “eu quero ir, minha gente; eu quero ver Irene rir”. Vá ver Irene rir, chorar, sofrer, alegrar-se em “Alma despejada”. Faça como Dona Lúcia nos ensinou. Não perca.
Serviço:
Teatro dos 4, Shopping da Gávea
Sextas e sábados, às 20h
Domingos, às 19h