Há quase três anos, o empresário carioca Roberto Rezinski, 56 anos, foi diagnosticado com câncer de próstata já em processo de metástase nos ossos e, atualmente, na medula — estava totalmente assintomático e, segundo ele, na melhor forma física de muitos anos. Foi o início de uma mudança, repensando o jeito de viver, e dando mais atenção à espiritualidade.
Sempre discreto, mas participativo na vida dos amigos, Roberto surpreendeu ao postar um vídeo nas redes, meses depois daquele dia triste e inesquecível, mas sem perder a confiança, contando sobre o tratamento: “Essa doença é dura, mas a gente tem de ter fé, tem de acreditar, acreditar nos nossos médicos e seguir em frente. Minha ideia é a de ajudar aqueles que estiveram no quarto escuro, como eu estive, para poder sair dele. A vida está aí, é um dia de cada vez, a gente vai chegando lá”. Nesse percurso, reencontrou o amigo de infância, o empresário Marcos Carvalho, copresidente da Ancar Ivanhoe (com 26 shoppings pelo Brasil, cinco deles no Rio), e juntos vão fazer uma grande campanha itinerante de doação de sangue, nos empreendimentos da rede Ancar no país, a partir de agosto, já iniciada mais timidamente por Roberto no Rio.
Roberto e Marcelo, seu irmão gêmeo, formam uma dupla muito presente na vida carioca. Ele tem duas filhas e é casado com Jade Carvalho há quase 10 anos.
Os irmãos já tiveram negócios, por exemplo, com o apresentador Luciano Huck e com o empresário Alexandre Accioly (um dos grandes aliados nesta sua fase). Rezinski está em tratamento na rede D’Or, com os médicos Daniel Herchenhorn e Lisa Morikawa, a quem tanto elogia, sob a atenção da diretora de relacionamento, Patricia Prata.
1 – Como descobriu a doença?
A doença foi descoberta em setembro de 2021, num exame de rotina. Eu estava completamente assintomático, treinando muito, acho que talvez na minha melhor forma física de muitos anos; e aí foi descoberta a doença, já em estágio bem avançado. O problema é que eu fiquei dois anos e meio sem fazer exame, na época da pandemia. É muito importante que as pessoas se conscientizem da importância de, depois de 50 anos, fazer os exames periódicos, ano a ano. Se eu tivesse feito, não teria pegado uma doença tão avançada.
2 – O que mudou em sua vida?
A doença me ensinou muito e trouxe uma maneira diferente de ver a vida. É quando a finitude bate na tua porta tão cedo, e aí você começa a repensar no legado que quer deixar e a ser testado todos os dias. Tem que ter uma resiliência muito grande. E aí você descobre que, independentemente da religião de cada um, a fé é muito importante. A fé é acreditar que alguma coisa pode acontecer e que dias melhores virão.
3 – Como foi com a família e amigos?
A família e uma rede de amigos, praticamente, todos os dias, mandam mensagens de apoio — mensagem de pessoas que querem, de alguma forma, ajudar. Às vezes, até com quem não temos tanta intimidade, muitas delas já passaram por essa experiência e querem nos dar um conforto. E aí eu fui descobrindo que a doença traz também coisas boas, e a gente começa a melhorar como ser humano. Você começa a querer ajudar os outros para que não passem por isso. Então eu bato na tecla da relevância e do valor dessa conscientização depois de 50 anos. Penso que os homens são mais negligentes com isso do que as mulheres.
4 – E como foi falar sobre a doença? Mudou o que pra você?
Quando resolvi falar sobre a doença, foi uma escolha minha, difícil, até porque ninguém quer se expor, mas talvez, quando a gente passa a aceitar, consegue levar melhor os seus dias. E aí você começa a entender o propósito da doença na sua vida. No meu caso, já são quase três anos, e o câncer tem se mostrado muito agressivo, precisei fazer transfusões periódicas de sangue porque eu tinha um hemograma modificado e um hemograma que necessitava de transfusões. Entendi também que você falar sobre a doença não significa se vitimizar, e sim usar o protagonismo que você experimentou e experimenta para viver com essa doença, que é, por si, muito cruel. Tem que tirar realmente forças e mostrar que tudo é possível.
5 – E a ideia da campanha?
Fiz uma campanha completamente despretensiosa, para entender como as pessoas iam se sensibilizar com isso. E, para minha surpresa, descobri que o brasileiro é muito solidário e, neste momento, quem passou pelo que estou passando começa a descobrir que a solidariedade é uma coisa muito importante. Fiz uma campanha, digamos, particular, e rapidamente foram mais de 100 pessoas só num fim de semana; uns foram chamando outros, e isso vai acalentando o nosso coração, isso vai esquentando a nossa alma e vai fazendo uma jornada que é tão difícil ficar mais fácil. E, junto com esse propósito, entendi como é que eu poderia expandir essa campanha de sangue, porque doar é um ato de amor, porque você está salvando vidas. O Brasil tem, historicamente, 2% da população como doadores; isso é metade da média mundial. Daí eu encontrei um amigo de infância, uma pessoa maravilhosa, o Marcos Carvalho (copresidente da Ancar Ivanhoe Shopping Centers), que também se engajou. Agora vamos começar usando a rede de shoppings dele (Botafogo Praia Shopping, Rio Design Barra, Shopping Downtown, Shopping Nova América e Shopping Nova Iguaçu), usando o banco de sangue, daí partindo para outros estados (são shoppings em outras 13 cidades no país).
6 – E como vai funcionar?
A campanha vai ser a cada semana em um shopping do Brasil, disponibilizando um local para o banco de sangue escolhido montar toda a estrutura, com divulgação nas redes sociais e nos meios de comunicação em geral; ou seja, começa pelo Rio, depois pelo país inteiro.
7 – De onde vem sua força?
Você começa a entender que, apesar de estar afastado de tudo, você ocupa o seu tempo em fazer o bem, sem ver a quem. Eu acho que vem da minha família, vem da fé; independentemente da religião, temos que entender que o desafio é manter a cabeça firme. E só existe uma explicação para que eu consiga manter essa força toda, repito, é minha família, meus amigos e um Deus que jamais nos abandona. Acho que é um pouco isso. E sabemos que “enquanto há vida, há esperança”. O importante, por mais difícil que seja, por mais desafiador que tudo esteja, é nunca desistir, porque, como disse Guimarães Rosa (no livro “Grande Sertão, Veredas”), o que a vida quer da gente é coragem. E não interessa quantas vezes a gente cai, mas sim quantas vezes a gente levanta. Acredito que a vida tenha sido muito dura comigo, mas, a cada tombo, um aprendizado e uma maneira de achar um jeito de se levantar.