A imagem de fundo, da divulgação do solo “Pequeno Monstro”, com Silvero Pereira, que estreia na quinta (30/05), no Teatro Poeira, em Botafogo, mostra uma criança na tradicional foto do colégio nos anos 1980/90, com uma Bandeira do Brasil ao fundo. Vem do álbum de família do ator, nascido cearense: “Eu fui uma criança viada. Não me lembro de rótulos, caixas ou definições. Foi uma época mágica, até castrarem a minha liberdade de viver os meus desejos de viver como eu sentia vontade, dos meus desejos de brincar de bola e de boneca, de carrinho e de elástico, de soltar raia e pular amarelinha”, disse ele em texto ao Diário do Nordeste.
Depois de 12 anos do seu último sucesso no teatro, “BR Trans”, o projeto do monólogo surgiu há sete anos, quando ele começou a acompanhar algumas histórias de crianças LGBT+ e identificou semelhanças com episódios vividos na sua infância. Depois de uma longa pesquisa, voltou à sala de ensaio, em parceria com a diretora Andreia Pires, sua colega na faculdade de Artes Cênicas, nos anos 2000, em Fortaleza.
No palco, o ator embaralha suas referências literárias e musicais com matérias jornalísticas e memórias pessoais e de pessoas diversas, quando relembra a infância: “Uso a minha história como a ponta de um iceberg e me coloco como escudo para outras. Essa fragmentação de histórias reais, ficcionais e de terceiros serve justamente para enfatizar que não se trata de exceção, de classe ou de um lugar — é um problema social grave. Precisamos proteger nossas crianças ‘viadas’. Sofrer homofobia quando se é adulto já é péssimo, sofrer homofobia quando nem se compreende o que é sexualidade é crueldade”, diz ele.
Aos 41 anos, 25 de carreira, além do monólogo, ele toca outros projetos, como o longa “Corridas dos bichos”, da Amazon Prime, e o EP “Silvero Interpreta Belchior”, que será lançado dia 20 de junho, com participações especiais. Ele também começou os ensaios do show “Meu Ney”, em que faz uma homenagem a Ney Matogrosso, uma referência em sua vida.
Nesse tempo, ele entrou em diversos projetos audiovisuais e na TV, como nas novelas “A Força do Querer” e “Pantanal”, no filme “Bacurau” (no qual ele ganhou o Troféu Grande Otelo de Melhor Ator, do Prêmio do Cinema Brasileiro), e em programas, como o “The Masked Singer Brasil”, em que foi o vencedor da última temporada. “Pensei que estivesse um tanto ‘enferrujado’ para o teatro, mas nenhum ofício se vale pelo talento, mas sim pelo estudo e dedicação. Recusei novos trabalhos no audiovisual, para me dedicar ao solo, refazer treinos de corpo, voz e imaginação”, conta.
Pode-se dizer que Silvero seria um vitorioso por si, alcançando o que deseja por um traço principal além do talento, a autenticidade? Confira sua entrevista:
Uma loucura: Começar a vida do zero! Eu era casado há 10 anos (com o dramaturgo Rafael Barbosa), estabilizado, trabalhando e de bem com a vida, mas, como bom geminiano, decidi inverter a rota e começar tudo de novo. Me separei, aluguei um apartamento e comecei a comprar tudo novamente e reconstruir minha história. Meu ex continua sendo uma pessoa muito querida na minha vida, temos uma cachorrinha e um gato em guarda compartilhada. Seguimos amigos e cheios de afeto.
Uma roubada: Fui passar férias no Chile. No deserto do Atacama, meus amigos agendaram um passeio pra ver águas vulcânicas, mas eu não sabia do que se tratava. No dia do passeio, tive que acordar às 3 da manhã, pegar uma viagem de quase 2 horas numa temperatura abaixo de 10°. Chegando lá, fiquei com ódio porque eram apenas uns buracos de bolhas de água quente que saíam do chão.
Uma ideia fixa: Ganhar o Oscar! Vivo treinando meu discurso.
Um porre: Absolutamente todos! Meus amigos sabem que eu nunca volto de uma festa sem acabar com o estoque do bar.
Uma frustração: No Festival de Cannes, com “Bacurau”, eu estava num café na rua e decidi ir a uma farmácia, justamente no momento em que Pedro Almodóvar passou pelo local. Daí, perdi a chance de conhecê-lo. (Em Cannes eles foi vestido de mulher — a personagem Gisele Almodóvar, que existe desde 2002, quando o ator a criou para o espetáculo ‘Uma flor de dama’, segundo ele, filha da modelo Gisele Bündchen com o cineasta Pedro Almodóvar, unindo em sua genética ‘glamour e subversão’).
Um apagão: Numa festa carioca, bebi tanto que não me lembro como subi no palco. Dancei com a Anitta, fui pro camarim dela e voltei pra casa. As únicas coisas que lembro dessa festa foi a chegada e o primeiro gole de gin.
Uma síndrome: Esquecer objetos: nunca sei onde guardei determinada coisa.
Um medo: Altura. Tenho pânico de fazer qualquer coisa em que eu fique vendo o chão se distanciando.
Um defeito: Fazer tudo ao mesmo tempo. Com isso, acabo deixando coisas pela metade ou esquecendo.
Um desprazer: Acordar cedo. Sou alguém que dorme muito tarde, seja por farra ou porque gosto de trabalhar à noite.
Um insucesso: Resolvi me lançar na música sem nunca ter estudado canto, gravei um clipe e coloquei nas plataformas a canção “Vem”. Gente, quem for lá ver lembre-se que, anos depois, eu venci o Masked Singer Brasil (Kkkkkkk).
Um impulso: Pra tudo na vida. Sou movido por impulso. Penso e quero realizar imediatamente meus desejos. Não fico esperando acontecer ou que façam por mim.
Uma paranoia: Morrer cedo demais, sem realizar todas as coisas que ainda quero fazer.