Colágeno em dia, entusiasmo em alta, voz tinindo para a “artista performática” Silvia Machete, lançando o segundo álbum da trilogia “Rhonda”, chamado “Invisible Woman” (Biscoito Fino). São 10 canções autorais, escritas em inglês por ela com o instrumentista carioca Alberto Continentino, com exceção de “Two Kites”, de Tom Jobim, gravada em dueto classudo com a cantora Maria Luiza Jobim.
O show de estreia vai ser em Belo Horizonte, sob a direção de Alessandra Colasanti, dia 26 de abril, cidade onde nasceu, mas nunca viveu – ela morou a vida inteira no Rio, até cinco anos atrás, quando se mudou para SP. “Uma performer sensacional, excelente compositora em inglês e português. Composições muito bem desenvolvidas, com letras inteligentes, quase sempre divertidas e absurdas. Eu sou fã da Silvia” – quem diz é Nelson Motta, o produtor que não precisa de apresentação, desde o tempo de Elis Regina (1945-1982), nunca precisou.
O 1º “Rhonda” foi lançado em 2020, na pandemia, com show que circulou por Paris e Nova York, além de cidades brasileiras. Depois da edição em vinil, com 750 exemplares autografados (os primeiros 500 se esgotaram em vendas online), as canções ganharam remixes assinados por grandes produtores. “O álbum, as músicas e o show fizeram sucesso não só com o público que já me acompanha, mas também com quem ainda não conhecia o meu trabalho”, diz ela.
Silvia explica a nova produção: “O título é porque, por muitas vezes, a mulher é invisível; então é uma música bem-humorada, gostosa de dançar e tem significado. São canções de amor, de cinema, de teatro, feitas pra tocar na sua rádio particular, pra namorar e dançar, pra viajar e sonhar. Mas este álbum é menos denso, em termos de sonoridade. Continua sendo romântico, porém um pouco mais pop”.
E tem música até para a cachorrinha “Salomé”, com ela há 13 anos.
Além do Brasil, o álbum está sendo lançado simultaneamente no Japão e demais países da Ásia, pelo selo Think Records. A expectativa é de todo tamanho. Boas emoções!
UMA LOUCURA: Montar um show do zero: é um momento de loucura, euforia e inspiração. Eu fico meio fora da minha vida e minha cabeça, cheia. Chega a ser difícil dormir, e o assunto vira um só.
UM PORRE: O que eu tomei em Cuba. Meu pai ia anualmente a Cuba pra ouvir música e visitar amigos. Quando eu tinha 16 anos, ele me levou e foi uma experiência inesquecível, mas tomei um porre homérico. Meu pai ficou bem puto comigo. No dia seguinte, bebeu no bar do hotel, e eu que tive que levá-lo pro quarto. Vi aquilo como uma lição — hahahahaha.
UMA FUSTRAÇÃO: Não ter me comunicado melhor em situações em que me encontrei prejudicada — teria evitado certas rupturas nas amizades.
UMA SÍNDROME: “Wandelrlust” (ao pé da letra, a vontade de sempre querer viajar).
UM MEDO: Tenho muitos, mas acho que o maior de todos é de que entrem na minha casa. Eu moro em uma casa em SP e, volta e meia, bate essa paranoia sobre morar sozinha. Então é um medo-paranoia.
UM DEFEITO: Acho que eu poderia ser mais paciente em geral; nem sempre vejo o lado bom das coisas. Sou pessimista e, ao mesmo tempo, muito realista.
UM DESPRAZER: Estar perto de alguém que você ama, que você precisa dar atenção, e existe essa pressão da pressa cotidiana, de sempre estar preso à tela do telefone. É muito chato esse novo comportamento: me sinto mal com isso, e o pior é que faço isso também. É um desprazer generalizado, pois ninguém ganha.
UM INSUCESSO: Difícil avaliar o que é isso — rsrsrsrs. Mas existem coisas que não controlamos, correto? Acho que insucessos vêm de uma combinação de fatores. E, como sou artista e sempre tento me superar, gosto de desafios e estou sempre correndo esse risco de as coisas não funcionarem. Sucesso é uma palavra constante na minha vida; o insucesso seria parar.
UM IMPULSO: Sempre defendo as pessoas que estão sendo injustiçadas.
UMA PARANOIA: Confesso que tenho uma paranoia: quando começa a chover forte e a ventar muito, sempre acho que vai cair do céu alguma coisa na minha cabeça.
APAGÃO: Imediatamente me lembro do real apagão das luzes em Nova York (2003), quando a cidade ficou 29 horas no escuro. Você vê uma selva de pedra se desmantelando, e as pessoas ficando solidárias por uma situação vulnerável, seja de risco, medo ou pela surpresa de um evento incomum e de não dispor das coisas que a gente espera de uma cidade grande. Nada funcionava. Em vez do caos, as pessoas foram pra rua, com lanternas, de forma pacífica, para tentar entender o que estava acontecendo. Foi realmente surpreendente. Inclusive tinha gente cantando e tocando música na rua, se juntando como tribos num luau.
DEFEITO: A primeira coisa que me vem à cabeça é a impaciência; isso deve ser hereditário. Tenho que trabalhar muito para não me frustrar com as pessoas. Eu não tenho paciência, por exemplo, para quem chega atrasado, para furos, para mentiras, para esse tipo de coisa. Então é um grande defeito.
Foto: João Wainer