Fábio Porchat e seu amor ao humor está na nossa vida corrente: ao mesmo tempo, no teatro, na TV, no streaming, no YouTube, nas redes sociais, e onde não tem graça, ele inventa. E, assim, estreou, esta semana, “Evidências do Amor”, filme com Sandy, muito bem avaliado pela crítica. Não é um passatempo sem fundamento — o roteiro, assinado por Pedro Antonio (que é também o diretor), Álvaro Campos e Luanna Guimarães, foi construído tanto para fazer rir como chorar e refletir, nos muitos bons momentos. O título é inspirado em “Evidências”, uma das mais populares do país, a mais tocada nos karaokês (não coincidentemente, cantada pelo tio e pai de Sandy, Chitãozinho e Xororó). O personagem de Porchat, Marco Antônio, volta ao passado toda vez que escuta a canção (composta por José Augusto e Paulo Sérgio Valle).
Além dos telões, Porchat continua no ar, no GNT, apresentando o “Que história é essa, Porchat?”, para muitos, irresistível; no teatro, está com o monólogo “Histórias do Porchat”, uma coletânea das suas aventuras, e também dirige Maria Clara Gueiros, Júlia Rabello e Priscila Castello Branco, sua mulher, na peça “‘Agora é que são elas!”, com esquetes de humor feitas com o amigo Paulo Gustavo (1978-2021) há 20 anos.
Embora ele viva para viajar, o próximo voo será direto para trabalhar: em setembro, vai a Portugal, passar dois meses, para gravar a nova temporada do programa de TV “Só como e bebo, por acaso trabalho”, do canal RTP, e aproveita para levar a peça “Agora é que são elas”.
Isso, vindo de uma pessoa que, aos 18 anos, largou a faculdade de Administração em SP e se matriculou na CAL, em Laranjeiras, sem conhecer ninguém do meio artístico, morando de favor por cinco anos na casa de tios. O primeiro trabalho foi em 2006, como redator do programa “Zorra Total”. O resto são as histórias que todo mundo ama ouvir e não se cansa nunca. Com vocês, mais um pouquinho de Porchat, leve e alegre, sem apelar para as gotinhas de Rivotril.
UMA LOUCURA: Largar toda a minha vida em São Paulo pra ir pro Rio pra virar ator; deu certo, mas foi uma loucura. Aos 18 anos, graças aos personagens Vani e Rui (Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães no seriado ‘Os normais’), descobri o que queria. Contei isso no programa do Jô, quando fui à plateia com a turma do curso de Administração e Marketing da ESPM de SP. No intervalo, fui em direção ao apresentador, a produção tentou impedir, mas Jô disse: “Vem cá, o palco é seu.” E mostrei meu número fazendo do jeito dos personagens, mas com meus textos: todo mundo riu. Isso foi em 2002. No dia seguinte, me matriculei na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e vim morar na casa dos meus tios. Vim do zero absoluto e não conhecia ninguém do meio artístico.
UMA ROUBADA: Viajar em 52 pessoas pra Curaçao, sendo que eu estava organizando tudo isso: família, amigo, amigo do amigo… Isso foi uma loucura, mas foi divertido. Era época de pandemia, tudo fechado.
UMA IDEIA FIXA: Escrever um filme pra Hollywood.
UM PORRE: Olha, foram alguns, mas eu me lembro de uma volta de Itu (SP), com os meus amigos, de uma festa à fantasia. Amanheci em casa e não sei o que aconteceu do momento em que eu saí de casa até o momento em que eu cheguei.
UMA FRUSTRAÇÃO: Não poder fazer mais coisa e botar mais projeto que eu tenho na cabeça pra funcionar.
UM APAGÃO: Não sei se eu tive apagão, não. Tirando ressacas e porres, essas coisas… Eu sou uma pessoa esquecida, então eu posso dizer que tenho uns apagões de memória da minha infância. Uma pena.
UMA SÍNDROME: Não sei te responder essa. Não tenho ou não sei se tenho.
UM MEDO: Tenho medo de ventania. Sinto uma certa agonia quando começa a ventar muito; assim, começa a voar coisa e dá um certo medinho.
UM DEFEITO: Fazer tudo do meu jeito, gosto de controlar. Se algo sai fora do previsto, enlouqueço.
UM DESPRAZER: Dormir pouco. Quando durmo menos; quando durmo até quatro horas só, eu me irrito.
UM INSUCESSO: A primeira peça que fiz com o Paulo Gustavo, “Infraturas”, que ficou um ano em cartaz e foi um insucesso porque ninguém viu. Mas foi um sucesso porque nos lançou, porque nos fez entender a vida, o teatro, nos abriu portas. (Ele conheceu Paulo na CAL e foi lá que Maurício Sherman, diretor de “Zorra Total”, o chamou para integrar a equipe de roteiristas do programa, onde ficou de 2006 a 2009).
UM IMPULSO: Eu acho que a peça “Agora é que são elas”: me deu vontade de fazer teatro, fui atrás dos esquetes e das atrizes e resolvi montar; a gente levantou essa peça num impulso. E foi um impulso maravilhoso. (A comédia marca a sua volta à direção desde 2015, quando escreveu e dirigiu, à exceção de seus stands ups, “Elas morrem no fim”. Atualmente em cartaz, a peça é estrelada pelas atrizes Maria Clara Gueiros, Priscila Castello Branco e Júlia Rabello.
UMA PARANOIA: Não sei se é paranoia, mas morro de medo de perder a graça.