Os crimes hediondos são aqueles que atingem as relações primárias, que a sociedade determina sejam as mais afetivas, mais intensas, mais respeitosas. Incesto, matricídio, parricídio são tanto condenados de forma mais rigorosa pela lei quanto vistos como o próprio horror. A história do mais famoso dos parricídios tem sido utilizada nas mais diversas obras de arte; em “Tebas Land”, em cartaz no Teatro Poeira, tem-se mais uma visão dela.
O espetáculo do premiado autor uruguaio Sergio Blanco é inédito no Brasil, e conta com a direção de Victor Garcia Peralta. A cena são dois homens numa quadra de prisão. O espetáculo, porém, não foca na reconstrução do crime, e sim nos encontros entre um jovem parricida e um dramaturgo interessado em escrever a história desse crime. Começa então uma peça dentro da peça, em que o jovem assassino e o ator que o interpreta são representados por Robson Torinni. O elenco também traz Otto Jr. no papel do dramaturgo.
“O texto nos cativou pelos dois diferentes planos – razão e emoção – e pelo processo criativo imbuído neles, em que a dramaturgia é construída durante a ação da peça, oscilando, quase que paralelamente, entre a discussão do fato ocorrido e a construção do texto da peça que será baseada no crime”, conta Victor Garcia Peralta, diretor.
Na intensidade da relação dos dois personagens, o espaço fechado acaba por ser a metáfora perfeita do que é o teatro. Existe um pai, um dramaturgo, alguém que concebe um outro alguém que deverá reproduzir seus desejos. O “filho”, ator, tem vontade própria em seu jeito de ver a vida, sobretudo o seu próprio caminho. E, às vezes, matar o pai, derrotar quem nos cria, é a única forma possível de sobrevivência.
Serviço:
Teatro Poeira (Botafogo)
Quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h
