“Nara” poderia ter sido apelidada de “Para uma menina com uma flor” ou “Carcará, pega mata e come”. Ela desatinou, de tantos que foram os apelidos e títulos de músicas – algumas que ela mesma consagrou; outras, de seus contemporâneos, ou ainda aquelas sobre as quais ela falava e trazia à luz uma MPB (Música Popular Brasileira) desconhecida.
Nara era Nara – só isso. Essa foi a escolha do título de Miguel Falabella para o solo musical que ele escreveu para sua companheira da vida toda, Zezé Polessa. Dois “baby-boomers” que conseguem, sem nostalgia, cantar e falar de um dos maiores símbolos dessa geração dourada, considerada a mais revolucionária de todos os tempos.
O musical conta, cronologicamente, a vida de Nara, o que muito facilita a compreensão do que foi a vida, a carreira, as lutas de uma artista, sobretudo para quem não a conheceu. Nara/Zezé vai falando de suas escolhas, de suas dúvidas, dos seus impasses e da sua relação com a nova sociedade – um tempo em que tudo era novo, disruptivo, experimentação, novos papéis.
A solução de cenário de cenografia de Dina Salem Levy sustenta a movimentação de Zezé, emoldurando o figurino de Nathalia Duran e o visagismo de Marcelo Dias, para que se perceba, de forma realista, quem era a protagonista absoluta em cena. A direção de movimento da experiente e talentosa Marina Solomon é um acerto, pois se afasta da armadilha da imitação mimética, geralmente, imperfeita.
As canções mostram o tempo em que não se via a banda passar; muito pelo contrário, o espetáculo mostra a menina que queria ser cineasta e se tornar cantora. Desse pormenor, Falabella usa o procedimento cinematográfico de corte, para dizer “corta” e fazer o gesto, cada vez que Nara/Zezé menciona nova paixão. Dos detalhes e da delicadeza com o personagem, é que se compõe a bela homenagem que Falabella e Zezé prestam à Nara.
Serviço:
Teatro Sesi-Firjan, no Centro
Quintas e sextas, às 19 h
Sábados e domingos, às 18 h