Mal acaba o carnaval, com o desfecho das Campeãs na Sapucaí e o fim da agenda de blocos, já começa o Rio Open, de segunda a domingo (18 a 25/02), no Jockey, Gávea, comemorando 10 anos.
De batuque, só o som das bolinhas batendo nas raquetes e gritos de esforço dos 51 atletas se revezando entre nove quadras de saibro – nomes idolatrados do esporte, como o espanhol Carlos Alcaraz (número 2 no ranking ATP), o suíço Stan Wawrinka (ex-número 3 do mundo, pela primeira no Brasil) e o britânico Cameron Norrie, que tenta o bicampeonato. São esperadas mais ou menos 65 mil pessoas para assistirem ao maior torneio da América Latina, parte da série ATP 500 (uma das mais importantes categorias masculinas da Associação de Tenistas Profissionais, depois da ATP 1000 e dos Grand Slams).
A executiva carioca Marcia Casz é o nome à frente do torneio. Ela cismou em trazê-lo à cidade quando, numa viagem, ficou impressionada com a estrutura nas partidas do Miami Open de tênis. Sem dizer sobre sua queda por esportes: ela chegou a ser atleta federada de vôlei na adolescência, mas, na hora do vestibular, não havia nada de gestão ou marketing esportivo à época, então cursou Engenharia de Sistemas na UERJ. Depois de formada, trabalhou com tecnologia da informação na Globosat, em 1994; a seguir, caiu no SporTtv — bem ou mal, aquilo que ela sempre amou. Cinco anos depois, fundou sua própria empresa de marketing esportivo, a Max Sports, comprada pela IMX, depois IMM, onde Marcia atualmente é diretora de esportes. Foi quando o ATP 500 abriu uma “data”, o que não acontecia há 10 anos. Mas ela fez inúmeros eventos esportivos, como o “Rei e Rainha da Praia”, de vôlei; o XGames, torneio de esportes radicais; a competição “Megarampa”, em parceria com o skatista Bob Burnquist etc.
A experiência não é só dentro das quadras, já que as raquetes atraem um público fiel — no Leblon Boulevard, há muitas lojas bacanas, restaurantes, como Babbo Osteria e bares, como Momo, Bode Cheiroso e Bar da Frente. Tem também a Praça Rio Open, onde um telão exibe as partidas com vista para o Cristo, para quem ficou de fora das arquibancadas.
São mais de cinco mil pessoas direta e indiretamente no evento, que começa 40 dias antes da abertura para levar de 600 a 800 toneladas de material produzido, com estruturas móveis/modulares e sustentáveis. Ano passado, o evento custou cerca de R$ 35 milhões, o público foi de 60 mil espectadores e a movimentação, de R$130 milhões para o estado (este, a previsão é de R$ 150 milhões).
Você imaginava, lá atrás, que o torneio tomaria essa proporção e seria um dos eventos esportivos mais importantes do calendário carioca?
O nível de ambição com o evento sempre foi alto — tínhamos a exata noção da importância do movimento que estávamos fazendo. Lembro nitidamente da nossa emoção quando anunciamos, em 2013, que estávamos trazendo um ATP 500 para o Brasil. Em todo o mundo, só existem 13 cidades que sediam um torneio desse porte, e o Rio seria uma delas, a única da América do Sul. Hoje estamos consolidados como um dos principais torneios de tênis do mundo, e um evento esportivo só vira uma marca de sonho pela tradição; como exemplo, temos Wimbledon, que existe há 100 anos.
Qual sua relação com o tênis e como você trouxe o torneio pra cá?
Sempre foi muito forte, e na juventude fui atleta de vôlei. Essa paixão acabou me levando para o universo do marketing esportivo. Em mais de 20 anos de carreira, realizei competições importantes envolvendo várias modalidades, como vôlei de praia, skate, surf, corrida. O Rio Open nasceu da visão do CEO da IMM, Alan Adler, porque faltava uma competição importante de tênis no Brasil. Foi com essa ideia em mente que preparamos um projeto e começamos a mapear as oportunidades para termos uma data no circuito do tênis. Esse é um detalhe importante: para ter um torneio, é preciso adquirir uma data de um promotor que não queira mais realizar o evento.
Atualmente, qual a geração de emprego? Qual foi a maior mudança de lá pra cá?
São mais de cinco mil empregos diretos e indiretos; a equipe direta tem cerca de 400 pessoas. Um dos nossos objetivos sempre foi ir além da competição esportiva. O tênis é a espinha dorsal, mas sempre quisemos fazer um torneio não somente pra fãs de tênis. E conseguimos. Hoje, é um festival de entretenimento, com área de gastronomia com chefs renomados; áreas de relacionamento onde o público interage com as marcas e as marcas com o público; espaço para arte e música. Uma experiência completa.
Quais as novidades deste ano?
Vai ser a edição mais emocionante de todas. Tudo vai girar em torno das pessoas, pois são elas que fazem o sucesso do torneio. Para isso, estamos investindo na melhoria da acessibilidade de todo o complexo do Jockey; vamos trazer tecnologia com led dentro de quadra; estamos preparando uma programação intensa na quadra central com surpresas para o público (ela não contou nem sob tortura).
Qual o maior desafio em fazer um evento desse tamanho no Rio? O que mais te dá prazer ao fazer o Rio Open?
Os desafios são vários. Temos atletas, público, imprensa, patrocinadores, órgãos públicos e o desafio constante em atingir todas as expectativas. Temos também o desafio de manter o evento sempre atualizado. Uma das marcas da nossa cultura é não operar na “zona de conforto”. Estamos sempre aumentando o nível de exigência, buscando a excelência. O desafio maior é superar as expectativas do nosso público, levar emoção, levar alegria.
Já teve dificuldade em trazer algum nome do esporte pra cá, por algum motivo?
Coisas naturais de todo começo, como adequações na infraestrutura e alguns outros contratempos; por exemplo, em 2022, várias partidas foram adiadas pelas chuvas no Rio, dando um nó na programação. Com relação aos atletas, sempre tivemos capacidade de atrair grandes nomes, como Rafael Nadal. Uma marca do Rio Open tem sido antecipar nomes que vão ter sucesso no circuito. Um bom exemplo é o Alcaraz, que veio pela primeira vez ainda muito jovem (conquistou a primeira vitória da carreira em nível profissional, em 2020, aos 16 anos, no torneio). Com relação a momentos marcantes, citaria a presença de Nadal na primeira edição; Iza cantando o Hino Nacional; o retorno pós-pandemia; o primeiro título de Alcaraz no circuito ATP.
O campeonato acontece próximo ao carnaval. É proposital para pegar ainda os turistas que permanecem na cidade e vice-versa?
A data é fixa no calendário da ATP; o que muda é a data do carnaval. Tem ano em que o Rio Open é antes; tem ano em que é durante o carnaval; e tem ano em que é depois. Sempre que tem oportunidade de levar atletas à Sapucaí, a gente leva, e é sempre uma experiência única na vida deles. São imagens que rodam o mundo.
A porcentagem de 55% da equipe feminina é só para conscientizar o mercado ou para retribuir a chance que você teve de alcançar terrenos que costumavam ser inacessíveis às mulheres? Suas equipes sempre tiveram mulheres?
No começo, a contratação de mulheres aconteceu de forma natural, não teve ação direcionada para isso. Talvez o fato de eu ser diretora tenha estimulado outras mulheres a procurar oportunidades de trabalho no torneio. Recentemente, começamos a discutir, de forma estruturada, um programa que assegure diversidade e inclusão.
O tênis é considerado um esporte elitista, até pelo valor da manutenção do treino e equipamentos. O torneio apoia jovens esportistas moradores de favelas cariocas com a montagem de uma competição dentro do Rio Open. Algum atleta já se destacou, e qual a importância de incentivar esse tipo de prática dentro de uma empresa?
Acreditamos muito no esporte como ferramenta de inclusão social. Ao longo desses 10 anos, apoiamos projetos sociais que contemplaram mais de 800 crianças e jovens durante o ano inteiro. Como forma de incentivo, promovemos, todos os anos, o Torneio Winners, competição entre os jovens dos projetos que apoiamos. Outra iniciativa que destacamos são as viagens para academias de tênis no Brasil e no exterior, que proporcionamos para aqueles que se destacam. O trabalho que realizamos foi reconhecido pela ATP, que, em 2017, concedeu ao Rio Open o prêmio de “melhor iniciativa social do circuito”.
Podemos esperar uma volta da competição feminina? O tênis feminino nunca esteve tão em alta, encabeçado por Bia Haddad Maia….
Estou muito feliz com o sucesso das tenistas brasileiras e gostaria de vê-las jogando em uma competição no Brasil. Com relação à realização de um torneio feminino, esse é um assunto em estudo. Mas, se reunirmos as condições necessárias para isso, o torneio seria outro evento.
Se algum gringo, atleta ou não, perguntar a você o que fazer no Rio, como boa carioca, o que você indicaria?
Ir à praia; ver o pôr do sol em Ipanema; tomar açaí, água de coco; comer biscoito Globo; e, se for possível, assistir a um jogo do Flamengo no Maracanã.
Por Dani Barbi