Duncan Macmillan, como procura o premiado diretor e dramaturgo inglês, tem como objetivo examinar assuntos que nos preocupam cotidianamente, como parentalidade, depressão, mudança climática, de forma que consiga dizer algo que ainda não foi dito. Estreando no Brasil, sua peça “Pulmões” traz, em uma narrativa aristotélica (começo, meio e fim), como é a história de vida de um casal que se inicia com a discussão sobre ter ou não ter filhos. Nada tão contemporâneo.
Para começar, o caso não é nomeado nem com apelidos íntimos, e sem nome pode ser qualquer um, inclusive nós. São parceiros ora românticos, ora companheiros, ora odientos, com atos de enorme paixão, brigas homéricas ou apenas aquele rame-rame de longa data. O projeto foi idealizado pelos atores Giulia Grandis e Thiago Mello, casados desde 2019 e juntos há 11 anos, em interpretação sólida, o que dá veracidade ao que se vê.
Os diálogos são excelentes, pois transformam em dramaturgia aquelas palavras sem poesia alguma, inteligência, sofisticação, exatamente como se fala na relação cotidiana. Nada de discursos, citações, apenas manifestações abertas, espontâneas, divertidas, tristes, cruéis, amorosas. O autor escolhe, e acerta, por ter escolhido o caminho mais difícil: levar ao palco a fala sem graça do dia a dia.
A ótima diretora Miwa Yanagizawa funciona como maestro ou como um baterista que sabe imprimir o ritmo certo: intenso, rápido, lento, tonitruante, suave, o que ressalta a atuação de Giulia e Thiago, colocando-os em todos os lugares do palco, com rara mobilidade. Além disso, Mira consegue o conjunto da obra com cenário da diretora de arte Teresa Abreu, projeções de slides com imagens de festividades de famílias nos anos 1970 e as plaquinhas de diferentes tamanhos com o nome do local da ação. A trilha sonora original de Azullllllll nos assegura que ver “Pulmões” é respirar do modo certo.
Serviço:
Teatro Ipanema (Rua Prudente de Morais, 824)
Sextas e sábados, às 20h
Domingo, às 19h.