Existe o maior dos atos de humildade: expor de si as histórias que não se contam nem aos travesseiros; dores dilacerantes; amores fracassados; experiências mal-sucedidas. Maitê Proença é uma heroína trágica que padeceu do pior, tentou, fracassou. Mas comete um grande e emocionante acerto: escreve e representa o monólogo “O Pior de Mim”.
Com um figurino casual, sem marca de tempo, anda entre panos, sombras e luzes. É uma mulher madura, linda e indefinida. Ágil, firme, linda, voz firme, gestos sem exageros, Maitê vai, literalmente, falando sem cronologia, contando fatos sem nenhuma linearidade, saltando, aos pulos, acontecimentos, confessando (será?), rindo de lembranças despudoradamente.
A direção do talentosíssimo Rodrigo Portella, realizada online, ressalta um recurso: a presença de uma câmara que segue Maitê, projeta imagens também no telão — momentos gravados com o texto que segue o que está sendo dito ao vivo. Essa ampliação e projeção do eu alcançam um resultado interessante e efetivo: o diálogo consigo mesma vira um diálogo com o outro, envolve a plateia e emociona.
A escrita de si é uma opção, mesmo quando ficcionaliza as meninas. As palavras desgastam, a repetição do teatro pode ter o efeito banalizado, e o diálogo criado pela falante imagem do telão é capaz, com a interpretação não realista e delicada, de estabelecer o vínculo entre artista e plateia: empatia e catarse se misturam no riso, na lágrima furtiva, no aplauso final.
Serviço:
Teatro das Artes
Sáb, às 20h30
Dom, às 18h