Normalmente, vamos ao teatro para encontrar atores, uma história linear e, no caso de comédias, dar gargalhadas. Uma vez ou outra, temos uma grata surpresa – grandes atuações, direção criativa, texto que nos faz pensar. Em “Gargalhada Selvagem”, o pacote é completo. Com uma dramaturgia elaborada que nos lembra algum gênero que já vivemos, mas que se transforma em outra coisa, em tudo é como se o autor tivesse tirando um coelho da cartola.
A peça, apesar da duração de 80 minutos, estrutura-se em três atos: dois monólogos e uma terceira parte em que a introdução de um terceiro funciona como uma “escada” (o personagem que apoia a piada), um tertius que desequilibra a balança. O autor americano é um nova-iorquino, baby-boomer clássico. Christopher Durang, que estudou teatro em Harvard e em Yale, alcança seu ponto maior nos anos 80, quando se apropria de um humor ácido, das sombras dos ambientes da cidade, algo que é visto na série “Pose”, em um mistura do teatro do absurdo com exageros em todas as pontas: personagens, interpretação, texto e figurinos.
A direção de Guilherme Weber é uma faca, um cinzel que vai dissecando e, ao mesmo tempo, retirando toda e qualquer essência, para se obter uma escultura, limpa, clara. A opção é pela estética do over, necessário para que o nonsense que circunda o texto fique profundo nesse aspecto. Os gestos, os gritos, a movimentação, a caracterização se encaixam de forma harmoniosa que só contribuiu para o enorme prazer da fruição.
A dupla de atores – Rodrigo Fagundes e Alexandra Richter — são duas estrelas da comédia e muitíssimo bem apoiados por Joel Vieira. Salve os artistas comediantes, como Rodrigo e Alexandra, que fazem de maneira competente todos os momentos que lhes são exigidos: monólogo, diálogo e no “trisal”, desperta risadas, sorrisos, olhares surpresos, fazendo jus à rapidez do texto. A crítica avassaladora a tudo: religião, comida, família, até mesmo a expressão “petite morte” (orgasmo em francês, que os mais pernóstico se utilizam) para mostrar que o desencontro, mesmo quando aparente encontro, é nosso infalíves destino. Fato do qual só nos resta rir selvagemente.
Serviço:
Até 30 de Julho de 2023
Sextas e sábados às 20h e aos domingos às 19h