Maitê Proença está de volta com o “O Pior de Mim”, no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, até dia 30 de julho, depois de temporadas lotadas no Rio, SP e outros lugares do Brasil. O monólogo, dirigido por Rodrigo Portella, mostra Maitê e suas fragilidades, dores, histórias familiares, confissões, sem embaraço ou demonstração de remorso pelo passado. Em alguns momentos, faz a plateia respirar dobrado. Ali, vemos na atriz o mesmo frescor de quando começou nos palcos. “É sobre aquela porta dos fundos por onde todos escapamos quando ninguém está olhando, e levantamos muros onde gostaríamos de ter construído pontes”, diz ela sobre a peça, indicada ao Prêmio Cesgranrio de melhor texto.
A estreia foi em 2020, na pandemia, em montagem online, quando Maitê juntou textos que, até ali, nunca teve coragem de mostrar, como a perda da mãe, aos 12 anos, assassinada pelo pai, que, mais tarde, veio a se suicidar. “A peça é sobre todos nós e o que fazemos com o enredo que nos foi dado. São histórias sobre coisas que não deram certo, momentos de frustração. Mas é leve, com humor. Na peça, eu me refiro à minha própria história porque é a única que tenho, e ela me dá autoridade para tratar dos assuntos que abordo no espetáculo. Mostro onde errei vergonhosamente”, diz ela.
Leia sua entrevista:
UMA LOUCURA: Sou aventureira, mas tenho medo de altura; prefiro o chão, embaixo d’água. Ainda assim, me atirei de paraquedas. E acho que só me joguei daquele aviãozinho, com a traseira toda aberta, porque minha filha adolescente pulou antes de mim (Maria Marinho, do casamento com o empresário Paulo Marinho). E vendo a criatura cair no vazio, tive a impressão de que poderia salvá-la. Claro que não é assim que funciona, mas a cabeça da gente…. Maria amou a experiência, eu odiei.
UMA ROUBADA: Qualquer restaurante com televisão ligada. A gente fica magnetizada pela tela, e não conversa, não pensa, não vibra, só se anestesia com uma chatice visual e barulhenta escolhida por outro.
UMA IDEIA FIXA: A vida no campo, com animais, plantas orgânicas e muita água à minha volta.
UM PORRE: Eu fazia o programa “Extra Ordinários” no Sportv. O jogo anterior ao 7×1 foi no Rio. Nós, comentaristas do programa, fomos ao Maracanã, e dei pra beber — como se não houvesse amanhã — no camarote de onde deveria assistir à partida. Não me lembro quem jogava. Era domingo, e gravaríamos ao vivo, como sempre, naquela mesma noite. Fui direto do estádio para a gravação. O resultado está gravado para a posteridade.
UMA FRUSTRAÇÃO: Queria ser cantora — é a melhor profissão do mundo, uma baita liberdade. Se o Mick Jagger mostra o traseiro, o povo todo acha lindo e aplaude. Jagger é uma estrela radiante, ok, mas ser crooner já me agradaria, pra sentir aquelas maravilhas saindo da garganta. Canto em casa e inventei um coral de amigos que foi interrompido na pandemia. Vamos voltar.
UM APAGÃO: Fazia a primeira peça de minha autoria, “Achadas e Perdidas”, um baita sucesso, a plateia lotada em São José dos Campos. Esqueci o texto, meu texto: atriz e autora são entidades separadas! Busquei dentro, busquei, e nada. Minha companheira de cena fazia caretas pra me ajudar. Não vinha. Nervosíssima, saí de cena pros bastidores. A colega ficou lá segurando o rojão e explicando, “ela foi lá dentro olhar o texto. Se encontrar, não vai conseguir ler porque tá tudo escuro lá atrás. Nós podemos ficar aqui esperando um bocado de tempo…” Finalmente voltei, e disse: “Charlize você é feia” (era isso que a colega tentava me mostrar com as caras e bocas). Ela então, num momento de luz, retrucou: “Você demorou esse tempo todo pra me dizer isso?” O público veio abaixo e ainda achou que aquilo fazia parte da cena. Teatro é maravilhoso; no fim, sempre dá certo.
UMA SÍNDROME: Não tenho síndrome. Deus me livre! Sou uma buscadora, encontro, encaro, agarro pelos colarinhos e me livro desses perrengues antes que se transformem em síndrome.
UM MEDO: Os medos profundos, os fracassos, as vergonhas, as grandes escorregadas, tudo que a gente tranca a sete chaves é tema da peça “O Pior de Mim”. Nesse lugar escondido, você e eu somos iguais. As pessoas saem do teatro com vontade de bagunçar tudo, encarar e consertar. É o único jeito pra se livrar das questões.
UM DEFEITO: Sou intolerante: não aguento gente falando alto, áudio de celular, desatenção, desinteresse, justificativas pra tudo, mentiras pra justificar incompetência… A lista é enoooorme.
UM DESPRAZER: Olhar o mar do Rio de Janeiro, lindo como é, diversão para pobres e ricos igual, e saber que está cada dia mais imundo. Na Europa toda e em tantos países, o esgoto é tratado, e o mar é translúcido; as empresas tratam ou transformam em energia todo o lixo químico. Por que a gente não cuida do que temos de melhor??
UM INSUCESSO: Os do passado, mas estou bem viva e cheia de gás. Tenho décadas pra fazer de um jeito novo e melhor.
UM IMPULSO: Toda vez que chego a um país exótico, ou mesmo aqui pelo Brasil profundo, em pequenas vilas, no Pantanal, na Floresta Amazônica… Tenho o desejo profundo de ficar ali e nunca mais voltar.
UMA PARANOIA: Longe de mim, xô!
Serviço:
“O Pior de Mim”
De 8 a 30 de julho / Sáb, às 20h30. Dom, às 18h.
Teatro das Artes. (Rua Marquês de São Vicente, 52 – Shopping da Gávea, 2º Piso – Loja 264)